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Chegamos ao limite, dizem pediatras em protesto contra fechamento de pronto-socorro para crianças em Natal

Pediatras levaram faixas e cartazes em protesto em hospital em Natal - Elendrea Cavalcanti/UOL
Pediatras levaram faixas e cartazes em protesto em hospital em Natal Imagem: Elendrea Cavalcanti/UOL

Elendrea Cavalcante

Do UOL, em Natal

15/09/2012 16h35Atualizada em 15/09/2012 17h15

Pediatras de Natal fizeram, na manhã deste sábado (15), um manifesto com cartazes e faixas para chamar a atenção da população e autoridades para o fechamento da Unidade de Pronto-Socorro Sandra Celeste, único hospital custeado pelo município para o atendimento de urgência e emergência de crianças. Os médicos saíram em carreata até as proximidades de outro hospital, o Walfredo Gurgel, e, de lá, saíram caminhado e gritando palavras de ordem até a frente do hospital, onde foi encerrado o protesto.

O presidente da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Norte (Sopern), Nivaldo Júnior, disse que a unidade ficará fechada a partir deste sábado por falta de médicos para cumprir a escala e também de equipamentos. "Chegamos ao limite. Não há o que ser feito a partir de hoje. Não bastasse a falta de médicos, não temos há dois anos sequer um [aparelho de] raio-X para atender às crianças.”

Nivaldo Júnior explicou que todas as crianças que precisavam fazer o procedimento eram encaminhadas nos dois últimos anos para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Pajuçara, fechada na sexta-feira (14) em virtude da greve dos médicos da Cooperativa do Rio Grande do Norte (Coopmed), que presta serviço ao município. Os médicos da cooperativa estão com salários atrasados desde junho e esperam o repasse de R$ 4 milhões da prefeitura para a cooperativa, ainda pendente.

Com o fechamento da unidade de Pajuçara, a situação da pediatria em Natal torna-se ainda mais complicada. “Quando usávamos o raio-X da de Pajuçara, crianças que davam entrada aqui no Hospital Sandra Celeste pela manhã só obtinham o resultado  do exame à noite porque tinham que sair daqui pra lá, depois voltar. Imagina agora”, afirma.

“Na sexta-feira foi um caos aqui no Sandra Celeste. Recebemos uma criança de 12 anos, já em coma. E ela não tinha condições de receber atendimento aqui, portanto tivemos que encaminhá-la ao Hospital Walfredo Gurgel, mesmo sabendo que lá estava superlotado", comentou Nivaldo Júnior.
Por conta da paralisação dos trabalhos nas unidades do município, o Hospital Walfredo Gurgel, que é mantido pelo Estado, está recebendo praticamente toda a demanda de pacientes, de todas as idades da Grande Natal.

Além dos pediatras, funcionários do Hospital Sandra Celeste também reforçaram o manifesto. O recepcionista da unidade, João Maria Gomes, 48, informou que em 24 horas o hospital costuma receber em média 250 pacientes. "Cerca de 30% destas crianças que chegam aqui são de municípios próximos a Natal, o que torna a demanda ainda maior para os profissionais.”

Portas fechadas

Enquanto os pediatras se organizavam na frente do Sandra Celeste para seguir em carreata até o Hospital Walfredo Gurgel, três pais com suas crianças procuraram o pronto-socorro em busca de atendimento e mostraram-se surpresos com as portas fechadas.

A estudante Brenda Braz, 20, procurou o Sandra Celeste para levar o filho de dois anos. "Ele está há três dias com dor na cabeça, na garganta, febre e vômito. A orientação que eu recebi aqui dos pediatras em greve é que eu leve meu filho para o Hospital Santa Catarina, mas é muito longe."

O autônomo Marco Antônio de Lima, 37, foi levar os dois filhos para tratarem os dentes. "Eu vim de Felipe Camarão (zona oeste de Natal) e quando chego aqui, vejo tudo fechado. Vou falar com alguém para ver onde posso levar as crianças."

Não bastasse a paralisação dos trabalhos nas unidades do município, as unidades do Estado também sentem o impacto da crise da saúde de Natal. Pediatras do Hospital Santa Catarina, custeado pelo Governo, também participaram do manifesto e alertaram que devem manter a unidade funcionando até o próximo dia 20.

“Não temos condições dignas de trabalho. A demanda de pacientes para atendermos é alta. São Crianças que vêm de Ceará-Mirim, Extremoz, enfim de toda a Grande Natal. Temos médicos no nosso hospital que já estão próximo do tempo de aposentadoria e para eles é complicado enfrentar esse sufoco”, explicou a pediatra Higia Macêdo, que trabalha no Hospital Santa Catarina.