Dilma repudia "constrangimento" imposto a Evo Morales por impedimento a voo
Em nota oficial publicada nesta quarta-feira (3), a presidente Dilma Rousseff manifestou "repúdio e indignação" ao constrangimento imposto ao presidente da Bolívia, Evo Morales, por ter tido o sobrevoo do seu avião presidencial boliviano impedido no seu espaço aéreo de alguns países europeus.
Segundo a nota, o constrangimento não atinge somente a Bolívia, mas a toda América Latina, comprometendo o diálogo entre os continentes e possíveis negociações entre eles. Dilma ainda afirma que encaminhará iniciativas em todas as instâncias multilaterais para que situações como essa nunca se repitam.
O avião oficial que leva Evo Morales da Rússia de volta a seu país decolou do aeroporto de Gran Canária, na Espanha, rumo à capital boliviana, La Paz, após uma escala de pouco mais de uma hora, no início da tarde desta quarta (horário de Brasília).
A aeronave, que saiu de Moscou, ficou retida em Viena, na Áustria. França, Portugal, Itália e Espanha proibiram que o avião de Morales entrassem em seu espaço aéreo, segundo a Bolívia, pelo temor de que transportasse o americano Edward Snowden, acusado de espionagem por Washington por ter revelado um programa de espionagem das comunicações a nível global do governo de Barack Obama. Paris, Lisboa e Roma retiraram os vetos algumas horas depois.
Unasul condena atitude contra Morales
Chefes de Estado do bloco sul-americano Unasul (União de Nações Sul-Americanas) rejeitaram energicamente o desvio que o avião que levava o presidente boliviano foi obrigado a fazer na Europa e exigiram explicações para este ato "inamistoso e injustificável".
Em comunicado do governo peruano, que detém a presidência rotativa do bloco, os líderes da Unasul expressaram seu ultraje e indignação pela recusa da França e de Portugal de permitir que o avião de Morales pousasse nos territórios desses países na terça-feira.
A secretaria-geral da Unasul considerou estranho que países europeus tenham negado permissão a Morales para sobrevoar seu espaço aéreo, ao recordar que a União Europeia (UE) manifestou preocupação com espionagem do governo dos Estados Unidos revelada por Edward Snowden.
"É estranho que este fato aconteça quando todos os governos da União Europeia manifestam preocupação com o alcance do programa de espionagem do governo dos Estados Unidos sobre suas populações", afirmou o secretário-geral da Unasul, o venezuelano Alí Rodríguez, em um comunicado divulgado em Quito, sede do organismo regional.
A secretaria também critica a "perigosa atitude assumida por França e Portugal, ao cancelar intempestivamente a permissão de sobrevoo" do avião de Morales, que retornava a La Paz depois de participar em Moscou no Fórum de Países Exportadores de Gás.
Rodríguez confirmou o envio aos presidentes dos países membros da Unasul de um pedido do Equador para uma reunião "urgente", que pretende analisar o caso.
Confira a íntegra da nota presidencial:
O governo brasileiro expressa sua indignação e repúdio ao constrangimento imposto ao presidente Evo Morales por alguns países europeus, que impediram o sobrevoo do avião presidencial boliviano por seu espaço aéreo, depois de haver autorizado seu trânsito.
O noticiado pretexto dessa atitude inaceitável – a suposta presença de Edward Snowden no avião do Presidente –, além de fantasiosa, é grave desrespeito ao Direito e às práticas internacionais e às normas civilizadas de convivência entre as nações. Acarretou, o que é mais grave, risco de vida para o dirigente boliviano e seus colaboradores.
Causa surpresa e espanto que a postura de certos governos europeus tenha sido adotada ao mesmo momento em que alguns desses mesmos governos denunciavam a espionagem de seus funcionários por parte dos Estados Unidos, chegando a afirmar que essas ações comprometiam um futuro acordo comercial entre este país e a União Europeia.
O constrangimento ao presidente Morales atinge não só à Bolívia, mas a toda América Latina. Compromete o diálogo entre os dois continentes e possíveis negociações entre eles. Exige pronta explicação e correspondentes escusas por parte dos países envolvidos nesta provocação.
O governo brasileiro expressa sua mais ampla solidariedade ao presidente Evo Morales e encaminhará iniciativas em todas instâncias multilaterais, especialmente em nosso continente, para que situações como essa nunca mais se repitam.
Dilma Rousseff
Presidenta da República Federativa do Brasil
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