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Após 26 anos de sumiço misterioso, pai retoma buscas por escoteiro em São Paulo

Pai do escoteiro desaparecido há 26 anos, o jornalista Ivo Simon quer criar um blog sobre o caso - Shin Shikuma/UOL
Pai do escoteiro desaparecido há 26 anos, o jornalista Ivo Simon quer criar um blog sobre o caso Imagem: Shin Shikuma/UOL

Arthur Guimarães<br>Do UOL Notícias<br>Em São Paulo

28/06/2011 08h00

As caixas guardadas em um quarto estão abarrotadas de recortes de jornais que não são mais vendidos nas bancas. No inquérito do caso, encadernado para preservar cada uma das 400 páginas das investigações, os policiais que assinam os laudos já se aposentaram ou morreram.

Até os cartazes de “procura-se”, acondicionados como lembrança pela família, estão ficando desbotados. Nenhuma marca do tempo, no entanto, parece esmorecer a esperança do jornalista Ivo Simon, pai de Marco Aurélio Simon – escoteiro que desapareceu em 1985 durante uma excursão ao Pico dos Marins, em São Paulo, quando tinha 15 anos.

Neste mês de junho, aniversário de 26 anos do sumiço, Ivo decidiu deixar o conformismo de lado e, aos 71 anos de idade, dar um novo fôlego às buscas. Após mais de 20 anos do arquivamento do inquérito, ele anunciou que contratará um perito para, novamente, esmiuçar o episódio.

Alheio aos conselhos que o orientam a "esquecer o assunto", o pai também começou a montar um roteiro de cinema sobre a história – e está abrindo um blog, como forma de eternizar os dados sobre este que foi um dos mais falados casos policiais da década de 80. “Eu daqui a pouco vou morrer. Mas não vou deixar o assunto morrer”, afirma Ivo.

Sem provas ou pistas

A inquietação do jornalista tem motivo: até hoje, não existe sequer uma explicação coerente para o desaparecimento de seu filho. “O que pode ter acontecido? Eu não sei. A única coisa que eu sei é que a gente não sabe nada”, disse o jornalista, que lê e relê o inquérito do caso anualmente.

Na época do sumiço, foram mais de 300 homens, entre bombeiros, alpinistas e policiais, envolvidos nos trabalhos de busca no Pico dos Marins, que duraram cerca de um mês.

Todos os rios da região foram percorridos. Cartazes foram afixados em mais de 20 cidades. “Não encontraram o corpo até hoje. Não encontraram sequer um fio de cabelo. Nem uma blusa, uma fivela do cinto, uma faca. Nada”, relembra Ivo.

Até religiosos e videntes foram consultados. “Fomos falar até com o Chico Xavier. Mas ele não conseguiu contato. Disse que só conversava com desencarnados”, lembra Ivo, citando mais um motivo de sua inquietação.

Inúmeras pessoas entraram em contato com a família, relatando terem visto o garoto – identificação possível graças a uma foto do irmão gêmeo do escoteiro, que sempre é divulgada pela família. Em todos os casos, no entanto, o alerta foi em vão. “A gente sempre vai até o lugar. Mas descobre que é mentira.”

Hipóteses para o desaparecimento não faltam. Para alguns, alienígenas levaram o jovem. Para outros, uma seita chamada Borboleta Azul sequestrou o menino. Especulou-se até que um animal, como uma onça, poderia ter devorado o escoteiro.

Oficialmente, o caso foi arquivado por suspeita de que Marco Aurélio teria fugido. “Por que ele iria fugir no meio do mato, se caminhava sozinho até a escola todo dia?”, questiona Ivo, apontando apenas uma das  fragilidades que vê nas investigações policiais.

Desde a época do sumiço, suspeitas recaem também sobre o guia da excursão, o escoteiro Juan Bernabeu Céspedes. Foi ele o último a ter contato com o jovem. Como consta no inquérito, Céspedes optou por enviar Marco Aurélio, sozinho, para buscar ajuda após um dos outros três escoteiros do grupo ter torcido o tornozelo.

Na tarde daquele 8 de junho de 1985, o líder chegou a acompanhar o filho de Ivo até certo ponto da descida, deixando os demais aventureiros para trás. “É muito estranho. Como um adulto decide mandar um adolescente andar no mato sozinho? Por que acompanhar meu filho até certo ponto? Como uma pessoa separa um grupo assim? No mínimo, é negligência”, afirma o pai.

A polícia chegou a investigar se havia uma possível motivação sexual no desaparecimento do jovem. Depoimentos de delegados, apensados ao inquérito, apontavam que o guia poderia ter abusado do garoto - e, depois, o matado.

Juan Bernabeu Céspedes foi procurado pelo UOL Notícias em sua residência em Manaus, no Amazonas. A mulher que atendeu o telefonema na residência, apresentando-se como a “mulher e advogada” dele, negou-se a conceder entrevista sobre o caso – e afastou qualquer possibilidade de intermediar um contato com o guia.

De toda forma, mesmo com as suspeitas, e tendo consciência de que Céspedes era o responsável pelo seu filho no momento do sumiço, o pai de Marco Aurélio evita acusações formais.

Entre as alegações que usa para abrandar as insinuações contra o líder dos escoteiros, ele cita o fato de que o homem não teria condições de apagar todos os rastros de um possível crime. "E fica a pergunta: como um leigo teria escondido o corpo de toda a equipe de busca? Não seria possível. Para mim, tudo continua um grande mistério", complementa Simon.