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Janelas para o Universo: 20 sondas exploram imagens e sons do espaço

Ilustração mostra sonda Osiris-Rex, da Nasa, próxima ao asteroide Bennu - Conceptual Image Lab/Goddard Space Flight Center/NASA via AP
Ilustração mostra sonda Osiris-Rex, da Nasa, próxima ao asteroide Bennu Imagem: Conceptual Image Lab/Goddard Space Flight Center/NASA via AP

Deborah Giannini

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/11/2017 04h00

A desintegração da sonda Cassini na atmosfera de Saturno em setembro não deixou órfãos amantes da observação do céu. No momento, há ao menos 20 sondas espaciais em atividade no Sistema Solar, fazendo imagens e capturando sons de nosso Universo.

Só em Marte, há oito sondas, entre elas a Curiosity. Há ainda três na Lua, uma em Vênus, duas no Sol, uma em Júpiter, e outras três em asteroides e mais três fora do Sistema Solar. 

Na lista de instrumentos norte-americanos, europeus, chineses, japoneses e indianos, destacam-se Juno, Curiosity, New Horizons, Voyager 1, Dawn, LRO e SoHo.

“Essas sondas foram lançadas há relativamente pouco tempo e estão trazendo resultados importantes para a exploração do sistema solar. A Voyager, com mais de 40 anos de viagem, é o instrumento feito por humanos que está mais longe da Terra: 130 vezes a distância da Terra ao Sol”, explica o astrônomo Roberto Costa, professor do IAG (Instituto de Astronomia e Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP.

Até fevereiro de 2018, Juno deve dar 37 voltas em torno de Júpiter - Nasa/Caltech - Nasa/Caltech
Até fevereiro de 2018, Juno deve dar 37 voltas em torno de Júpiter
Imagem: Nasa/Caltech

Um olho em Júpiter

Após entrar na órbita de Júpiter no ano passado, Juno forneceu dados e imagens que surpreenderam os cientistas, como a existência de um poderoso campo magnético e de regiões polares turbulentas. Registrou imagens impressionantes da Grande Mancha Vermelha, tempestade com diâmetro maior que a Terra sobre o Hemisfério Sul de Júpiter, ao passar por ela a apenas 9.000 km de distância.

“É um fenômeno atmosférico análogo a um furacão na Terra, mas que está ali há quase 400 anos. Foi relatado pela primeira vez por Galileu Galilei no século 17”, explica Costa.

Fotos da Grande Mancha Vermelha de Júpiter feitas pela sonda Juno foram divulgadas em 2017 - Nasa/AFP - Nasa/AFP
Fotos da Grande Mancha Vermelha de Júpiter feitas pela sonda Juno foram divulgadas em 2017
Imagem: Nasa/AFP

O físico Ademir Xavier, da Estação Espacial Brasileira, também ressalta os detalhes da atmosfera de Júpiter revelados pela sonda Juno. “Uma verdadeira floresta de formações atmosféricas. Trata-se de um espetáculo que merece ser observado”, afirma.

Com grande massa, que corresponde à massa de todos os planetas somados, Júpiter mantém sua composição original. Desvendar sua estrutura e formação contribuirá para entender melhor a história do Sistema Solar. Até o fim da missão, prevista para fevereiro de 2018, estima-se que Juno complete 37 voltas ao redor do planeta e traga ainda mais novidades.

A Voyager 1 foi lançada em 1977, e foi a primeira a fazer imagens de Júpiter - Nasa/JPL-Caltech - Nasa/JPL-Caltech
A Voyager 1 foi lançada em 1977, e foi a primeira a fazer imagens de Júpiter
Imagem: Nasa/JPL-Caltech

Perdidos no espaço

A pioneira em trazer imagens de Júpiter à Terra foi a Voyager 1. Lançada em 1977, tem importância científica e histórica. Descobriu os anéis dos demais planetas gasosos, além de Saturno, que são Júpiter, Urano e Netuno, e estudou o Sistema Solar externo pela primeira vez.

“A Voyager 1 passou a heliopausa, uma fronteira que marca o final da influência do Sol. A existência do Sol gera uma espécie de ‘bolha’ interestelar que define as características, a densidade, o material, a composição do meio interplanetário. Mas a partir de uma certa distância do Sol essa influência cessa”, explica o astrônomo.

Em 1980, a Voyager 1 encerrou sua missão, mas não suas atividades. Viajando sem rumo pelo espaço interestelar, ela continua emitindo sinais de rádio para a Terra.

