Como melhorar a contagem do número de participantes em manifestações
O número de participantes das “Manif pour tous” (Manifestação para todos, em francês), que se reuniram para protestar contra o casamento homossexual em 2012 e 2013, suscitou polêmica quanto à grande discrepância entre os números apresentados pela polícia e pelos organizadores. Comparação de métodos, estudos de imagens aéreas, cálculos de densidade, medição de trajetos e da largura de avenidas… nada disso permitiu aproximar, senão conciliar, os pontos de vista. Então, foi criada uma comissão de especialistas em maio de 2014 para estudar a melhor maneira de se fazer essa contagem.
Dominique Schnapper, ex-membro do Conselho Constitucional e diretora da Escola de Estudos Superiores em Ciências Sociais, Pierre Muller, inspetor-geral do Insee, e Daniel Gaxie, professor de ciências políticas na Paris-I-Panthéon-Sorbonne, acabam de submeter seu relatório ao departamento de polícia de Paris.
As três personalidades acompanharam diversas manifestações junto de funcionários da polícia. Elas entrevistaram as organizações sindicais que quiseram se prestar ao exercício crítico e estudaram diferentes métodos de substituição ou de complementação: amostragem, avaliação dos meios de transporte utilizados (ônibus, trem, metrô etc.) e até o levantamento do número de celulares ligados no trajeto. Toda essa avaliação para se chegar à conclusão de que o sistema atualmente usado pela polícia --a contagem manual-- continua sendo o menos imperfeito. “Não existe sistema mais confiável”, constatou Dominique Schnapper.
Hoje, as autoridades posicionam policiais nos pontos altos do percurso, que contam as fileiras de manifestantes que passam por um ponto fixo, com o contador na mão, registrando com um clique cada vez que passam dez pessoas. É esse número, arredondado para cima, que é dado à imprensa no momento da ordem de dispersão.
Nos dias seguintes, uma nova contagem de validação é efetuada diante de um monitor com o vídeo da passeata. Para verificá-la, os três especialistas tiveram o cuidado de eles mesmos se dedicarem à tarefa, sobretudo durante as manifestações do dia 1º de maio, organizadas pelos sindicatos ou pela Frente Nacional. “Nós chegamos a números menores que os da polícia”, explica Schnapper.
No entanto, a comissão faz algumas recomendações em seu relatório. Ela acredita que, em vez de um número preciso, a polícia só deveria dar uma margem na noite das manifestações ou indicar, como os institutos de sondagem fazem, a possibilidade de uma margem de erro. “Assistir em tempo real a uma manifestação só permite obter, na melhor das hipóteses, uma ordem de grandeza”, diz o relatório. Ela considera que seria preciso aumentar o número de pontos de contagem, para dar conta dos manifestantes que não fazem o percurso inteiro.
Outra sugestão seria “fazer uma campanha de transparência junto a jornalistas, insistindo para que eles façam o mesmo trabalho que o da comissão e assistam eles mesmos às operações de contagem”. A comissão acredita que o departamento de polícia também deve continuar estudando outros modos de contagem além daquele que é utilizado atualmente, que, no final, é apenas o menos imperfeito. Há testes com softwares sendo feitos, mas por enquanto nenhum deles se mostrou totalmente satisfatório.
A comissão espera que suas recomendações permitam “suscitar a confiança do público em boa fé”, o que é uma tarefa quase impossível. “Os números sobre o número de manifestantes têm uma dimensão política”, como bem sabem os membros da comissão.
Tradução: UOL
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