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Dados de simulador não provariam que piloto sequestrou avião da Malaysia que caiu no Índico

Florence De Changy

  • Andrew Winning/Reuters

Um Boeing 777 da Malaysia Airlines, com 239 pessoas a bordo, desapareceu após 40 minutos de voo, na noite de 7 de março de 2014, entre os espaços aéreos da Malásia e do Vietnã. Segundo as autoridades malaias e com base em informações fornecidas pela empresa britânica Inmarsat, o avião teria mudado completamente de trajetória e depois voado até acabar o combustível, para por fim cair no sudeste do oceano Índico, a 2 mil km das costas australianas.

A Malásia, a China e a Austrália decidiram, no dia 21 de julho, que as buscas submarinas conduzidas por Canberra poderiam durar ainda alguns meses, em função do tempo, mas que elas não se estenderiam para além da atual zona de sobrevoo de 120 mil km².

O fim das buscas será seguido do relatório do inquérito. Sem destroços nem caixa-preta, os investigadores deverão propor uma causa plausível para o mais estranho desastre da história da aviação civil. Se nenhuma falha técnica do Boeing e nenhuma falha humana da Malaysia Airlines forem identificadas, e na ausência de outra causa externa como um ato terrorista ou de guerra, será muito difícil para as seguradoras dividirem as responsabilidades desse desastre aéreo, já classificado como "desaparecimento sem notícias."

Segundo diversas fontes próximas do governo malaio, ainda é a teoria de um piloto suicida que circula entre a cúpula de Kuala Lumpur. Danica Weeks, que perdeu seu marido, o neozelandês Paul Weeks, no voo MH370, ainda afirmou ao programa australiano "60 Minutes", transmitido no dia 1º de agosto, que, durante uma conversa com a mulher do primeiro-ministro malaio Najib Razak, esta última havia explicado que o avião havia sido "tomado pelos pilotos".

Relembre como foi o desaparecimento do voo MH370 da Malaysia Airlines

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A teoria de um suicídio permitiria explicar o fracasso das custosas buscas submarinas conduzidas pela Austrália desde o desaparecimento do aparelho, pois estas se basearam em um cenário de voo em piloto automático, e não de um avião sob controle. No entanto, creditar o sumiço a essa ideia implicaria na realização de buscas em outras zonas marítimas.

Nos primeiros dias que se seguiram à perda do avião, o comandante de voo, Zaharie Ahmad Shah, esteve no centro das suspeitas. Foram sugeridas desde fortes tensões em família até fanatismo político, passando por ligações com o Paquistão e nenhum compromisso anotado na agenda depois do dia 8 de março de 2014.

Nada de fanático

No entanto, o relatório provisório publicado em março de 2015, um ano após o desaparecimento do avião, afirma sobre o piloto: "Boa resistência ao stress, tanto no trabalho quanto em sua vida privada. Não há histórico de apatia, ansiedade ou irritabilidade". Quanto ao relatório confidencial da polícia malaia sobre Zaharie Ahmad Shah, ao qual o "Le Monde" teve acesso, ele explora todas suas comunicações telefônicas, seus contatos, sua atividade na internet e suas relações nas redes sociais, suas atividades de lazer, bem como sua saúde física e mental e suas finanças, sem trazer nenhuma prova de desequilíbrio. Seu último telefonema, dado antes da decolagem, foi para sua mulher.

A investigação do "Le Monde" na Malásia sobre a personalidade do piloto permitiu estabelecer que o comandante, de 53 anos e 18.423 horas de voo, não tinha nem problemas de dinheiro, nem grandes preocupações familiares. Ele era considerado um dos melhores pilotos da companhia. Seu engajamento político contra o primeiro-ministro malaio não tinha nada de fanático. Ele era casado e pai de três filhos. Seus amigos e ex-colegas o descrevem como um homem simpático e alegre, de espírito aberto, generoso, ativo, apaixonado por culinária e trabalhos manuais, mas antes de tudo pela aviação. Ele deixava seus amigos testarem seu simulador que, no dia do voo, estava desmontado para ser atualizado. Ele não funcionava mais desde o dia 20 de fevereiro e havia sofrido duas panes recentes.

