Um grupo de ambientalistas se reúne hoje (18) no Clube Espéria, que fica às margens do Rio Tietê, a partir das 19h30, para discutir o projeto de ampliação da Marginal.
-
Na madrugada de terça para quarta, operário corta falsa figueira, para o início das obras de ampliação da Marginal
-
Veja como deve ficar a Marginal Tietê com as novas pistas
Organizado pelo coletivo Ecologia Urbana, o encontro deve juntar grupos com interesses distintos, como entidades representantes de arquitetos (Instituto dos Arquitetos do Brasil), a União de Defesa da Moradia, a torcida Gaviões da Fiel (que pode perder a sede com a obra) e outras organizações não governamentais. Mas o tom geral é de crítica ao projeto.
"O que a gente questiona é o modelo de obra viária. São elefantes brancos bilionários, que ou são instrumentos de retribuição a empreiteiras que financiam campanhas ou, em casos de boa fé, ignorância dos governantes em relação ao problema", afirma Rafael Poço, organizador do debate.
Para André Delfino, militante do Movimento de Defesa dos Favelados, a maior preocupação é com o que ocorrerá com as famílias que habitam próximo à Marginal e que devem ser removidas. Para ele, o projeto não diz claramente o que ocorrerá com elas. "É preciso conjugar o investimento. Se há investimento para a fluidez do trânsito, tem que pensar também no atendimento habitacional", afirma. Caso contrário, argumenta, as famílias removidas acabarão indo para novas favelas, possivelmente ocupando novas áreas de manancial.
O início das obras da nova marginal foi anunciado no último dia 4 de junho, pelo governo José Serra (PSDB) e pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM). O projeto prevê a ampliação de 23 quilômetros de pistas de cada lado, criando três novas faixas para circulação de carros, com o objetivo de reduzir os engarrafamentos na via.
Segundo o governo, a marginal Tietê apresenta filas de congestionamento de 30 km, em média, nos períodos de pico. Isso representa 25% do total de congestionamento medido na cidade de São Paulo e significa um desperdício de combustível de 1,5 milhão de litros/ano. O projeto está orçado em R$ 1,3 bilhão.
Ampliação da Marginal
Alguns argumentos a favor | Alguns argumentos contrários |
Redução dos congestionamentos | Rodoanel é a obra pensada para resolver o problema |
Economia de tempo e de combustível | Projeto privilegia o carro em vez do transporte coletivo |
Projeto prevê compensações ambientais | Obra dificulta ainda mais a reintegração do rio à cidade |
Criação de 2.000 empregos diretos e 6.000 indiretos | Aumento da impermeabilização do solo pode gerar novas enchentes |
O governo também contabiliza como benefício indireto da obra a criação de 2.000 empregos diretos e 6.000 indiretos. No dia do lançamento do projeto, Serra afirmou que a ampliação da marginal "é uma obra que está tendo todo o cuidado ecológico, o que não é tradição em São Paulo, pois as obras e a devastação andavam de mãos dadas, mas isso acabou nos tempos atuais", disse. O projeto foi aprovado pelos órgãos ambientais do Estado e da prefeitura.
A obra prevê o plantio de 83 mil árvores como política de compensação ambiental, entre outras medidas.
Segundo artigo publicado no jornal O Estado de S.Paulo pelo arquiteto Jorge Wilheim, que foi secretário de governos estaduais e municipais de São Paulo, a obra resultará na perda de 116.235 mudas. Wilheim é contra o projeto em parte porque acredita que a região em que ocorrerá a ampliação, "a de mais alta temperatura do solo, será desprovida do que restava de vegetação, e esse fundo de vale não contará mais com sua pequena área permeável contígua".
Um dos argumentos usados pelos críticos da obra é a de duplicidade da obra com o Rodoanel. Para Poço, a ampliação da Marginal vai perder o sentido quando o Rodoanel for concluído.
A mesma posição é defendida por Saide Kahtouni, presidente da Associação Brasileira de Arquitetura e Paisagismo. Saide afirma que estudos apontam que 50% do tráfego da marginal é de veículos que passam pela cidade - e que poderão deixar de fazê-lo quando as obras do Rodoanel forem concluídas. Aí, seria hora de pensar em diminuir o número de pistas da Marginal, não de aumentá-las.
Kahtouni fez circular nesta terça-feira (16) na internet um texto que critica o projeto de criação de novas pistas. "O projeto de construção de mais pistas, ocupando os já exíguos espaços remanescentes junto ao rio Tietê, representa, neste momento, uma posição anacrônica em relação aos projetos urbanísticos e processos de gestão urbanos mais avançados do mundo. Significa a mera continuidade de políticas urbanas já ultrapassadas, que subordinam a paisagem urbana a uma suposta funcionalidade, exercendo a função de mero suporte para a circulação de veículos e suas engenharias", escreveu. Há também um abaixo-assinado contra a obra, liderado pelo grupo de trabalho Patrimônio Histórico do Instituto dos Arquitetos do Brasil - seção São Paulo. O site do IAB-SP registra pouco mais de 70 assinaturas contra a ampliação.
As obras já estão em andamento. Nesta madrugada, por exemplo,
foram bloqueadas para ações da fase inicial dos trabalhos, como derrubada e remoção de árvores, a pista expressa entre as pontes da Vila Guilherme e Vila Maria, sentido Ayrton Senna, e a pista local em dois pontos, 600 metros antes da ponte da Vila Maria e 50 m depois da ponte do Piqueri, também no sentido Ayrton Senna. Algumas árvores já foram derrubadas, entre elas algumas grandes figueiras. A previsão é que uma primeira fase da ampliação seja entregue já em 2010.
O
UOL Notícias procurou na quarta-feira (17) a estatal Dersa, responsável pela obra, para tratar das questões ambientais do projeto. Segundo a assessoria de comunicação, não era possível atender à reportagem porque a empresa estava preparando uma audiência pública que ocorre nesta quinta-feira sobre o trecho leste do Rodoanel.