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Polícia entra na maior penitenciária do RN após briga que deixou ao menos 10 mortes

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Presos são vistos segurando colchões durante a rebelião
Imagem: AFP

Do UOL, em São Paulo

15/01/2017 08h10Atualizada em 15/01/2017 12h39

Policiais entraram por volta das 6h (7h em Brasília) deste domingo (15) na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta, região metropolitana de Natal (RN), e controlaram a situação após 14h da rebelião que começou na tarde de sábado. Segundo o secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Rio Grande do Norte, Caio César Bezerra, a intervenção aconteceu de forma tranquila e não houve resistência dos presos.

Ontem, o governo do Estado confirmou pelo menos dez presos assassinados, sem registro de fugas ou reféns. Neste momento, é feita a contagem dos presos para saber se há mais mortos. "Só depois do final dessa intervenção é que vamos ter esse número", disse o secretário à rádio CBN.

Bezerra disse que o policiamento trabalhou durante a madrugada "para manter a separação e evitar o conflito entre os pavilhões onde houve o problema e a rivalidade entre esses grupos criminosos" a fim de evitar novas mortes.

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Presos do pavilhão 5 invadiram o pavilhão 4 para matar rivais
Imagem: AFP
No início da noite, a Coape (Coordenação de Administração Penitenciária) havia confirmado a decapitação de três presos depois de ver imagens divulgadas pela polícia nas quais podiam ser vistas três cabeças jogadas na área externa da unidade prisional. Os presos mortos ainda não foram identificados.

Segundo o governo do RN, a rebelião começou por volta das 17h (18h no horário de Brasília), quando presos do pavilhão 5, chamado de Presídio Rogério Madruga Coutinho, invadiram o pavilhão 4 para matar rivais. A rebelião não atingiu os pavilhões 1, 2 e 3.

O Bope (Batalhão de Operações Especiais) estava no local tentando controlar a situação, mas o plano foi não entrar no presídio durante a noite, pela falta de visibilidade, que poderia por em risco a operação. 

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Fumaça preta sai do presídio durante a briga entre facções
Imagem: AFP

O presídio ficou cercado de policiais para evitar fugas, e a área externa de Alcaçuz estava controlada por policiais militares e agentes penitenciários.

Por volta das 6h (7h em Brasília), a PM (Polícia Militar) entrou no complexo penitenciário.

Familiares de detentos aguardam notícias do lado de fora. 

15.jan.2017 - Policiais militares entram na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, na Grande Natal (RN), na manhã deste domingo (15),com veículo blindado, vans e carros para tentar acabar com rebelião que já dura mais de 13 horas. Há ao menos dez mortes confirmadas durante a rebelião - Frankie Marcone/Futura Press/Estadão Conteúdo - Frankie Marcone/Futura Press/Estadão Conteúdo
Familiares de detentos aguardam notícias após as mortes registradas no presídio de Alcaçuz
Imagem: Frankie Marcone/Futura Press/Estadão Conteúdo

Superlotação

Maior presídio do Estado, Alcaçuz está superlotada. Com capacidade para 620 internos, conta atualmente com cerca de 1.200 presos.

A penitenciária custodia presos das facções criminosas Sindicato do Crime do RN e PCC (Primeiro Comando da Capital). A presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do RN, Vilma Batista, disse que os presos são separados por facção criminosa em Alcaçuz -- os integrantes do Sindicato do Crime do RN estão nos pavilhões 1, 2, 3 e 4, enquanto o pavilhão 5 é destinado aos integrantes do PCC.

O sistema penitenciário do Rio Grande do Norte enfrenta uma crise na segurança desde o ano passado. O domínio de facções criminosas que agem dentro e fora das unidades prisionais se intensificou desde março de 2015, quando os presos organizaram uma onda de rebeliões, depredaram as celas e ficaram soltos, todos misturados, nos pavilhões dos presídios do Estado. 

Os 16 presídios que foram depredados continuam em obras inacabáveis por conta da constante depredação dos presos. O Estado já gastou R$ 7,3 milhões dos R$ 15 milhões orçados para recuperação das unidades prisionais. As reformas deveriam ser concluídas até outubro do ano passado.

Em agosto do ano passado, presos do PEP (Presídio Estadual de Parnamirim) se rebelaram e organizaram uma série de ataques criminosos em Natal e cidades do interior do Estado depois que tiveram o sinal de telefone celular bloqueado. As lideranças dos ataques são facção criminosa Sindicato do Crime do RN. A série de ataques incendiou 32 ônibus em todo o Estado.

Ajuda

O governo do RN informou que pediu para que o Governo Federal acompanhe a situação do Estado e mande reforço da Força Nacional, "o que foi autorizado prontamente”, diz nota.

A pedido do governador Robinson Faria (PSD), o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, autorizou que parte dos R$ 13 milhões do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen), liberados no dia 29 de dezembro de 2016 para modernização e aquisição de equipamentos, seja utilizada em construções que reforcem a segurança no presídio.

O Sindicato dos Policiais Civis do RN pediu para que os policiais fiquem em alerta para trabalhar contra uma suposta onda de ataques em Natal ordenada por presos. "Existem informações vindas de presídios dando conta de um salve geral dos presos no Rio Grande do Norte e em outros Estados", destacou o presidente do Sinpol, Paulo César de Macedo.

Apesar do alerta, o governo do RN informou não haver registro de nenhuma ação externa aos presídios.