O simulador do piloto está hoje no centro das especulações. Em março de 2014, a polícia e o FBI afirmaram não ter encontrado nada de suspeito. Contudo, as suspeitas redobraram de intensidade desde que a "New York Magazine" publicou, no dia 22 de julho, um artigo intitulado "Exclusivo: O piloto do MH370 havia efetuado um voo parecido com o último voo em seu simulador". O artigo indica que "essa revelação é a prova mais forte até o momento de que Zaharie sequestrou o avião em um ato premeditado de suicídio e assassinato coletivo."

Mas esse artigo se baseia unicamente em duas páginas de um documento que o "Le Monde" viu integralmente, e que não permite de forma alguma concluir em um ato premeditado do piloto. No documento está especificado que as sete coordenadas extraídas do arquivo de dados apagados por sua relevância levando em consideração a suposta rota do voo MH370 foram encontradas "entre inúmeras outras". Duas se encontram no sul do oceano Índico.

Os autores do relatório indicam que eles não têm condições de estabelecer que essas coordenadas pertençam a um único e mesmo voo. Em compensação, outros planos de voo completos são mencionados, sendo um voo em um DC-3.

Um outro documento de 65 páginas classificado como "confidencial" conclui a análise do simulador e dos seis discos rígidos do piloto nos seguintes termos: "A investigação mostra que não há informação que permita explicar o desaparecimento do voo MH370."

Um jurista malaio que prefere se manter anônimo olhou todo o dossiê e observou algumas grandes incoerências nele. Em sua opinião, elas indicam que se trata de uma tentativa de incriminação. "Pediram aos autores que encontrassem dados que pudessem ter relação com a rota presumida do avião. Eles teriam encontrado dois deles no oceano Índico. Mas por que o relatório não indica os milhares de outros pontos?", questiona esse observador familiarizado com os relatórios de polícia malaios.

O ministro malaio dos transportes, Liow Tiong Lai, inicialmente havia desmentido a existência do documento para em seguida indicar, no dia 4 de agosto, que ele não provava que o capitão Zaharie tivesse premeditado um voo para o oceano Índico. "Sim, existem os dados do simulador, mas é uma rota entre milhares de outras com destino a inúmeros pontos do mundo", declarou o ministro.

Uma série de tentativas de explicação

As autoridades australianas confirmaram a existência de um "voo" acima do oceano Índico no simulador do piloto, mas negaram que isso presumisse sua culpa. Se essas coordenadas, encontradas em maio de 2014, tivessem sido consideradas verossímeis pela investigação, as buscas deveriam tê-las levado em conta. Só que elas ocorreram a 1.300 km a noroeste dos dois pontos encontrados no simulador.

Duas novas análises vieram se somar à série de tentativas de explicação para o desaparecimento do MH370. Segundo um investigador canadense de desastres aéreos, Larry Vance, o estado do flaperon encontrado em Reunião provaria que o avião pousou na água e depois afundou inteiro, limitando o campo de destroços que um desastre não controlado teria criado. Esse cenário de um pouso suave foi considerado "totalmente irrealista com um avião desse tipo, ainda mais no oceano Índico" por um oficial da marinha familiarizado com pousos em porta-aviões e mares do Sul.

Já o jornal "The Australian" afirmou em sua edição de 9 de agosto, com base em simulações realizadas pela Boeing, que o MH370 teria na verdade caído rapidamente após acabar suas reservas de querosene. Essa última teoria tende a justificar que as buscas atuais aconteceram no lugar certo. Restam alguns meses para provar.

Um grupo intercontinental de pesquisadores formado de forma voluntária para oferecer uma avaliação independente aos trabalhos oficiais afirmou ao "Le Monde" que não tinha condições de se pronunciar sobre uma possível culpa do comandante de voo.
 

Tradutor: UOL

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