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Pergunta pro Jokura

Desde quando sabemos que a Terra não é plana?

Foto tirada em 1968 pelos astronautas da Apollo 8 mostra o planeta Terra nascendo no horizonte lunar  - Divulgação/Nasa
Foto tirada em 1968 pelos astronautas da Apollo 8 mostra o planeta Terra nascendo no horizonte lunar Imagem: Divulgação/Nasa

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Pergunta enviada por Rolando Quadros, de Planalmira (GO)

Você eu não sei, mas tem muita gente que ainda não sabe, né, Rolando.

Mas há pelo menos umas 2.600 voltas da Terra ao redor do Sol, já tinha quem reparasse que o planeta não é achatado e que estamos todos na superfície de uma bola, de um globo, de uma esfera. Espera: a rigor, esfera não é o termo geométrico mais preciso para descrever a Terra, já que ela é levemente achatada nos polos.

Ou seja, dá até para afirmar que a Terra não é redonda sem medo de errar ou de se alinhar com o terraplanismo: o mais correto é dizer que nosso planeta é um elipsoide —não como uma azeitona, claro— muito próximo do formato de uma esfera: um esferoide.

Os registros mais antigos especulando sobre a curvatura da Terra datam de uns 600 anos antes de Jesus Cristo rodar por aqui. Tava todo mundo redondamente enganado: até os filósofos da terra das melhores azeitonas, os gregos, jogarem essa ideia na roda. Mas só 300 anos mais tarde é que o conceito da Terra redonda superou o filosofar para virar ciência.

O pai da criança —e da geografia, por assim dizer— foi Eratóstenes. O polímata —sujeito versado em variados campos do saber, como matemática, astronomia, música e poesia— foi o primeiro a calcular a circunferência do planeta. E sem precisar sair de Alexandria, muito menos da Terra, para medir. A régua de Eratóstenes foi o Sol: ele comparou a altura da sombra, ao meio-dia, em Syene (atual Assuã, no Egito), com a altura da sombra, também ao meio-dia, em Alexandria.

A variação entre a altura das sombras era de aproximadamente 7º, cerca de 1/50 de uma circunferência. Isso queria dizer que se ele multiplicasse a distância entre Syene e Alexandria por cinquenta, teria uma ideia do tamanho do globo. Seu chute de 46 mil km errou em 15% a circunferência que conhecemos hoje (40 mil km, arredondando).

Estudos mais recentes, porém, defendem que o cálculo de Eratóstenes foi, na verdade, mais preciso, quase cravando os 40 mil km. A controvérsia se dá porque a unidade de medida usada pelo polímata era o estádio, e ninguém sabe ao certo nas medidas de que bendito estádio ele se baseou.

De 2.300 anos para cá, a ciência seguiu girando e confirmando, com cada vez mais precisão, a redundância de Eratóstenes: desde o desenvolvimento da astronomia, com a observação do movimento das estrelas, passando pelas grandes navegações dos séculos 15 e 16, com navios europeus rumando para oeste a fim de chegar à Índia (tudo bem que o continente americano deu uma atrapalhada na missão), até os cálculos de Newton sobre o formato (quase) esférico da Terra, no século 17.

Essas e muitas outras observações contribuíram para o nosso conhecimento sobre o formato do planeta até conseguirmos enxergá-lo de fora: quando o russo Yuri Gagarin inaugurou o turismo espacial em 1961 e disse que "a Terra é azul", nem se preocupou em descrever o formato consagrado em verso, prosa e cálculo por gerações e gerações de terráqueos.

Mas o mundo dá voltas e é de espantar que em pleno terceiro milênio, rodeados de tecnologia geoplanetária e evidências históricas e científicas, haja milhões de humanos bradando que a Terra é plana ao redor do globo.

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Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado no texto, foi Eratóstenes, e não Erastótenes, o primeiro ser humano a calcular a circunferência da Terra. O erro foi corrigido.