Está tão longe que os sinais levam 13 horas para chegar. Os sinais da Cassini, por exemplo, levavam 83 minutos.”

Roberto Costa, astrônomo

Diferentemente da Cassini, optou-se por não incinerar a Voyager 1, ou seja, jogá-la contra a atmosfera de um planeta para que fosse queimada pelo atrito, pois como está no meio interestelar, onde não há nada no caminho, não existe risco de contaminação biológica, conforme explica o astrônomo.

“Toda sonda tem algum tipo de contaminação biológica, fungos que são impossíveis de eliminar. Então sempre que uma nave possa chegar em um ambiente em que exista atividade biológica elas são incineradas”, afirma. Lembrando que a Voyager 1 carrega um disco com imagens e sons de diversas culturas da Terra com o objetivo de estabelecer comunicação extraterrestre.

Outra sonda que está fazendo “hora extra” é a New Horizons. Ela passou por Plutão em 2015 e, como ainda apresentava combustível, foi redirecionada para um novo corpo chamado 2014 MU69, localizado no Cinturão de Kuiper, onde deve chegar em 10 de janeiro de 2019.

A New Horizons trouxe resultados “absolutamente fantásticos” sobre Plutão, na opinião do professor. “Não se sabia nada a respeito de Plutão desde sua descoberta em 1930. Tudo que se sabe hoje foi obtido somente neste sobrevoo de 14 de julho de 2015”, diz. Alguns exemplos são a existência de cadeias de montanhas de gelo, uma extensa atmosfera de nitrogênio e um belíssimo céu azul.

A sonda Curiosity fez uma "selfie" na Cratera de Gale, em Marte - JPL-Caltech/MSSS/Nasa - JPL-Caltech/MSSS/Nasa
A sonda Curiosity fez uma "selfie" na Cratera de Gale, em Marte
Imagem: JPL-Caltech/MSSS/Nasa

Selfie em Marte

Uma das imagens mais famosas obtidas por meio de sondas espaciais é a selfie realizada pelo Curiosity em 2016 nas dunas de Marte. O veículo-robô, que está há cinco anos em solo marciano, foi projetado para avaliar se o planeta já foi capaz de abrigar vida.

“O sonho dos operadores do Curiosity é acharem fósseis. Até agora não encontraram. A descoberta de vida fora da Terra, quando acontecer, e eu não tenho dúvidas de que vai acontecer, vai ser revolucionária para a ciência, filosofia e até religião. Não estou falando de inteligência extraterrestre. Muito provavelmente será mais fácil encontrar algas e bactérias”, afirma o astrônomo. A missão do Curiosity vai até outubro de 2018.

Não apenas planetas

Entre as sondas que exploram o Sol, a Lua e os asteroides, os especialistas ressaltam a SoHo (NASA/ESA), LRO (NASA) e Dawn (NASA), respectivamente. “Localizada em um ponto de Lagrange [pontos especiais em um sistema orbital], a Soho fornece inúmeras imagens multiespectrais do Sol, o que é relevante para estudos de clima espacial e da dinâmica solar, com consequência direta para o clima na Terra”, afirma Xavier.

Já a LRO (sigla para Lunar Reconnaissance Orbiter) chama a atenção pelas imagens de alta resolução da Lua, que inclusive mostram o local de pouso das Apollo 12, 14 e 17 e as pegadas dos astronautas. Segundo o tecnologista da Estação Espacial Brasileira a sonda Chang'e 5-T1, da Agência Espacial Chinesa (CNSA) também merece ser citada. “Essa missão recuperou esforços na pesquisa lunar, algo abandonado depois da missão Apollo”, afirma.

Crateras brilhantes de Ceres foram fotografadas pela missão Dawn - NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA - NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA
Crateras brilhantes de Ceres foram fotografadas pela missão Dawn
Imagem: NASA/JPL-Caltech/UCLA/MPS/DLR/IDA

O físico menciona a sonda Dawn, entre as que estudam asteroides, “por estar esclarecendo mistérios de Ceres em relação às características de sua superfície”.

O Brasil participa da elaboração da missão ASTER, em pareceria com a Rússia, para exploração do asteroide triplo 2001 SN263, com importância na dinâmica do sistema solar.

“O projeto também prevê o teste de motores iônicos desenvolvidos no Brasil, que são de considerável interesse tecnológico no desenvolvimento de sistemas de propulsão auxiliar mais eficientes e de grande valor na indústria aeroespacial, além de câmeras brasileiras para tirar imagens desse sistema triplo de asteroides”, explica.

A previsão de realização é para 2018/2019, de acordo com a AEB.