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Vozes femininas disputam espaço na Rio+20

Participantes de conferência lamentaram a supressão do direito reprodutivo no rascunho do documento da Rio+20 - UN Women
Participantes de conferência lamentaram a supressão do direito reprodutivo no rascunho do documento da Rio+20 Imagem: UN Women

20/06/2012 08h52

"Se alguém acha que somos invisíveis, está na hora de comprar um novo óculos", afirmou a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, a uma plateia de ampla maioria feminina na Rio+20, no encerramento de um fórum da ONU Mulheres.

Cerca de 200 eventos dedicados aos direitos da mulher estão sendo realizados em paralelo à Rio+20, estima Teixeira, ressaltando a importância de a agenda do desenvolvimento sustentável envolver a mulher.

Na terça-feira, enquanto negociadores se decidiam pelos últimos colchetes e adjetivos no documento que começa a ser debatido por chefes de Estado nesta quarta, na Conferência da ONU para o Desenvolvimento Sustentável, um fórum promovido pela ONU Mulheres se reunia para lutar por avanços na igualdade de gêneros.

A mesma reivindicação motiva uma série de eventos paralelos à Rio+20, com reuniões de grupos de defesa aos direitos da mulher na Cúpula dos Povos, organizado pela sociedade civil, e no Humanidade 2012, no Forte de Copacabana.

Na segunda-feira, uma manifestação com representantes de movimentos feministas reuniu cerca de 5 mil pessoas no Centro do Rio na segunda-feira.

Direito reprodutivo

O fato de todos esses eventos estarem acontecendo denuncia que a desigualdade ainda é muito grande, considera Nilceia Freire, ex-secretária de Políticas para Mulheres e representante da Fundação Ford no Rio de Janeiro.

"Isso evidencia que, apesar dos avanços, as mulheres ainda precisam dizer a todo momento: 'estamos aqui'. Porque de fato ainda há uma questão central que ainda não foi resolvida, que é a do poder. Como ninguém quer abrir mão do poder, as mulheres têm que continuar forçando a porta", afirma ela.

  • Bachelet (acima, em evento da Rio+20) se reunirá com presidentes e premiês globais


Apesar dos esforços para influenciar as negociações da Conferência da ONU para o Desenvolvimento Sustentável, as organizações reunidas ontem no fórum tiveram um baque.

Divulgado na tarde de terça-feira, o documento que será apresentado aos chefes de Estado - que iniciam as negociações de alto nível nesta quarta - suprimiu a menção à proteção ao direito reprodutivo das mulheres, que constava do rascunho incial.

"Estamos muito tristes com o resultado da conferência", diz Lydia Alpízar Durán, da Associação para os Direitos da Mulher e o Desenvolvimento (Awid).

"Tivemos muito trabalho aqui para fazer pressão para que os governos reiterassem acordos já firmados e fossem além deles. Mas algumas questões muito importantes para as mulheres não foram incluídas", lamenta.

As organizações defendiam uma afirmação do direito das mulheres à escolha sobre a reprodução, com acesso a serviços de saúde e educação sexual.

"Isso tem uma vinculação clara com a questão ambiental, porque muitas políticas de proteção ambiental passam pelo controle populacional e as mulheres são o objeto dessas políticas", aponta Lygia.

"Consideramos que as mulheres têm que ter direito a fazer escolhas reprodutivas", defende ela, argumentando que fatores como os padrões de consumo e produção também têm que ser considerados na conta da degradação ambiental.

'Recuo'

Guacira César de Oliveira, integrante da Articulação de Mulheres Brasileiras, fez uma ponte entre a Cúpula dos Povos, organizado pela sociedade civil, e a Rio+20, no Riocentro.

Ela levou para o fórum da ONU Mulheres a carta produzida pelas organizações feministas e de mulheres reunidas no primeiro evento, que acontece do outro lado da cidade, no Aterro do Flamengo.

O documento condena o que considera um recuo dos compromissos assumidos na Rio-92, quando se concordou que o desenvolvimento sustentável não pode ser alcançado sem igualdade de gênero.

"Na carta denunciamos a fragilização dos direitos humanos e da mulher", afirma Guacira.

"De toda maneira, vamos tentar ter voz", diz ela, que transmitiu a mensagem da Cúpula dos Povos a Michelle Bachelet, diretora-executiva da ONU Mulheres, no encerramento do fórum.

A mensagem que sai do fórum da ONU Mulheres, por sua vez, chegará às chefes de Estado que estiverem no Riocentro na quinta-feira.

Na chamada Cúpula de Mulheres Chefes de Estado pelo Futuro que as Mulheres Querem, Bachelet se reunirá com as presidentes e primeiras-ministras presentes na Rio+20 para fazer um chamado a ações pela integração das mulheres no desenvolvimento sustentável.

Além da presidente Dilma Rousseff, as presenças das líderes da Argentina, Dinamarca, Costa Rica, Lituânia, Libéria e Trinidad e Tobago estão confirmadas no encontro, onde Bachelet apresentará às demais um documento formulado pelo fórum de mulheres.