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Jovem fica gravemente ferido em confronto em Pinheirinho; há mais vítimas

Rodrigo Machado

Do UOL, em São José dos Campos (SP)

22/01/2012 11h40Atualizada em 22/01/2012 17h12

Pelo menos uma pessoa foi gravemente ferida durante confronto entre moradores do acampamento do Pinheirinho, em São José dos Campos, no interior de São Paulo, e a Polícia Militar, que tenta cumprir ordem de reintegração de posse da área. A informação foi confirmada pela Prefeitura da cidade.

O rapaz foi levado para o Hospital Municipal, e segundo a Secretaria de Saúde, passou por cirurgia e não corre risco de vida. Há pelo menos outros três feridos com bala de borracha e um agredido, que também foram levados para atendimento médico

Em entrevista coletiva, o Capitão Antero da PM, negou que o tiro tenha sido disparado por policiais militares. Ainda de acordo com a PM, eles não estão usando armas letais, apenas gás lacrimogêneo, bomba de efeito moral e bala de borracha.

A operação começou às 6h30 e, às 10h, a Tropa de choque da PM mantinha o local fechado. A polícia também avança em bairros vizinhos, como o Campo dos Alemães, para que os moradores recuem. O clima é de tensão, moradores resistem a deixar o local, apesar de 30% do Pinheirinho já ter sido desocupado, segundo fontes oficiais.

A moradora Alexandra Monteiro, 29 anos, dona de casa, diz que estava em casa quando a ocupação começou: "Eu estava dentro da casa com meu irmão. A polícia começou a soltar bombas e quando eu quis sair de casa, a tropa de choque mandou a gente voltar pra dentro". Segundo ela, o início da reintegração foi violento, principalmente pela presença de crianças em Pinheirinho.

 

  • Moradora retirada de ocupação dá depoimento

Nivaldo Melo, 42 anos, está 'preso' dentro de casa. "Aqui dentro está uma bagunça só. A polícia não deixa a gente sair de casa, e quem ela permite está saindo com RG nas mãos e só a roupa do corpo", conta.

 

O principal embate se dá de 2 a 5 quadras do acampamento, onde os moradores continuam enfrentando a polícia.

Desde 2004, cerca de 1.600 famílias vivem no terreno de mais de 1 milhão de metros quadrados, que pertence à massa falida da empresa Selecta S/A, do investidor libanês Naji Nahas. Cerca de 1,5 mil pessoas, segundo a prefeitura, e 9,6 mil, segundo os moradores, vivem no lugar. No início do mês, moradores chegaram a bloquear a Via Dutra em protesto à reintegração da Justiça. O clima na região é de tensão, com montagem de barricadas pelos ocupantes. Vale lembrar que a área tem alto de índice de tráfico de drogas.

TRF suspendeu reintegração

A reintegração de posse do local foi tema de briga na Justiça na última semana.

No dia 17 de janeiro, o Ministério das Cidades assinou um protocolo de intenções para solucionar a questão, o que levou a juíza Roberta Monza Chiari, da Justiça Federal, a suspender a decisão da desocupação no dia 17. “Observo indícios da União Federal na solução da questão posta. O perigo resta configurado na medida em que, cumprida a ordem de reintegração de posse, inúmeras famílias ficarão desabrigadas, o que inevitavelmente geraria outro problema de política pública”, disse na decisão.

No entanto, horas depois, outro juiz federal, Carlos Alberto Antônio Júnior, substituto da 3ª Vara Federal, cassou a liminar que suspendia a reintegração de posse. Para ele, apesar do interesse da União, deve prevalecer a decisão estadual já tomada. “É inegável pelo protocolo de intenções e pelo ofício do Ministério das Cidades juntados aos autos que há interesse político em solucionar o problema da região. No entanto, este interesse político não se reveste de qualquer caráter jurídico”, declarou.

 

Já na sexta, dia 20, o Tribunal Regional Federal (TRF) suspendeu novamente a ordem de reintegração de posse. O desembargador federal Antonio Cedenho, determinou que a União passe a integrar o processo já que pode haver o interesse de negociar a compra da área junto à empresa proprietária do terreno. A Justiça de São Paulo suspendeu por 15 dias o processo de falência da empresa.