Oito em cada dez paulistanos acham que qualidade de vida piorou em 2012, revela pesquisa
Oito em cada dez paulistanos estão insatisfeitos com a qualidade de vida na cidade --o pior índice dos últimos quatro anos. É o que revela uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira (17) pela Rede Nossa São Paulo, encomendada pela Oscip (organização da sociedade civil de interesse público) ao instituto Ibope Inteligência. Em uma escala de avaliação que vai de um a dez, o item que sofreu maior queda de 2011 (3.9) para 2012 (3.0) foi a segurança: hoje, ao menos 90% dos paulistanos afirmam se sentir inseguros na capital paulista. Também é o índice mais baixo no último quadriênio.
Em 82% ou 139 dos 169 itens avaliados, os entrevistados se disseram insatisfeitos; 28 receberam nota acima e dois permaneceram na média de avaliação. O Ibope considerou uma escala de 1 a 10, em que o máximo equivale a "totalmente satisfeito", e o mínimo, a "totalmente insatisfeito". Entre os 25 temas abrangidos, há os mais objetivos, como habitação, transporte, saúde, segurança e educação, por exemplo, e aspectos subjetivos como sexualidade, espiritualidade, aparência, consumo e lazer.
A nota mais baixa na pesquisa foi atribuída ao item honestidade dos governantes, com nota 2,9 --abaixo, portanto, da média de 5,5 estabelecida pelo instituto de pesquisa. Já a avaliação mais alta foi atribuída ao item relações humanas, que se refere ao convívio entre familiares e amigos, e não a serviços públicos.
A pesquisa está na sexta edição e aponta a percepção do morador da cidade de São Paulo em relação a indicadores de referência de bem estar no município (Irbem). O índice de 2012 ficou em 4,7 --abaixo do 4,9 de 2011, do 5,0 de 2010 e do 4,8 de 2009, quando começou a ser aferido. Ao todo, foram ouvidas 1.512 pessoas, a partir dos 16 anos, entre os dias 24 de novembro e 8 de dezembro do ano passado; maioria (58%), nascidos na capital paulista. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
Para 38% dos entrevistados, a qualidade de vida na cidade melhorou um pouco ou muito; em 2011, esse percentual era de 44%. Já 56% dos ouvidos afirmaram que sairiam da cidade caso tivessem oportunidade de viver em outro lugar, número idêntico ao de 2011.
É a partir do Irbem que é estabelecido o plano de metas que, por lei municipal, precisa ser encaminhado pelo prefeito eleito à Câmara Municipal, até, no máximo, 90 dias depois da posse. Os dados foram apresentados hoje pela Rede Nossa São Paulo e pelo Ibope em solenidade no Sesc Consolação, na Vila Buarque (área central de São Paulo). Participaram o prefeito Fernando Haddad (PT) e sua vice, Nádia Campeão (PC do B).
O antecessor do petista, Gilberto Kassab (PSD), assinou em janeiro de 2009 o primeiro plano de metas proposto pela Rede, mas chegou ao fim do mandato cumprindo 123 metas do total de 223 propostas, um índice de 55,1%.
O coordenador da rede Nossa São Paulo, Oded Grajew, disse que a queda do Irbem em 2012 já era esperada, "mas não tanto".
"É muito significativo que o índice 4,7 se aproxime muito do percentual de metas descumpridas do prefeito Kassab." Para Grajew, Haddad "precisa mostrar que existe um movimento de mudança, e não apenas melhorar a qualidade do serviço".
Haddad pede cautela nas expectativas
Já o prefeito, em um discurso de pouco mais de 20 minutos, se queixou da morosidade dos procedimentos na administração pública na tomada de ações como a construção de casas e de corredores de ônibus. A partir disso, Haddad pediu cautela nas expectativas.
"Não posso negar aquilo que busquei como ministro da Educação", disse, referindo-se ao estabelecimento de metas. "Mas a minha percepção, posso estar enganado, é que as pessoas sabem que a solução aos problemas é difícil. Se estivermos no rumo certo e em um ritmo de trabalho aceitável dá certo", declarou o prefeito, que prometeu ampliar a comunicação com a cidade sobre o que está sendo feito e quais os gargalos de investimento da prefeitura.
Sensação de insegurança é maior
Entre os indicadores, a sensação de insegurança relatada pelos entrevistados foi a mais alta em quatro anos –e exatamente em um ano marcado por uma onda de violência que matou civis e policiais ao longo de meses. Dos entrevistados, 91% disseram achar pouco ou nada seguro viver na capital paulista. Já 45% responderam ser “nada segura” a vida na capital. Ano passado, esta classificação ficara em 35%.
Indagados sobre as principais razões para se ter medo em São Paulo, 71% dos entrevistados elencaram “violência em geral”, 63% citaram assaltos e 41% mencionaram saídas à noite.
Outros itens de avaliação
Ao todo, o Irbem é composto por 169 itens, dos quais praticamente todos sofreram “queda significativa na nota”, conforme a Rede Nossa São Paulo. O item mais mal avaliado é o de “Transparência e Participação”; já “relações humanas” é a área em que o paulistano afirma se sentir mais satisfeito.
Estável até 2011, a percepção sobre a educação apresentou quedas significativas nas médias obtidas para todos os aspectos no ano de 2012. Segundo o Ibope, a queda se deve principalmente à falta de vagas em creches ou pré-escolas e à “falta de respeito e valorização ao profissional de ensino”.
Por outro lado, a saúde pública teve queda da satisfação geral em todos os aspectos analisados –dos 14 aspectos avaliados, por sinal, somente cinco ficam acima da média da escala. Aspectos relacionados ao agendamento de consultas/exames e ao tempo médio de espera entre a marcação e o atendimento foram os pontos mais críticos apontados na pesquisa.
Confiança nas instituições
O Ibope ainda ouviu os entrevistados sobre o nível de confiança deles nas instituições públicas e privadas, bem como a avaliação do poder público e dos serviços por ele oferecidos.
Das 26 instituições e órgãos públicos avaliados, os paulistanos apontam 15 deles nos quais depositam mais confiança do que desconfiança –ranking liderado pelo Corpo de Bombeiros (88%), seguido por Correios (86%), Metrô (77%), a Sabesp (76%) e Procon (74%).
Já as instituições com maior nível de desconfiança, revelou a pesquisa, são a Câmara Municipal (69%), o Tribunal de Contas do Município (64%), a Polícia Civil (60%) e a Polícia Militar (60%).
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