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Piloto confirma versão de Joesley sobre viagem de Temer em jatinho da JBS, diz jornal

Michel Temer (PMDB) viajou com a família em jatinho particular da JBS, segundo delação - Ueslei Marcelino/Reuters
Michel Temer (PMDB) viajou com a família em jatinho particular da JBS, segundo delação Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Do UOL, no Rio

09/06/2017 10h12

O piloto do voo que levou o então vice-presidente Michel Temer (PMDB) e sua família a Comandatuba, na Bahia, em 12 de janeiro de 2011, confirmou o relato de Joesley Batista, dono do grupo JBS, segundo reportagem do jornal "O Globo", publicada nesta sexta-feira (9).

Joesley havia revelado ao MPF (Ministério Público Federal) e à PGR (Procuradoria-Geral da República), em acordo de colaboração premiada, que disponibilizou, na ocasião, um jato particular para a viagem do então vice da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). A viagem foi omitida da agenda oficial de Temer.

Na terça (6), a Presidência informou que Temer e família haviam viajado em um jato da FAB (Força Aérea Brasileira) de São Paulo para Comandatuba. No entanto, um dia depois, mudou a versão inicial com uma segunda nota e informou que o avião era particular, porém, que Temer não sabia quem era o proprietário.

Além de ratificar a versão do delator, o piloto José de Oliveira Cerqueira, 61, disse ter entregado pessoalmente um buquê de flores para a mulher do agora presidente, Marcela Temer. "Mandaram entregar as flores no avião. A própria empresa me orientou a informar que quem enviou foi dona Flora", disse ele a "O Globo", em referência à matriarca da família Batista, mãe de Joesley.

"O que posso te dizer é que teve as flores. Não comprei, mandaram entregar lá. Fiz o que a empresa me mandou fazer. Isso tudo que o Joesley falou é verdade."

Em seu relato feito a procuradores, Joesley também citou as flores para contradizer a versão de presidente, de que ele não sabia quem era o dono do jato. O empresário disse que o próprio Temer telefonou para ele para agradecer o envio das flores.

Segundo reportagem da “Folha de S. Paulo”, Temer disse a aliados que foi o ex-ministro Wagner Rossi quem ofereceu a ele o avião particular de Joesley. Temer teria pedido a Rossi, que é seu amigo e era ministro da Agricultura na ocasião, uma aeronave para a viagem a Comandatuba.

Lista de encontros do vice-presidente Michel Temer no dia 12 de janeiro de 2011, conforme agenda oficial - Reprodução - Reprodução
Lista de encontros do vice-presidente Michel Temer no dia 12 de janeiro de 2011, conforme agenda oficial
Imagem: Reprodução

Piloto diz que desconhecia passageiros

Cerqueira, que exerce a profissão há 33 anos, contou a "O Globo" não ter sido informado com antecedência sobre quem seriam os passageiros do voo. Disse ainda não se lembrar do que foi falado dentro da aeronave, o jatinho Learjet PR-JBS.

"Sempre que tem um voo, nós tripulantes ficamos sabendo muito em cima da hora quem são os passageiros. Nesse, foi do mesmo jeito. Então, eu não posso afirmar o que o presidente e a família sabiam, o que se falou dentro do avião, porque a gente não tem esse acesso."

De acordo com diário de bordo do avião particular de Joesley, sete pessoas estavam no jatinho no voo de volta, entre elas Temer e sua família. Documentos obtidos pela PGR indicam que os registros do voo têm a anotação "Família sr. Michel Temer".

Cerqueira afirmou que se recorda da presença de Temer, de Marcela de um "filho pequeno". "Eu me lembro que era a família dele, mas não sei dizer quem eram as pessoas. Tinha a esposa dele e um filho pequeno, isso eu lembro."

O documento com as informações sobre a presença da família Temer no jatinho foi entregue por Joesley aos investigadores da Lava Jato com o objetivo de mostrar que ele e Temer eram próximos, ao contrário do que alega o presidente.

Há, contudo, divergência quanto à agenda oficial e o plano de voo da aeronave. Segundo a "TV Globo", o avião decolou de Congonhas, em São Paulo, às 13h55 com Temer e família e chegou a Comandatuba às 15h15. Depois, teria ficado somente 15 minutos no chão e então decolado para Brasília.

O então vice-presidente teria chegado à capital federal às 17h, embora na agenda oficial o primeiro compromisso no gabinete conste às 16h.

Joesley gravou conversa com o presidente e a deleção premiada deu origem a investigação aberta contra Temer com autorização do STF (Supremo Tribunal Federal).

Em recente entrevista à "Folha de S. Paulo", Temer reconheceu que conhecia o executivo antes da conversa que tiveram no Palácio do Jaburu, em março deste ano, mas disse que ele é um "falastrão", "uma pessoa que se jacta de eventuais influências”.