Topo

Nova perícia constata que assento em que jovem estava no Hopi Hari abre durante a queda

Foto mostra brinquedo onde aconteceu acidente que matou a adolescente Gabriela Nichimura - Rochelle Costi/Folhapress - 27.nov.1999
Foto mostra brinquedo onde aconteceu acidente que matou a adolescente Gabriela Nichimura Imagem: Rochelle Costi/Folhapress - 27.nov.1999

Débora Melo

Do UOL, em Vinhedo (SP)

29/02/2012 21h08Atualizada em 01/03/2012 03h07

O delegado Álvaro Santucci Noventa Júnior, que investiga o acidente no parque de diversões Hopi Hari, em Vinhedo (SP) - que matou a adolescente Gabriela Nichimura no último dia 24 -, determinou uma nova perícia no assento em que a garota estava de fato e foi constatado que a trava da cadeira abre durante a queda do brinquedo "La Tour Eiffel" - também conhecido como elevador. Inicialmente, a perícia havia sido feita em assento errado, onde Gabriela não estava sentada.

De acordo com o delegado, os testes na cadeira correta foram feitos na tarde de quarta-feira (29). "(Constatou-se) que, na descida, quando a atração é colocada em atividade, aquela trava se levanta quando está em queda livre", afirmou.

Na quarta-feira, após o depoimento da mãe da menina, que apresentou fotos de minutos antes do acidente, o delegado e o promotor concluíram que Gabriela estava em uma cadeira que deveria estar interditada. "A menina estava em uma cadeira que jamais poderia ser ocupada, que era inoperante há anos. (..) Isso foi possível porque a família nos trouxe a foto da cadeira ocupada por ela", disse o promotor Rogério Sanches Cunha. "A cadeira era inoperante, o parque não nega. O que o parque talvez quis negar em um primeiro momento era que alguém havia sentado nela."

O promotor diz que as fotos mostram Gabriela "sentando e subindo na cadeira inoperante". Segundo o delegado, a confusão aconteceu porque, no dia do acidente, uma testemunha disse que a menina estaria em outra cadeira, e o Hopi Hari informou que a cadeira onde ela estava de fato não era usada há anos. O delegado disse ainda que, a partir do momento em que tomou conhecimento, com o depoimento da família, da verdadeira posição em que Gabriela estava, contatou o Instituto de Criminalística de Campinas, que fez a nova perícia.

"Apuramos inúmeras falhas que acabaram, em uma sucessão de erros, provocando a morte da Gabriela", disse o promotor Cunha. "A partir do momento em que o parque reconhece que aquela cadeira é inoperante, ele sabe que aquela cadeira tem problemas mecânicos. Então não é que houve falha mecânica, a falha na cadeira já era previsível. O que houve foi uma falha humana em não se impedi-la de entrar naquela cadeira”, afirmou.

Brinquedo fatal

De acordo com o promotor, a menina levantou sozinha a trava do assento interditado --que não contava com nenhum aviso-- e entrou em “uma verdadeira arma”. “Hoje praticamente trabalhamos com a certeza de que, no momento da frenagem ou talvez um pouco antes, por falta de força de ficar se segurando, ela efetivamente caiu, pendendo o corpo para frente. Essa menina entrou em uma verdadeira arma, em um brinquedo que era fatal”, disse Cunha.

A promotora Ana Beatriz Sampaio Silva Vieira, de direito do consumidor, que também acompanhou os depoimentos, disse que a falta de aviso é uma “falha gravíssima”. “Há uma falha gravíssima do parque na medida em que faltou com a informação. Se a cadeira era interditada, era dever do parque colocar uma fita adesiva, qualquer tipo de alerta tanto para operadores quanto para usuários, de modo que ninguém fosse capaz de sentar.”

De acordo com a promotora, no dia do acidente o próprio Hopi Hari confirmou que aquele assento não era usado há anos porque, como ficava muito próximo à base de ferro da torre (“La Tour Eiffel”), havia chances de algum usuário mais alto acabar se chocando contra a estrutura de ferro.

