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Brotos e flores de 110 milhões de anos são descobertos no Maranhão

Rafael Lindoso
Imagem: Rafael Lindoso

Aliny Gama

Em Maceió

26/02/2018 04h00

Brotos e flores fossilizados foram descobertos durante escavação de uma pedreira de calcário, no município de Brejo (MA), na bacia do Parnaíba, região rica em fósseis do Cretáceo inferior. Os vegetais fossilizados têm, no mínimo, 110 milhões de anos.

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Vegetais pré-históricos estão encravados em rochas de calcário em pedreira
Imagem: Rafael Lindoso
O achado faz parte da pesquisa do biólogo e paleontólogo do IFMA (Instituto Federal do Maranhão), Rafael Lindoso, que estuda a área desde 2010. O artigo será publicado em março na próxima revista científica "Brazilian  Journal of Geology" e faz parte do pós-doutorado de Lindoso.

As plantas pré-históricas são herbáceas que mediam entre 30 cm e 50 cm e continham caule macio. “Pela primeira vez, conseguimos reunir todos os componentes morfológicos de uma só vez identificados.”

O material está fixado em pedras que compõe uma pedreira, localizada em uma área particular. O nome da fazenda não foi divulgado por questão de segurança --pesquisadores temem que haja uma corrida ao local para extração dos fósseis para venda no mercado negro.

“Como é uma área particular, é difícil criar uma área de proteção para que o material não se perca e continue em estudo. O dono da fazenda vem colaborando dando apoio logístico para que realizemos os estudos no local", conta.

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Lindoso começou a pesquisar a área em 2010 com a descoberta de camarões fossilizados. Depois, encontrou outros animais marinhos e lagunares, como peixes e moluscos. Agora, os vegetais pré-históricos.

Segundo o pesquisador, as rochas de calcário com os fósseis estão em contexto de um ecossistema aquático estimado de 110 milhões de anos, entretanto, no período de dezenas de milhares de anos o mar descia e subia na área.

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Flores e brotos são da época cretácea e mostram que viviam em ambiente marinho e lagunar entre a América do Sul e Estados Unidos
Imagem: Rafael Lindoso


“O momento em que interpreto é a elevação do nível do mar, que interagia com a água doce, por meio de pontes de terra que ligavam a América do Sul com os Estados Unidos. Isso preservou organismos marinhos e de água doce”, explica.

Os brotos são de araucárias, que são características de regiões frias, mas se adaptaram ao clima da época que era quente. Atualmente, a região predominante no local é de Cerrado e Caatinga.

Segundo o pesquisador, o achado tem uma semelhança da flora da época com a sudeste do Estados Unidos e isso sugere que mesmo com a elevação marinha existia pontes de terra ligando essa região da América do Sul com o sul dos Estados Unidos.

Na época, esses vegetais eram uma flora diferente da atuação, como pinheiros e araucárias, que dominaram a região em altas latitudes. O clima do Maranhão, nessa época, era extremamente seco e essas plantas estavam adaptadas à condição climática da época.”

Há algum tempo, a Petrobras fez a datação de todas as camadas de rochas disponíveis na área para análise de produção de biogás. Assim, com as áreas mapeadas, a formação de pacote de rochas de calcários e lama petrificada foram identificadas. Desta forma, a pesquisa teve a datação dos brotos pré-históricos facilmente identificada.

A coleta sistemática ocorreu com pesquisas entre o IFMA, UFMA (Universidade Federal do Maranhão) e UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Novas pesquisas estão previstas para acontecer em julho, período que inicia a estiagem no Maranhão.