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O que quero mesmo é saber o que aconteceu, diz pai de adolescente morta após cirurgia em Niterói

Anna Carolina morreu em hospital de Niterói após uma cirurgia de retirada de cisto no ovário - Arquivo pessoal
Anna Carolina morreu em hospital de Niterói após uma cirurgia de retirada de cisto no ovário Imagem: Arquivo pessoal

Júlio Reis

Do UOL, no Rio

25/09/2012 21h18

A Polícia Civil do Rio de Janeiro está investigando a morte da jovem Anna Carolina Martins, 14, que faleceu na madrugada da última quinta-feira (20) dois dias depois de passar por um cirurgia de retirada de cisto no ovário no Hospital Icaraí em Niterói, região metropolitana.

O pai de Anna, o taxista Antônio Carlos Martins, acusa o hospital de negligência. Ele questiona também os procedimentos adotados na cirurgia da filha e disse que antes de qualquer coisa quer saber as razões da morte de Anna.

“A gente acredita que houve negligência e que coisas estranhas estavam acontecendo. Como é que um menina que entra para fazer uma cirurgia simples, de levar três pontos, é toda entubada desde o princípio? Quando estive lá para visitar minha filha, eles disseram que estava tudo bem, mas não estava tudo bem, ela já estava tendo secreções de como se fosse uma espuma saindo pela boca”, disse.

Antônio diz que não descarta abrir um processo contra o Hospital Icaraí, mas que isso não importa no momento. “O que eu quero mesmo é saber o que aconteceu. Não posso tomar uma ação sem saber o que aconteceu. Nós acreditamos que houve negligência, mas porque eles não nos mostram que estamos errados?”, disse Antônio. Na certidão de óbito de Anna foi registrada que a causa da morte ainda é desconhecida.

Investigações

Responsável pelas investigações da morte da garota, o delegado Alexandre Leite Justiniano, da 74° Delegacia de Polícia (Niterói), disse que já ouviu o depoimento dos familiares e solicitou ao hospital o prontuário e o livro de ordens e ocorrências. Segundo o delegado, sem as informações, que são aguardados pelos peritos, o laudo do IML (Instituto Médico Legal), que indica as causas da morte da jovem, não pode ser concluído.

De acordo com nota divulgada pelo Hospital Icaraí na tarde de hoje, a cirurgia de Anna “foi realizada sem qualquer intercorrência, tendo o mesmo ocorrido no pós-operatório. Com quadro clínico estável e normal, ela deixou a sala de recuperação pós-anestésica, área onde permanecem os pacientes logo após o término da cirurgia, e foi transferida no devido tempo para o quarto, como determina o protocolo de assistência”.

Ainda de acordo com o hospital, durante as primeiras horas após a cirurgia, a jovem “se manteve hemodinamicamente (relativo a circulação sanguínea) estável, tendo sido assistida pelos funcionários do serviço de enfermagem que faziam o plantão”.

Cerca de 12 horas após sua entrada no centro cirúrgico, no entanto, a adolescente passou a apresentar alteração em seu quadro de saúde. Ela teria sido imediatamente atendida pelo corpo clínico do hospital, porém, sofreu uma parada cardiorrespiratória. Os médicos conseguiram reanimá-la e ela foi levada para o CTI (Centro de Terapia Intensiva), quando sofreu nova parada cardiorrespiratória, e mais uma vez foi reanimada.

Segundo a nota que foi assinada pelo diretor técnico da instituição, Ranulfo Lima, apesar de todos os recursos tecnológicos e do empenho dos profissionais disponibilizados para assistir à adolescente, ela, lamentavelmente, veio a falecer.

O Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro) informou que está a par do caso e abriu uma sindicância para apurar o ocorrido. Já o Coren-RJ ( Conselho Regional de Enfermagem do Rio) disse que encaminhou uma equipe de fiscalização ao hospital para apurar os motivos que podem ter levado ao óbito da adolescente.

O Coren-RJ disse que questiona se o hospital trabalhava nos dias 18 e 19 de setembro com adequado dimensionamento do quadro da enfermagem e se não há déficit de profissionais para atender ao número de pacientes internados, além disso, quer mais esclarecimentos sobre a presença de médicos no local durante a noite e a madrugada em que a jovem faleceu. Porém, de acordo com o órgão, ainda sem acesso aos documentos que registram as ações da enfermagem no período, não é possível emitir um parecer.