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Recebeu a denúncia de que vacinas causam microcefalia? Ela está errada

Estudos mostram que as vacinas são seguras, mesmo se aplicadas durante a gestação - Lukas Schulze/DAP/AFP
Estudos mostram que as vacinas são seguras, mesmo se aplicadas durante a gestação Imagem: Lukas Schulze/DAP/AFP

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

04/02/2016 06h00

Uma denúncia feita no MPF (Ministério Público Federal) de Pernambuco no final de janeiro aumentou os rumores de que vacinas administradas em mulheres, sejam elas grávidas ou em idade fértil, teriam sido as reais causadoras do surto de microcefalia vivenciado no Brasil e não a infecção pelo zika vírus.

O responsável pelo documento é Plínio Santos Filho, físico especialista em ressonância magnética e que se identifica como pesquisador independente. Ele afirma que as vacinas tríplice viral e dTpa foram as responsáveis pela má-formação em bebês.

A denúncia será analisada pelo procurador Alfredo Carlos Falcão Junior, que deve decidir pela investigação ou arquivamento dela depois do Carnaval.

Filho afirma ter analisado dados coletados desde outubro de 2015, “semana a semana”, desde que Pernambuco começou a notificar os casos de microcefalia. Para ele, a relação entre o zika vírus e casos de má-formação no sistema nervoso central na Polinésia Francesa não tem a ver com o que acontece no Brasil.

O Ministério da Saúde criticou a associação feita entre vacinação e casos de microcefalia, afirmando que não há nenhuma evidência científica que comprove essa teoria, e rebateu as informações.

A vacina do sarampo foi dada junto com a da rubéola? Verdade

A vacinação contra sarampo é feita por meio da vacina dupla (contra sarampo e rubéola) ou tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), ou seja, também imunizam contra o Rubella vírus. Segundo Plínio, vacina tríplice teria sido administrada em larga escala em mulheres em idade fértil entre novembro e dezembro de 2014 por causa do aumento do número de casos de sarampo em Pernambuco e no Ceará (neste último a vacinação teria durado até meados de abril), após a Copa do Mundo.

“Se a mulher em período fértil engravidar em até três meses após a vacinação ou se estiver grávida, no início da gestação e não o souber, os efeitos do Rubella virus da vacina tríplice são devastadores ao feto e são conhecidos há décadas”, afirma na denúncia.

De acordo com a Secretaria de Saúde de Pernambuco, a vacinação contra o sarampo durou de 8 de novembro a 22 de dezembro, durante o calendário nacional de vacinação. A pasta informou ainda que mulheres em idade fértil que tomaram a vacina tríplice viral foram questionadas se estavam grávidas e advertidas a evitarem uma gestação por 30 dias.

Essa é uma recomendação do Ministério da Saúde, como medida adicional de segurança. Segundo a pasta, no entanto, estudos mostram que as vacinas são seguras, mesmo se aplicadas durante a gestação. "Esse procedimento tem o objetivo de evitar dúvidas no diagnóstico, caso o bebê tenha algum problema durante a gestação."

Tomar a vacina grávida causa microcefalia nos bebês? Falso

Mesmo que uma mulher grávida fosse vacinada com a tríplice viral, as chances de o vírus da rubéola presente na vacina infectar o bebê são mínimas. O infectologista e professor titular da UFAL (Universidade Federal de Alagoas), Fernando Maia, contou que nos anos 90 foram realizadas duas campanhas massivas contra o Rubella vírus - responsáveis pela erradicação da doença no Brasil, em 2009. As campanhas vacinaram mulheres entre 14 e 40 anos, algumas delas grávidas.

“Havia mulheres que não sabiam que estavam grávidas e mesmo assim foram vacinadas. Elas foram acompanhadas e a taxa de alterações nos bebês ficou em torno de 3%. Nas gestações, em geral, ou seja, naquelas que não há nenhum fator externo, essa taxa é de 6%”, explica.

Maia afirma não acreditar na relação entre vacinas e microcefalia. “O vírus presente na vacina não está ativo (é um vírus vivo atenuado). Ele é fraco e não tem como atravessar a barreira placentária e afetar o feto”, diz.

Além disso, o Ministério da Saúde esclarece que todas as crianças com suspeita de microcefalia no país passaram por testes para as principais causas de malformações: rubéola, toxoplasmose e citomegalovírus. Os casos deram negativos para essas doenças.

Vacina contra coqueluche administrada em grávidas causa microcefalia? Falso

Plínio Santos Filho também afirma que a inclusão da vacina dTpa (contra difteria, tétano e coqueluche) no calendário nacional de vacinação e a recomendação da aplicação em mulheres entre a 27ª e a 36ª semana de gestação estaria provocando o surto de microcefalia em todo o Brasil. A vacina foi incluída no calendário em novembro de 2014. “Se a pessoa pega a bula e ler com cuidado vai ver que ela diz claramente que não existem estudos da aplicação dessa vacina em gestantes.”

O Ministério da Saúde informa que a vacina dTpa gera proteção da mãe para o filho. Além de se proteger, a mãe passa anticorpos para seu filho ainda no período de gestação, garantindo ao bebê imunidade nos primeiros meses de vida.

Segundo o infectologista Fernando Maia, não existe nenhuma evidência que a vacina administrada em gestantes cause má-formação em bebês. “Ao contrário, ela é usada para evitar que o bebê tenha problemas nos primeiros meses de vida. Por isso, eu não acredito nessa relação”, diz.