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Proibição de foie gras rebaixa iguaria a miúdos

Especial para o UOL

01/06/2015 06h00

Foi com um grande espanto que recebi a notícia de que acaba de ser aprovada pela Câmara Municipal de São Paulo uma lei que proíbe a comercialização do foie gras. Logo a cidade de São Paulo, a capital cultural e gastronômica do país!

Uma tradição de séculos que nos presenteia com uma das mais finas iguarias - sempre confundida com patê, um dos seus inúmeros subprodutos - tem aqui sua patente rebaixada ao humilde nível dos miúdos (sem querer diminuir os miúdos).

O autor do projeto de lei se baseia em imagens colhidas na internet que mostram realmente alguns animais vítimas de maus tratos. Sendo que essas imagens nem foram feitas no Brasil. Será que todos os produtores de foie gras tratam os animais da mesma maneira? Com certeza não. Esse é mais um típico caso no qual os bons pagam pelos maus.

Será que os patos ou gansos em questão sofrem mais que os frangos de granja ou o gado criado em confinamento? Esses animais são entupidos de hormônios e submetidos a enormes níveis de estresse durante toda a vida, enquanto esperam pelo abate.

Opinião - Chef Renato - Divulgação - Divulgação
Caneloni de pato com foie gras do restaurante Così (SP)
Imagem: Divulgação

Os patos criados para o foie gras comem somente milho de boa qualidade. O processo de gavagem (alimentação através de um tubo colocado na boca ou no nariz) dura apenas 15 dias, e o aproveitamento é de quase 100%. Então, não seria melhor criar um conjunto de regras para enquadrar e padronizar a produção?

O autor da lei afirma que seria um sinal de evolução de espécie humana parar com esse tipo de prática, ao mesmo tempo que nosso legislativo permite que o sacrifício de animais para fins religiosos esteja dentro da lei. Isso sim é muito evoluído.

Eu, como um amante da boa mesa e das tradições culinárias, vejo essa lei com muita preocupação, principalmente pelos efeitos negativos que ela poderá acarretar na cena gastronômica paulistana.

Enfim, só nos resta esperar que o nosso prefeito, um apreciador confesso da iguaria, não sancione a lei e deixe a cidade de São Paulo livre para continuar sendo a capital cultural gastronômica do Brasil.

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