Hospital de Londrina (PR) investiga vazamento de imagens feitas durante cirurgia inusitada
A produção e a publicação na internet de fotos e vídeo de uma cirurgia pouco usual, sem o consentimento do paciente, se tornaram objeto de investigação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e pelo Hospital Universitário Norte do Paraná, órgão que pertence à instituição.
A cirurgia, realizada no último dia 20, foi feita para retirada de um peixe do tipo enguia que o paciente --um homem não identificado no material-- havia introduzido no corpo pelo ânus. Em menos de um minuto das imagens que vazaram no YouTube, participantes da cirurgia aparecem rindo e com celulares às mãos registrando a retirada do animal do intestino do paciente. “Cara, isso aqui é pra história”, diz um deles. Outro ainda comenta: “Já mandei a foto por e-mail”.
De acordo com a assessoria de comunicação da UEL, o caso fez com que fossem instauradas duas sindicâncias: uma pela própria instituição e uma pelo HU, cuja comissão de ética também foi acionada.
Segundo a assessoria, já estão em análise, por exemplo, quais profissionais --médicos, auxiliares de enfermagem e enfermeiros-- e estudantes estavam em todas as sete salas de cirurgia do HU no dia em que o procedimento foi realizado.
Ainda conforme a UEL, o caso fez com que fosse aprovada, na última segunda-feira (30), uma resolução que altera o regimento interno da universidade: a partir de agora, fica proibido o uso de celular nas salas de cirurgia do HU e do Hospital das Clínicas, vinculado ao HU. Até então, e instituição autorizava o registro de imagens de procedimentos cirúrgicos com equipe própria e desde que houvesse, na iniciativa, caráter didático, pedagógico ou científico --o que, admitiu o hospital, não era o caso na cirurgia de extração da enguia.
A UEL informou que o paciente já foi liberado.
Investigação no CRM
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná, Alexandre Gustavo Bley, afirmou que o órgão também vai investigar dentro de uma sindicância se profissionais da área cometeram infração ao código de ética e conduta médica. A penalidade, de acordo com ele, pode variar desde uma advertência confidencial ou pública até a cassação do registro de atuação.
“Se houve participação do profissional de medicina na filmagem ou na disponibilização dessas imagens, ou mesmo se o cirurgião responsável pelo procedimento [cirúrgico] permitiu que isso de alguma forma ocorresse, fica caracterizada a infração médica --e isso vai a julgamento no processo instaurado no CRM tal qual um inquérito policial”, disse Bley.
Conforme o presidente do CRM, o registro de cirurgias em imagens não é vedado pelo código de ética ou pelo regimento da categoria. “Mas é preciso ter o consentimento do paciente e garantir que ele não seja exposto, pois a finalidade, em geral, é que esse material tenha cunho pedagógico. Jamais pode ser usado contra a dignidade humana --e pela forma como o vídeo do HU foi feito, com data, local e pelas particularidades do caso, pode ser fácil identificar o paciente”, avaliou.
Reincidência
O HU em Londrina já foi palco de outra atuação polêmica em seus quadros, em 2006. À época, um grupo de residentes do hospital foi acusado de postar mensagens em uma comunidade no Orkut com teor ofensivo aos pacientes e a funcionários técnicos do local. "Macaca de 15 arrobas", “prenhas nojentas" e “trolls”, por exemplo, foram algumas das expressões utilizadas.
Os 14 envolvidos naquele caso foram identificados, proibidos de participar da formatura conjunta do curso e só conseguiram o diploma graças a liminar judicial.
O hospital realiza, em média, cerca de 3.200 atendimentos mensais no pronto-socorro e pouco mais de 5.000 atendimentos ao mês de consultas ambulatoriais. Além do Paraná, segundo o hospital, são atendidos pacientes de outros Estados --cerca de um quarto da demanda total.
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