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Collor mira revista Veja durante CPI do Cachoeira e provoca críticas em reunião

Maurício Savarese

Do UOL, em Brasília

17/05/2012 11h35

Ao sugerir a separação dos áudios de conversas do bicheiro Carlinhos Cachoeira com um jornalista da revista Veja, o senador Fernando Collor (PTB-AL) se transformou em alvo de ataques duros de adversários na CPI que investiga as relações do contraventor. Acusado de tentar cercear a imprensa, ele acabou recuando e sua proposta foi desconsiderada pelo relator, deputado Odair Cunha (PT-MG).

Collor afirmou que o diretor da sucursal de Brasília da revista, Policarpo Júnior, "coabitava criminosamente" com Cachoeira, sua fonte desde 2005 e que chegou a contar com sua defesa em uma sessão do Conselho de Ética do Senado no mesmo ano. O ex-presidente afirmou que as investigações da PF não isentam o jornalista, embora ainda não o tenham culpado, de vazar informações ilegalmente e de integrar a quadrilha do bicheiro.

Apesar da proposta, a CPI já terá poderes para acessar todos os áudios compilados pelas operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal. Por conta disso, depois de mais de uma hora de discussão arrastada, os membros decidiram que a sugestão já estava prejudicada pelo acesso amplo às investigações e evitaram destacar os trechos de conversas com o jornalista.

Nesse período, vários parlamentares se manifestaram contra a sugestão de Collor. O mais duro deles foi o senador Pedro Taques (PDT-MT), que chamou de "ridículo" o requerimento do colega. Repetiu várias vezes que a sugestão se deu por "vingança", "autoritarismo" e "perseguição". Há 20 anos, a revista Veja publicou uma entrevista com Pedro Collor, irmão do então presidente, que denunciou um esquema de corrupção comandado por seu tesoureiro, Paulo César Farias. O escândalo terminou no processo de impeachment de Collor.

O deputado Ônyx Lorenzoni citou poesias para concluir que "alguns iluminam, outros iludem. Alguns iludiram tanto que caíram". Collor renunciou à Presidência da República em 1992, após votação no Congresso pedir seu impeachment. O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) chamou a sugestão de "tentativa de cerceamento de imprensa", uma vez que os dois delgados da PF envolvidos nas investigações sobre a quadrilha de Cachoeira teriam negado qualquer irregularidade do jornalista.

Em meio às críticas de governistas e oposicionistas, o relator Odair Cunha, que tinha apoiado a proposta, recuou da disposição inicial e Collor fez o mesmo. Mesmo se dizendo crítico da revista, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) ironizou a sugestão de Collor e indicou que a CPI não vai aprovar requerimentos que tenham apoio do relator. "Aqui não há marajanato", disse ele. O senador por Alagoas se elegeu para o Palácio do Planalto em 1989 com o slogan de "caçador de marajás".

O ex-presidente disse que fica "abismado" com o que chamou de confusão entre solicitar o "pinçamento" dos áudios de Policarpo e uma tentativa de cerceamento de imprensa.

Entre os mais de 200 requerimentos a serem votados pela comissão, ainda há outras polêmicas sugeridas por Collor. Ele quer que tanto Policarpo como o dono da editora Abril, Roberto Civita, sejam ouvidos pela CPI.