Topo

Delegado acusado de tortura no caso Tayná é preso no Paraná

Tayná Adriane da Silva, 14, foi estuprada e morta - Reprodução/GGN
Tayná Adriane da Silva, 14, foi estuprada e morta Imagem: Reprodução/GGN

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curtiba

19/07/2013 17h57Atualizada em 19/07/2013 18h32

O MPE (Ministério Público Estadual) informou, nesta sexta-feira (19), que o delegado Silvan Rodney Pereira, que comandou a delegacia do Alto Maracanã, em Colombo (região metropolitana de Curitiba),  foi preso. Pereira foi responsável por prender quatro suspeitos de terem estuprado e matado a jovem Tayná Adriane da Silva, 14. Eles teriam confessado o crime sob tortura.

Segundo o MPE, Pereira foi preso pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) com apoio da PRF (Polícia Rodoviária Federal) em Laranjeiras do Sul (município de 30 mil habitantes a 360 km a oeste de Curitiba). A cidade fica às margens da BR-277, rodovia que liga a capital a Foz do Iguaçu e a menos de 300 km da fronteira com Paraguai e Argentina..

Justiça pede a prisão de policiais acusados de tortura

Desde a noite de quinta (18), o delegado era considerado foragido. Com a prisão de Pereira, estão detidos os 14 suspeitos de torturar os rapazes para que confessassem o crime que tiveram prisão preventiva decretada pela Justiça de Colombo, onde Tayná foi encontrada morta no último dia 28.

Dez deles são policiais civis, um é soldado da PM e outro guarda municipal em Araucária (também na região metropolitana).

“Uma pessoa que tem mandado [de prisão] contra si e, mesmo sabendo disso, não se apresenta, é considerada foragida. Nós o monitoramos e pedimos à Polícia Rodoviária que o abordasse”, explicou o coordenador do Gaeco, o promotor Leonir Batisti. Agora, Pereira será trazido a Curitiba, onde estão detidos os outros suspeitos.

“Por ora não vou manifestar. Estou em busca de informações [sobre a prisão]”, afirmou o advogado de Pereira, Claudio Dalledone Junior, que conversou com a reportagem por volta das 18h. Na quinta (18), ele dissera que o delegado “nega veemente” as acusações de tortura, e que iria “se apresentar à Corregedoria da Polícia Civil".

Também nesta sexta, o Sidepol (Sindicato dos Delegados de Polícia do Paraná) emitiu nota pública em que manifesta “veemente repudio a forma diferenciada de tratamento dispensada aos integrantes da Polícia Civil”.

“Doravante, qualquer preso decidirá qual integrante da Polícia Civil será preso, bastará agredir um detento e instruí-lo a dizer que foi agredido por um policial do plantão. As palavras dos suspeitos da morte da adolescente foi recebida como verdade incontestável. Todas as medidas necessárias serão adotadas para corrigir esta insanidade”, prossegue o texto.

O caso

Tayná desapareceu na terça-feira (25 de junho) quando voltava para casa. Os quatro rapazes foram presos por volta das 13h da quinta (27). No dia seguinte, o corpo da jovem foi encontrado submerso num poço na região.

Delegados são afastados do caso de menina morta

Segundo a polícia, os suspeitos confessaram ter estuprado e assassinado a garota. Os quatro trabalham num pequeno parque de diversões instalado na cidade, que foi incendiado e depredado por moradores revoltados com o crime.

Na terça (9), porém, a Secretaria da Segurança Pública informou que o sêmen encontrado nas roupas íntimas de Tayná não é de nenhum deles.

Na quarta-feira (10), integrantes da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) ouviram dos suspeitos que a confissão do estupro e da morte de Tayná ocorreu mediante tortura de policiais em delegacias.

Por conta das denúncias de tortura, a Polícia Civil afastou na quinta (11) que foram afastados temporariamente de suas “funções policiais” os delegados Agenor Salgado Filho e Silvan Rodney Pereira. Salgado era o chefe da corporação na região metropolitana de Curitiba, e Pereira prendeu os suspeitos e afirmou que eles confessaram o crime.

No domingo (14), a polícia afastou temporariamente todos os policiais da Delegacia do Alto Maracanã, localizada em Colombo.

Na segunda-feira (15), a Justiça determinou a soltura dos supeitos, que devem ficar sob proteção do Estado. O MPE deu prazo de 30 dias à polícia para que apresente um novo inquérito sobre o caso. Em nota, a Polícia Civil confirma apenas que “toda a investigação do caso Tayná está sendo refeita”. 

Na quarta (17), o procurador-geral da OAB-PR, Andrey Salmazo Poubel, que assumiu a defesa dos quatro rapazes que disseram ter confessado o estupro e a morte de Tayná sob tortura, disse que “eles são inocentes [e] não têm relação nenhuma [com o crime]. Ninguém tem dúvida disso, nem os delegados que estão conduzindo o caso.”
 
Incluídos no Programa Federal de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas, os quatro foram levados para fora do Paraná.

Vizinhos incendeiam parque onde suspeitos trabalhavam