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Com 240 mil habitantes, Embu (SP) não tem hospital e sofre para atender casos graves

Fachada do PS Central de Embu das Artes (SP), que está sendo investigado pelo Ministério Público - Divulgação
Fachada do PS Central de Embu das Artes (SP), que está sendo investigado pelo Ministério Público Imagem: Divulgação

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

21/03/2012 06h00


O município de Embu das Artes, vizinho à capital paulista, não possui um único hospital próprio para atender seus mais de 240 mil habitantes. Por conta disso, pacientes em estado grave enfrentam dificuldades quando procuram o sistema de saúde da cidade, como ocorreu com a professora Andrea Maria dos Santos, 46, e com o garoto Gabriel Vitor de Lima Silva, 7, que morreram nos dias 10 e 11 de março, respectivamente.

Sem hospitais, as principais unidades de atendimento do município são os dois prontos-socorros: o Central, que também possui emergência infantil, e o do Jardim Vazame. Juntos, os dois PSs atendem quase 40 mil pacientes por mês. As unidades absorvem praticamente toda a demanda de pacientes graves e, quando possível, solicitam transferência para o Hospital Geral de Pirajussara, que fica em Taboão da Serra e atende uma região com quase um milhão de habitantes.

A professora, que deu entrada no PS após sofrer aneurisma na aorta abdominal, não conseguiu transferência para o hospital de Pirajussara, que estava sem vagas, e teve que ser tratada no próprio pronto-socorro. A unidade, porém, não tinha equipamentos para diagnosticar a doença de Andrea.

  • Arquivo Pessoal

    O garoto Gabriel Vitor de Lima Silva, 7, que morreu após ter uma apendicite negligenciada pelo PS Central de Embu das Artes (SP)

Gabriel também foi internado no PS Central. Ele estava com apendicite, mas a doença só foi diagnosticada tardiamente. O garoto foi transferido para o hospital de Pirajussara quando seu estado já era gravíssimo. Foi operado, mas a infecção decorrente do rompimento do apêndice já havia se espalhado por todo o corpo.

O Ministério Público investiga se houve negligência médica nos dois casos. A promotoria abriu inquérito para apurar a motivação de altas indiscriminadas que supostamente estariam ocorrendo na unidade para liberar vagas.

Sem leitos

De acordo com a secretária municipal de Saúde, Sandra Magali, o índice de leitos recomendado para região, a partir de dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), é de 2,3 a cada mil habitantes-- taxa igual à media nacional.  Mas, em Embu, o índice é de 0,05 leitos para mil habitantes. “E não temos um único leito hospitalar. Usamos, para internação, leitos dos prontos-socorros mesmo”, afirma.

  • A professora Andrea Maria dos Santos, 46, que também morreu após passar pelo PS Central de Embu das Artes (SP)

O município possui 25 UBSs (Unidades Básicas de Saúde) --uma delas inaugurada pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, no último dia 10-- que não têm capacidade de atender casos graves. Outros municípios da mesma região, com população igual ao inferior à de Embu, como Itapecerica da Serra, Embu-Guaçu, Jandira, Cotia, Itapevi e Barueri, têm hospitais próprios.

A secretária afirma que o orçamento da Saúde no município aumentou de R$ 8 milhões em 2001 para R$ 74,5 milhões em 2012, mas ainda é insuficiente. “O ideal seria R$ 113 milhões. Barueri, por exemplo, que tem a mesma população de Embu, tem orçamento de R$ 360 milhões”, compara Magali.

Em setembro de 2011, uma comitiva de vereadores de Embu foi recebida no Palácio dos Bandeirantes por representantes da Casa Civil do governo do Estado para tratar sobre a construção de um hospital no município. Na ocasião, o governo comprometeu-se a estudar o caso e avaliar as possibilidades.

Apesar da insuficiência de leitos e recursos, a nota de Embu no Idsus (índice do Ministério da Saúde para avaliar a qualidade da saúde pública), 5,81, é superior à média nacional (5,47) e da região Sudeste (5,56).