O promotor disse que é cedo para falar em homicídio doloso. “A investigação é de homicídio. Agora, até que ponto houve apenas culpa ou houve a conduta de assumir o risco é que será investigado. O caso é bem mais complexo do que se imaginava. Tudo vai ser apurado, nada vai ser descartado (...) Há uma diferença entre assumir o risco e acreditar que jamais ocorrerá. É uma zona nebulosa que já enfrentamos nesse momento.”

O delegado informou que vai ouvir novamente o engenheiro responsável pelo parque nesta quinta-feira, a partir das 10h. Também está previsto o depoimento de um gerente de operações e manutenção.

Funcionários do parque

Dois funcionários do Hopi Hari que estavam trabalhando no brinquedo prestaram depoimento nesta quarta (29). De acordo com o delegado Noventa Junior, um dos funcionários disse que, momentos antes do acidente, notou que o assento interditado poderia ser aberto por algum visitante. “O depoimento deles [funcionários] é muito importante. Eles disseram que verificaram essa falha, que esse brinquedo estava na iminência de poder ser aberto. Um deles alega que comunicou o fato, mas depois de alguns minutos veio a informação de que era pra prosseguir [com a operação do brinquedo].”

Segundo o delegado, a família estava toda em uma mesma fileira do brinquedo (o pai, a mãe, a prima e Gabriela, em uma das extremidades). “O que a gente percebe é que a Gabriela forçou aquela trava, ela conseguiu fazer com aquela trava abrisse.” O delegado disse que está investigando o fato de ninguém ter notado que a garota estava em um assento que não deveria ser usado.

Parque fica no interior de SP

  • Arte/UOL

Uma perícia na última segunda-feira mostrou que o brinquedo não tinha problemas mecânicos, mas o advogado dos pais da vítima, que também estiveram na delegacia hoje, contestou o exame e disse que a avaliação foi feita em uma cadeira errada. De acordo com o defensor Ademar Gomes, Gabriela estava em uma cadeira desativada, que não poderia ser usada. "A perícia foi feita na cadeira errada", disse.

Abalados, os pais da jovem, Silmara e Armando Nichimura, não deram declarações à imprensa. Ademar Gomes afirmou que foram ouvidas a mãe, a tia e a prima da adolescente --o pai não falou e a família deverá voltar à delegacia em uma outra ocasião, em data ainda não definida.

Em entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, no último domingo, a mãe de Gabriela afirmou que notou a ausência de um cinto na cadeira do brinquedo La Tour Eiffel, conhecido como elevador, de onde a jovem caiu. “Eu falei para a minha filha: ‘Está travado?’ Ela falou: ‘Mãe, está travado'. Só que tem um outro fecho, como se fosse um cinto, e eu observei que o dela não tinha esse fecho", afirmou. “Só que tinha um funcionário do parque no momento e falou para mim: ‘Não tem problema. É seguro’", completou Silmara. Em nota divulgada no final da tarde desta quarta, o Hopi Hari informou que, "em relação aos novos fatos, reitera veementemente a cooperação absoluta com todos os órgãos responsáveis na apuração definitiva deste caso".

O acidente

O acidente ocorreu por volta das 10h30 de sexta-feira (24). A garota foi levada para o hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), mas não resistiu. Ela teve traumatismo craniano seguido de parada cardíaca.

O parque fica no km 72,5 da rodovia dos Bandeirantes. O brinquedo onde ocorreu o acidente tem 69,5 metros de altura, o equivalente a um prédio de 23 andares. Na atração, os participantes caem em queda livre, podendo atingir 94 km/h, segundo informações do site do parque.

Em nota, o Hopi Hari informou que "lamenta profundamente o ocorrido" e que "está prestando toda a assistência à família da vítima e apoiando os órgãos responsáveis na investigação sobre as causas do acidente".