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Homossexuais evitam consultório por medo de preconceito, mostra estudo

11/08/2008 17h00

São Paulo - Estudo do Programa Estadual de Saúde do Adolescente realizado durante a última edição da parada Gay de São Paulo revela um dado preocupante. Na amostra de 526 meninos e meninas homossexuais entrevistados durante o evento, entre 14 e 16 anos, foi identificado que 59,6% deles "fogem" dos consultórios médicos por medo de sofrer preconceito.

"É um número alarmante que exige mudanças imediatas nas unidades de saúde", afirmou a coordenadora da pesquisa, Albertina Takeuti "Saber que seis em cada dez adolescentes preferem ficar expostos às doenças do que procurar atendimento, nos mostra que é preciso alterar a forma como eles são acolhidos nos hospitais e postos."

Entre os motivos apresentados pelos adolescentes gays para a recusa de ir ao médico está a forma como são recebidos. Eles afirmaram que, devido a aparência, são julgados pelos olhares de quem está na sala de espera e, principalmente dos atendentes, que insistem em questionar a opção sexual. Apesar de nenhuma pesquisa semelhante ter sido feita com o público juvenil heterossexual, Albertina avalia que a resistência aos médicos desta parcela é bem menor.

"As meninas que gostam de meninos, por exemplo, são incentivadas pelas mães a procurar o ginecologista quando começam a namorar. Já as lésbicas, muitas vezes, são recebidas com silêncio ou rejeição na família. Tudo isso influencia", diz. "Se os adolescentes gays não tiverem amparo dos médicos, vão continuar distante da prevenção. Vamos capacitar 600 profissionais de saúde para atendê-los da melhor maneira."

A presidente da Associação Nacional de Travestis e Transgêneros, Keila Simpson, comenta outra forma equivocada de tratar os pacientes GLBT. "Sempre quando chegamos ao médico, ele só considera uma possível DST (doença sexualmente transmissível) ou aids. Descarta que podemos adoecer por vários outros motivos, como diabetes. Só reforça o preconceito."

Zora Yonara, assistente social especializada em homofobia na adolescência, avalia que a forma como os adolescentes gays são tratados é uma extensão de como são encarados na sociedade. "A primeira forma de preconceito é expressa pela família, a mais dolorida. Depois vem as escolas, os hospitais...É preciso uma mudança cultural", afirma.

Cartilha

O Ministério da Saúde lançou uma cartilha para padronizar o atendimento ao público GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e Transgêneros). Ficou estabelecido que os pacientes podem usar o nome social para preencher as fichas. É um direito adquirido, que deve ser exigido. Por exemplo, se o registro de batismo aponta o nome João da Silva, mas durante a vida a pessoa adotou a identidade Joana, é possível optar por ser chamado assim nos consultórios. Além disso, qualquer pessoa que sofrer preconceito nas unidades médicas deve registrar queixa nas ouvidorias. Nos postos da Prefeitura, o número para a denúncia é o 156.

Fernanda Aranda