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Exploração predatória ameaça caatinga, lar do tatu-bola, mascote da Copa

No Rio de Janeiro

27/04/2013 16h44Atualizada em 04/05/2015 18h38

Único bioma exclusivamente brasileiro, a caatinga vê sua riqueza ambiental dilapidada pelo uso predatório dos recursos naturais, que ameaça espécies como o tatu-bola, mascote da Copa do Mundo de 2014.

O alerta foi feito por um especialista que há 15 anos estuda este ecossistema, às vésperas do Dia Nacional da Caatinga, comemorado neste domingo.

"A caatinga é o patinho feio dos biomas brasileiros. É o menos conhecido e recebe menor investimento público. Isto se deve à visão de que é um ecossistema pobre, quando, na verdade, é diverso e tem muitas espécies endêmicas" que só existem lá, explicou à AFP o engenheiro-agrônomo e doutor em Ecologia Marcelo Tabarelli, professor da Universidade Federal de Pernambuco.

Segundo dados oficiais, a caatinga se estende por 9 estados do nordeste brasileiro (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Sergipe) até o norte de Minas Gerais, no Sudeste do país. Ocupa 844.453 quilômetros quadrados, área superior aos territórios de França, Reino Unido e Suíça somados; e o bioma abriga 932 espécies de plantas, 178 de mamíferos, 591 de aves, 177 de répteis, 79 de anfíbios e 241 de peixes.

Segundo Tabarelli, algumas espécies foram extintas, como a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), e outras estão ameaçadas, como o tatu-bola (Tolypeutes tricinctos).

Na região vivem 27 milhões de pessoas e a grande maioria sobrevive de agropecuária de subsistência. Feijão e milho são os principais cultivos e na criação de animais predomina o rebanho caprino.

Uso inadequado do solo, consumo de lenha nativa em residências e indústrias e desmatamento para dar lugar à agropecuária são as principais agressões à caatinga. Consequentemente, 46% do bioma foram desmatados, segundo o Ministério do Meio Ambiente.

"Falta planejamento no uso dos recursos naturais da caatinga. A população depende deles, mas sem uso planejado, observa-se a repetição do círculo degradação do solo/pobreza", relatou Tabarelli, consultor do Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

Tabarelli criticou a falta de investimentos em pesquisas e de unidades de conservação integral na caatinga, que apesar de importantes para preservá-la, protegem apenas 1% do bioma.

"As ações (oficiais) têm sido pontuais, falta uma política de desenvolvimento sustentável", lamentou.

Para ele, são prioridades da região criar novas unidades de conservação, promover o ecoturismo e melhorar as atividades produtivas, com agropecuária sustentável substituindo o extrativismo (exploração do solo sem reposição dos nutrientes).

No Dia Nacional da Caatinga, celebrado este domingo, Tabarelli acredita ser possível salvar o bioma.

"Já se sabe como produzir de forma sustentável na caatinga, mas esta informação precisa chegar ao produtor. É preciso investir em educação, em transferência tecnológica. O problema não é o gargalo tecnológico, mas a vontade política", concluiu.