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Crianças em tratamento de câncer recebem doação de perucas

Renata Tavares

Do UOL, em Uberlândia

10/07/2014 10h00

Ter a sensação de ter os cabelos de volta em poucos minutos para quem faz quimioterapia, pode ser considerado um sonho. Para duas crianças de 10 anos que fazem tratamento no Hospital do Câncer em Uberlândia, a 537 quilômetros de Belo Horizonte, se olharem no espelho e verem os fios na cabeça foi motivo de muitos sorrisos. As duas foram as primeiras crianças pacientes do hospital a ganharem perucas feitas com cabelos naturais.

Maria Luiza Tófolis foi a primeira criança a receber a peruca. Ela é tímida, recebe a reportagem olhando para o telefone no leito do hospital, responde a todas as perguntas em voz baixa e quase sempre com duas frases. Descobriu a leucemia em novembro do ano passado. Perdeu os cabelos da cabeça logo nos primeiros dias de tratamento e agora quase próximo de receber alta da quimioterapia, ganhou uma peruca feita com cabelos naturais.

Com todo cuidado, a mãe Ana Paula Tofolis penteia os cabelos da peruca, arruma a tiara e coloca na cabeça da filha. Desde que recebeu o presente, do banco de cabelos do Hospital do Câncer de Uberlândia, Maria Luíza ou Malu como é chama por todos no hospital, não sai de casa sem antes coloca-la. “Eu me sinto mais bonita. Mais animada”, disse.

Ana Paula conta que desde o início, a preocupação, além de toda as complicações da doença, era com a autoestima da filha. “Ela não costuma demonstrar muito os sentimentos. No início eu tive medo de ela reagir mal a perda dos cabelos, por ser muito vaidosa, mas ela foi forte e agora está melhor ainda”.

Dois andares para baixo no hospital estava Lowise Maciel, 10 anos. A pequena, sofre com o sarcoma de Ewing, um tumor nos ossos que afetou o crânio dela. Segundo a pediatra Tatiana Macedo, esse é o segundo tipo de câncer mais comum em crianças.

Lowise, segundo a mãe Larissa Maciel, perdeu os cabelos na primeira sessão de radioterapia. “Nós ainda estávamos no hospital. Como aqui não tinha espelho, ela saiu sem se ver e eu tive muito medo da reação dela. Mas, assim que ela saiu do banheiro disse que estava linda carequinha e eu me senti mais tranquila”, revela.

Mas, com o passar dos dias a menina se incomodou com o fato de que as crianças olhavam para ela de forma diferente. “Nós saíamos com ela e tinha sempre alguma outra criança perguntando porque ela não tinha cabelos”. Larissa ainda conta que chegou a procurar algumas sintéticas, mas a criança não se adaptou.  “Sei que a falta dos fios a incomodou, porque sempre que vínhamos para a quimioterapia ela se arrastava. Era muito difícil, tinha que praticamente empurrá-la e quando ganhou a peruca, se arrumou toda e caminhava com passos firmes. Eu nem precisei me esforçar para trazê-la”.

Parte dos cabelos doados para a peruca de Lowise, foi de uma amiga da família. A criança, ficou encantada com o que viu no espelho. “Quando me olhei, pensei ‘tenho meus cabelos de volta’. Eu estava com saudades de me ver assim”, concluiu a pequena. 

Interação social

A pediatra Tatiana Macedo explica que a criança tende a ser discriminada por outras quando é diferente, por isso, o uso da peruca além de ajudar a melhorar a autoestima, também melhora a interação com outras crianças. “Elas tem mais facilidade para lidar com a doença, que o adulto, mas passa a sofrer com os embates da interação social. Porque as outras crianças passam a achar diferente, questionar e algumas vezes excluem. E a peruca vem ajudar para que ela se iguale aos outros e tenha mais facilidade nesta interação”, explica.

Os fios são doados ao hospital por mulheres e homens de todas as partes do país. O banco de cabelos HCU recebe uma média de 5 doações por dia, enviadas pelos Correios. “Nós também fazemos os cortes no hospital uma vez por semana. Neste dia, cerca de 10 mulheres vão lá e cortam os fios”, revela Heliana Machado de Assis, coordenadora do banco de cabelos do HCU.

O projeto de confecção de perucas para os pacientes começou em 2012, porém, segundo Heliana Machado, elas eram feitas com cabelos artificiais e apenas para adultos. Desde o início do ano, ela e a cabeleireira Miriam Denezine, que também é voluntária, começaram a fazer com os cabelos naturais. “Fazemos uma por semana, porque são necessárias três doações para fazer uma só, porque há perdas durante o processo”, disse.

Para ter acesso às perucas, os adultos pegam emprestado e quando os cabelos começam a crescer eles devolvem para que outros possam usar. Já para crianças, a confecção começou em junho deste ano com a aplicação de tocas de rede que não esquenta o couro cabeludo e que se ajusta à cabeça da criança.  “Nós queremos atender mais crianças a partir de agora”, complementa Heliana.