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Cresce diagnóstico por zika vírus no Rio de Janeiro

Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas
Imagem: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

16/06/2015 19h52

Dezenas de pacientes foram diagnosticados com o zika vírus nos últimos dias no Rio de Janeiro. A arquiteta Adriana Gonçalves, 37, foi atendida na Policlínica Botafogo na manhã desta segunda e ouviu de uma médica que, no domingo (14), cerca de 100 casos do zika vírus foram identificados por ela na clínica. "Quando ela olhou para mim já disse que era zika. Cheguei a fazer um exame de sangue só para descartar a dengue", contou. A clínica foi procurada pela reportagem, mas não forneceu dados oficiais de diagnóstico por zika vírus em sua unidade.

Os primeiros sintomas começaram a aparecer na última sexta (12). "Meus gânglios na nuca ficaram inflamados, doloridos. No sábado, eu percebi que o corpo começou a ficar manchado e no domingo piorou. E também comecei a sentir dor nas juntas, principalmente atrás do joelho e nos dedos dos pés e das mãos. É uma dorzinha igual dengue, que eu já tive umas duas ou três vezes. Doi bastante", relatou Adriana.

Adriana não foi a primeira pessoa da família a ser diagnosticada com o "primo da dengue". "A minha mãe e a minhã irmã tiveram há umas duas semanas. A mãe de um colega está com o zika agora. Todas com os mesmos sintomas", afirmou a arquiteta. Segundo ela, todos os afetados moram em Vila Isabel, na zona norte da cidade.

O Estado do Rio registrou o primeiro caso do zika vírus no fim do mês passado. O paciente é um homem de 38 anos, que mora e trabalha na Penha, bairro da zona norte da capital fluminense. Ele não viajou recentemente - o que indica que a contaminação ocorreu no município.

Notificação

O subsecretário de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde, Alexandre Chieppe, explica que, com a confirmação do caso com exames de laboratório, o que aconteceu no fim de maio, pode-se afirmar que existe a circulação do vírus no Rio. Segundo ele, não há motivos para alarmar a população.

"Não é uma doença de notificação compulsória caso a caso. É uma doença com um gravidade clínica muito baixa. Não há notificação de casos graves ou óbitos no Brasil. O único objetivo da notificação é alertar os serviços de saúde de que existe a circulação do vírus. A nossa preocupação é com a diferenciação de diagnóstico", afirmou Chieppe.

Segundo o subsecretário, a recomendação às unidades de saúde a partir de agora é que se notifique apenas casos graves, o que ainda não aconteceu.

Como saber se é zika vírus

Introduzido neste ano no Brasil, o zika vírus é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo que também transmite a febre chikungunya (lê-se chicungunha) e a dengue. Segundo informe publicado em maio pelo Ministério da Saúde, a doença tem evolução benigna e não há relatos de mortes.

Os sintomas são parecidos com os da dengue e da febre chikungunya, mas há diferenças que podem indicar o quadro clínico. A principal característica do zika vírus é que a febre é mais baixa que na dengue e no chikungunya, que costuma ser abrupta e acima de 39°C. É comum o surgimento de erupções na pele, que podem ser brancas ou vermelhas, além de uma vermelhidão nos olhos parecida com a conjuntivite, mas sem o pus e a coceira característicos.

Como na dengue e no chikungunya, há dores nas articulações - geralmente mais intensas que na dengue. Há relatos de menor frequência na literatura médica de inchaço, dor na garganta, tosse e até hematospermia (sangue no esperma ao ejacular). Os sintomas duram até sete dias.

A confusão pode acontecer porque a dengue, no seu estágio final, também causa erupções vermelhas e coceira na pele e o chikungunya resulta em dores articulares mais intensas que na dengue e mais duradouras. “Na dengue, a dor é mais difusa. No chikungunya, elas são mais intensas e predominantes, não há tanta dor muscular”, diz o médico Daniel Knupp, vice-presidente da SBMSC (Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade).