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Tanto Obama quanto Romney patinaram ao apresentar soluções contra a crise econômica durante campanha

Os candidatos Obama e Romney - Jay LaPrete/AP / Jae C. Hong/AP
Os candidatos Obama e Romney Imagem: Jay LaPrete/AP / Jae C. Hong/AP

Fábio Luís de Paula

Do UOL, em São Paulo

01/11/2012 06h00

Tema presente e constante durante toda a campanha à Presidência dos Estados Unidos, a crise econômica pautou discussões, enfrentamentos, propostas e debates entre os candidatos à Casa Branca Barack Obama e Mitt Romney. Porém, de acordo com especialistas ouvidos pelo UOL, ambos tiveram dificuldades de pontuar quais serão suas ações efetivas para diminuir o deficit e gerar empregos.

"Os candidatos não divergem na ideia de equalizar o deficit, que hoje gira em torno de US$ 1 trilhão, mas Romney quer fazer já, e Obama depois", disse Cristina Helena Pinto de Mello, professora de economia da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). "Eu acho que a grande diferença entre os dois candidatos se dá no enfrentamento à crise, pois é fundamental para qualquer presidente, governo ou partido, conseguir gerar emprego e renda".

Cristina observou como ambos apresentam, na prática, suas propostas: Obama quer manter o deficit para estimular a economia, ao contrário de Romney, que quer fazer todos os esforços para reduzir a dívida. "Isso signifca que, se Romney ganhar, haverá cortes orçamentários que podem atingir a educação, os aposentados, os financiamentos imobiliários. Já Obama vai gerar emprego, mas também vai gerar dívida, que alguém vai ter de pagar no futuro", explica.

A professora também comentou que nenhum dos dois colocou à mesa soluções para a geração efetiva de empregos no país. A taxa de desemprego nos Estados Unidos era oficialmente de 7,8% em setembro, o mesmo índice de quando Obama chegou à Casa Branca em janeiro de 2009. A economia do país cresceu 2% no terceiro trimestre de 2012, mais do que o esperado, mas em um nível insuficiente para permitir que o desemprego diminua.

Eleições 2012 nos EUA
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Propostas

Obama defende que o estímulo econômico deve ser feito pelo governo, com investimentos na capacitação de profissionais e em transportes, telecomunicações e tecnologias. Ele se baseia no "American Jobs Act", um plano para geração de empregos que foi ao Congresso com uma lista de benefícios fiscais aos trabalhadores --mas sem detalhes sobre financiamento federal para contratar professores e melhorar escolas. Sobre impostos, o democrata fala em estender em um ano o corte de impostos do governo Bush, menos para contribuintes com rendimentos superiores a US$ 250 mil.

Por sua vez, Romney apresenta seu "Plano de Cinco Pontos", que prevê a não interferência do governo aos empresários que criam empregos, reduzindo impostos e prometendo a regulação empresarial. Na proposta, o republicano, que é contra estímulo de curto prazo e intervenção do governo na área da habitação, defende reduzir, em âmbito geral, 20% nas taxas (embora os detalhes não tenham sido especificados), manter os cortes do governo Bush e anular alguns impostos e taxas sobre dividendos e juros para contribuintes com rendimentos de até US$ 100 mil.

Apesar disso, Romney já mostrou uma versão diferente desse plano: no debate com Obama, ele voltou atrás e disse que não vai reduzir o percentual de impostos pagos pelas pessoas de alta renda. Obama ironizou a mudança de opinião: "Nos últimos 18 meses ele defende este plano tarifário, e agora diz que esta sua ideia audaciosa 'não tem importância'".

O presidente defende aumentar os impostos aos ricos para frear a diferença entre eles e a classe média e, assim, atingir um crescimento econômico durável e forte. Segundo Obama, 1% dos americanos (os mais ricos), pagam hoje os impostos mais baixos nos últimos 50 anos.

Hegemonia mundial

Luis Fernando Ayerbe, coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Unesp em Araraquara (SP) e autor do livro "De Clinton a Obama - Políticas dos Estados Unidos para a América Latina", concorda com Cristina e considera que a questão da crise foi fundamental na campanha deste ano.

"Na eleição de Bush, a grande questão das eleições era qual candidato era o mais apto a lidar com a guerra ao terrorismo. Nas eleições passadas, o tema apareceu, mas Obama o tratou como forma de crítica à guerra, no meio do estouro da crise. Este ano, a crise econômica apareceu como a questão fundamental, principalmente depois do último debate", disse Ayerbe.

Entretanto, a constante presença da crise nas eleições dos Estados Unidos não acontece apenas pelo deficit ou o desemprego. A hegemonia internacional do país ficou enfraquecida com o problema, e os EUA não querem perder seu posto. "O que sempre pautou a hegemonia norte-americana foi a capacidade de, na época de guerras, ajudar países com seu poder econômico. E esse poder está abalado por causa da crise, deixando limitado seu papel hegemônico e o de intervir em outras economias do mundo", completou Cristina. (com agências internacionais)