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Pessoas resilientes têm a capacidade de dar a volta por cima; você é uma delas?

Reynaldo Gianecchini, aqui posando para a campanha O Câncer de Mama no Alvo da Moda, é um exemplo de pessoa que superou as adversidades, transformando experiências negativas em aprendizado - Rogério Mesquita/Divulgação
Reynaldo Gianecchini, aqui posando para a campanha O Câncer de Mama no Alvo da Moda, é um exemplo de pessoa que superou as adversidades, transformando experiências negativas em aprendizado Imagem: Rogério Mesquita/Divulgação

Chris Bueno

Do UOL, em São Paulo

07/09/2012 07h00

Frente a uma situação difícil, o que você faz: chora, foge ou enfrenta? Pois é, há pessoas que além de ficarem e enfrentarem os problemas, ainda conseguem se beneficiar com eles, aprendendo e crescendo emocionalmente. Essas são as pessoas resilientes.

O termo veio da física para designar a capacidade que alguns materiais têm de absorver impactos e retornar à forma original.

Quando se trata do comportamento humano, a palavra significa a habilidade de lidar e superar as adversidades, transformando experiências negativas em aprendizado e oportunidade de mudança. Ou seja, “dar a volta por cima”.

“Ser resiliente é ter a capacidade de enfrentar crises, traumas, perdas, graves adversidades, transformações, rupturas e desafios, elaborando as situações e recuperando-se diante delas”, explica Paulo Yazig Sabbag, professor de gestão de projetos e gestão do conhecimento da Faculdade Getúlio Vargas-FGV, e presidente da Sabbag Consultoria.

Apesar de o termo ser usado há mais de 30 anos pela psicologia, a palavra ganhou popularidade depois do ataque terrorista ao World Trade Center, nos EUA, em 11 de setembro de 2001.

Depois da tragédia, o governo do então presidente George W. Bush distribuiu cartilhas às pessoas envolvidas com o acidente para ensiná-las e estimulá-las a retomar a vida normalmente, superando o trauma.

No entanto, muitas vezes confunde-se resiliência com resistência – que são duas características diferentes, de acordo com Ana Maria Rossi, presidente do Isma-BR, associação brasileira integrante da International Stress Management-ISMA, voltada à pesquisa e ao desenvolvimento da prevenção e do tratamento de estresse no mundo.

“Uma pessoa resistente é aquela que ‘segura as pontas’, resistindo a situações de pressão. Já uma pessoa resiliente, além de suportar a pressão, aprende com as dificuldades e os desafios, usando sua flexibilidade para se adaptar e sua criatividade para encontrar soluções alternativas”, explica ela.

Superando traumas

Existem muitos exemplos famosos de pessoas resilientes, que transformaram verdadeiras tragédias em oportunidade de crescimento. Entre eles estão o físico britânico Stephen Hawking, que formulou a teoria da cosmologia quântica após ser acometido por esclerose amiotrófica que comprometeu toda sua mobilidade; o romancista húngaro Imre Kertész, sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz e hoje Prêmio Nobel de Literatura; e o ator Reynaldo Gianecchini que foi diagnosticado com linfoma não-Hodgkin, um tipo raro de cãncer que se desenvolve nos linfócitos e conseguiu se recuperar.

Até mesmo o pesquisador que começou a utilizar o termo para estudar o comportamento humano é um exemplo de pessoa resiliente. O neurologista e psiquiatra austríaco Vitor Frankl, sobrevivente de Auschwitz, utilizou sua experiência como prisioneiro do mais famoso campo de concentração nazista como inspiração para seus estudos sobre a resiliência.

Em seu livro “Em busca de sentido” (editora Vozes), Frankl aponta que “mesmo nas situações mais absurdas, dolorosas e desumanas, a vida tem um significado em potencial e, portanto até o sofrimento tem sentido”.

Mas nem toda pessoa resiliente é famosa. Este é o caso dos moradores de rua, estudados pela psicóloga Magali de Sousa Alvarez, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP. Por dez anos ela acompanhou os moradores de rua de São Paulo, analisando seu comportamento e  resiliência em um cenário marcado por preconceito, violência e desprezo.

De acordo com a pesquisadora, ninguém é resiliente sozinho: a interação com outras pessoas é fundamental para superar situações difíceis. “A comunidade onde crianças e adultos vivem pode ajudar a sublimar traumas e compor pessoas resilientes, pela energia vinda dessa interação”, afirma.

Profissionais resilientes

Resiliência também é uma palavra muito usada no mercado de trabalho. Cada vez mais empresas buscam funcionários que sejam resilientes, isto é, que suportem bem a pressão, que sejam flexíveis e que usem a criatividade para resolverem problemas.

Mas as empresas não procuram apenas funcionários resilientes, buscam elas mesmas serem organizações resilientes, tornando-se capazes de enfrentar crises e sair delas renovadas e fortalecidas.

“Uma organização resiliente é uma corporação inteligente, reflexiva, onde as pessoas podem exercitar sua inteligência, liberdade de expressão e responsabilidade pelos atos e ideias”, explica Débora Patrícia Nemer Pinheiro, psicanalista do Hospital das Clínicas de Curitiba e professora de psicologia da Universidade Positivo, no Paraná.

De acordo com Sabbag, para uma empresa se tornar resiliente, ela precisa primeiramente trabalhar a resiliência de seus funcionários – especialmente de seus dirigentes.

“Se as pessoas que tomam as decisões são pessoas resilientes, elas conseguem guiar a empresa em épocas de crise, pois aprendem com os erros e conseguem superar os problemas. E ainda servem de modelo aos funcionários”, diz.

  • O físico britânico Stephen Hawking, que formulou a teoria da cosmologia quântica após ser acometido por esclerose amiotrófica, é outro exemplo

Aprendendo a ser resiliente

Para alguns, a resiliência é uma característica de nascença. “Algumas pessoas já nascem mais resilientes, assim como outras nascem mais agressivas ou mais passivas. Elas já têm uma capacidade de se reestruturar e se transformar dependendo do desafio”, diz Rossi.

No entanto, essa capacidade pode ser aprendida em qualquer fase da vida. Além disso, resiliência não é uma característica que você possui ou não: há graus variados de como uma pessoa consegue lidar com o estresse.

“A resiliência é o resultado de fatores internos (sua subjetividade e estruturação psíquica) e externos (circunstâncias sociais, econômicas) e o produto disto é a criação de um sentido para a própria vida por meio do estabelecimento de um rumo, uma direção que perpasse os objetivos e projetos na vida de uma pessoa”, explica Nemer. Desta forma, é possível tanto aprender a ser resiliente como aumentar o grau de resiliência.

Para se tornar uma pessoa resiliente, é preciso força de vontade e trabalhar com um profissional. A terapia pode ajudar a ter maior tolerância a mudanças, a definir objetivos de vida, a ser mais otimista, a respeitar seu próprio comportamento e a fortalecer sua estrutura emocional.

Além disso, é importante contar com o apoio do grupo em que se está inserido, e com o amor das pessoas que o cerca. Como aponta Alvarez: “resiliência é uma dança bem sucedida na música da vida. Não uma dança com bailarinos solitários: ela pede parcerias, empatia, encontros. Ela fala de amor”, afirma.