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Europa diz que estudo que relaciona transgênico a câncer é insuficiente e pede mais provas

Chances de tumor nos ratos que comeram transgênicos foram de duas a três vezes maior aos demais animais - Criigen/AFP
Chances de tumor nos ratos que comeram transgênicos foram de duas a três vezes maior aos demais animais Imagem: Criigen/AFP

De Bruxelas

04/10/2012 12h49

A Autoridade Europeia de Segurança dos Alimentos (EFSA, na sigla em inglês) considerou insuficiente o estudo sobre a toxicidade dos alimentos transgênicos do cientista francês Gilles-Eric Seralini e pediu mais informações para que possa adotar uma posição sobre o tema.  "Sem mais elementos, será pouco provável que o estudo se torne confiável, válido e de boa qualidade", afirmou a entidade em comunicado.

O estudo de Seralini demonstra que ratos alimentados com produtos da Monsanto (milho transgênico tratado com herbicida) sofrem tumores cancerígenos e morrem mais cedo. A EFSA pediu que cientista francês dê mais informações antes que volte a avaliar o estudo pela segunda e última vez - o prazo acaba no fim deste mês.

A Associação Francesa de Biotecnologias Vegetais, favorável aos transgênicos, reagiu à publicação do estudo, assegurando que até agora nenhuma pesquisa revelou efeitos tóxicos em animais. Mas, no final de setembro, o primeiro-ministro francês Jean-Marc Ayrault declarou ter enviado o estudo à EFSA e que, se o perigo dos alimentos geneticamente modificados fosse comprovado, a França defenderia a interdição dos produtos para todos os países da Europa.

A Rússia teve uma resposta mais enérgica que a França e decidiu suspender a importação do milho transgênico da multinacional logo após a divulgação dos resultados no mês passado. A agência de proteção ao consumidor, a Rospotrebnadzor, informou que pediu a um instituto russo a interpretação dos dados do estudo e que, até receber mais informações, a importação e a comercialização do milho geneticamente modificado NK603 estão suspensas em todo o país.

Entenda a pesquisa

A publicação do estudo na revista Food and Chemical Toxicology causou polêmica, principalmente ao mostrar tumores do tamanho de bolas de pingue-pongue em ratos alimentados com milho transgênico da Monsanto importado para a Europa. Até agora, as empresas limitaram os estudos dos efeitos dos transgênicos durante 90 dias, mas Gilles se baseou em dados obtidos em um bem prazo maior de observação.

O estudo de dois anos mostrou que ratos alimentados com alimentos geneticamente modificados morrem antes e sofrem de câncer com mais frequência do que os demais roedores. Para fazer a pesquisa, 200 ratos foram divididos em grupos e alimentados de maneiras diferentes. Eles seguiram proporções equivalentes ao regime alimentar nos Estados Unidos. O primeiro grupo teve 11% de sua dieta composta pelo milho OGM NK603; o segundo comeu também 11% do milho OGM NK603 tratado com Roundup, o herbicida mais usado no mundo; e o terceiro foi alimentado com milho não alterado geneticamente, mas bebia água que tinha as mesmas doses de Roundup usadas nas plantações.

O milho transgênico (NK603) e o herbicida são produtos do grupo americano Monsanto, comercializados em vários países. No Brasil, amostras foram aprovadas em setembro de 2008 pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia e, no começo de 2009, o Ministério da Agricultura aprovou o registro de doze híbridos de milho com a tecnologia Roundup. O certificado de biossegurança foi aprovado pela comissão em novembro de 2010, por fim.

Os tumores apareceram na pele e nos rins dos machos até 600 dias antes dos ratos do grupo de controle, segundo a pesquisa. No caso das fêmeas, os tumores nas glândulas mamárias apareceram, em média, 94 dias antes no grupo alimentado com milho geneticamente modificado. Os pesquisadores descobriram que 93% dos tumores das fêmeas são mamários, já a maioria dos machos morreu por problemas hepáticos ou renais.

"Os resultados são alarmantes. Observamos, por exemplo, uma mortalidade duas ou três vezes maior entre as fêmeas tratadas com OGM [transgênicos]. Há entre duas e três vezes mais tumores nos ratos tratados dos dois sexos", explicou Gilles-Eric Seralini, professor da Universidade de Caen, que coordenou o estudo.