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Ministro defende teste em animais e diz que 'resgate' de beagles é crime

Fernanda Calgaro

Do UOL, em Brasília

23/10/2013 11h23

O ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antonio Raupp, defendeu nesta quarta-feira (23) o uso de animais em testes científicos e chamou de "crime" o resgate dos cães da raça beagle na semana passada.

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"Existe legislação, existe licenciamento e existe fiscalização. (...) Essa invasão é um crime, foi feita à revelia da lei", afirmou pouco antes de participar de uma audiência na Câmara dos Deputados sobre inovação tecnológica.

Raupp disse que o Instituto Royal, onde os cães eram usados em testes de produtos para farmacêuticas, "está perfeitamente dentro dos parâmetros legais".

"Então, não há por que se agir à revelia da lei. Senão, de que se adianta fazer leis?", questiona o ministro.

Na última sexta-feira (18), cerca de cem ativistas invadiram e resgataram quase 200 cachorros do instituto, que fica em São Roque (a 66 km de São Paulo), em protesto ao uso dos cães da raça em experimentos.

Raupp sustentou que o Concea (Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal), ligado ao ministério, já havia vistoriado o Instituto Royal, de São Roque, sem constatar problemas.  

Ele também rejeitou o argumento de que outros países já aboliram os testes científicos em animais. "Essa informação é totalmente falsa. "

A Câmara anunciou nesta terça-feira (22) a instalação de uma comissão externa para acompanhar as investigações sobre a invasão do Instituto Royal - a empresa está credenciada como Oscip (Organização de Sociedade Civil de Interesse Público) no Concea (Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal), órgão ligado ao ministério.

 

O que a polícia investiga

Invasão e furtoMaus-tratos
Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), cerca de 80 pessoas entraram no Instituto Royal, destruíram o local, levaram cães e equipamentos eletrônicos.

Ativistas serão ouvidos pela polícia e podem ser indiciados pelo crime de furto qualificado
As denúncias de que os animais eram vítimas de maus-tratos no instituto também serão investigadas.

Uma perícia foi realizada no local. De acordo com a SSP, representantes da empresa serão convocados para prestar depoimento

Debate sobre lei já "passou"

 O ministro disse ainda que a necessidade da experimentação animal é justificada e que o momento de se discutir a legislação sobre o assunto já "passou".

"Quando se discutiu a legislação, se discutiu também a necessidade com a comunidade científica de se fazer testes, especialmente, em relação a novos medicamentos, e chegou-se à conclusão que era absolutamente necessário continuar com os testes em animais", afirmou. "Em todo o mundo é assim, não só no Brasil."

"Prefiro acreditar nos cientistas e na área médica de que esses animais são necessários do que ficar acreditando nos ativistas. Ativistas têm opinião de todo tipo, mas o momento de se discutir [a legislação] passou", concluiu.

O deputado Ricardo Tripoli (PSDB-SP), integrante da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara, quer que o governo mostre alternativas à experimentação animal.

"Temos pareceres de cientistas que dizem exatamente o contrário do que o ministro afirmou. Espero que ele se manifeste sobre os experimentos científicos realizados nesse instituto. É função do Ministério da Ciência e Tecnologia informar se existe ou não alternativas [aos testes com animais]", argumentou o parlamentar.

(Com informações da Agência Câmara)