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Zika vírus, uma ameaça para os bebês da América Latina

22/01/2015 08h24

São Paulo, 22 Jan 2016 (AFP) - Uma simples picada de mosquito e, alguns meses mais tarde, um bebê que nasce com a caixa craniana anormalmente pequena: na América Latina, o zika vírus começa a espalhar o pânico, e já levou dois países a desaconselhar, de forma inédita, qualquer gravidez.

Há três meses, quando as primeiras informações sobre uma relação entre o vírus e a microcefalia, uma anomalia congênita rara, apareceram no Brasil, Jacinta Silva Góes descobria que estava esperando seu terceiro filho.

"Tenho muito medo", contou à AFP esta empregada doméstica de São Paulo, que não sabe como se proteger do mosquito tigre, vetor do vírus.

"Por enquanto eu não estou usando repelente porque o médico não me disse nada, ele não me falou do zika. Como ele não me disse o que fazer, não posso decidir por mim mesma já que pode ser perigoso para o bebê", afirma a mulher de 39 anos.

Na região, o temor face ao vírus levou à fumigação do maior cemitério de Lima mas também a recomendações espetaculares das autoridades da Colômbia e El Salvador: não engravidar.

O vice-ministro salvadorenho da Saúde, Eduardo Espinoza, sugeriu na quinta-feira às mulheres em idade fértil de "planejar a gravidez e evitá-las este ano e no próximo". Cerca de 4.000 casos de infecção do vírus foram registrados em 2015, e 1.561 desde o início de janeiro, segundo Espinoza.

O governo colombiano aconselha evitar qualquer gravidez nos próximos seis meses, um anúncio que virou alvo de críticas nas redes sociais e na imprensa.

A infecção por si só parece inofensiva: não contagiosa, ela se manifesta por sintomas gripais (febre, dor de cabeça, dores no corpo) com erupções cutâneas. Em 80% dos casos, a doença, muito raramente mortal, passa despercebida.

- Brasil, país mais afetado -O perigo existe para as mulheres grávidas e o bebê. Após meses de especulações, cientistas brasileiros confirmaram nesta semana que o vírus se transmite de mãe para filho por meio da placenta.

O zika vírus desembarcou no continente ano passado e se propagou rapidamente na região onde o mosquito tigre, que transmite também a dengue e o chikungunya, é onipresente, segundo Sylvain Aldighieri, chefe do departamento de doenças transmissíveis da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS).

Segundo a OPAS, 18 países da América Latina e do Caribe confirmaram a presença do vírus no território. O mais afetado é o Brasil, que não comunica o número de pessoas afetadas, mas os casos de microcefalias que poderiam estar ligados.

Estranhamente, enquanto o vírus se propagava, os casos de microcefalia se multiplicaram: por enquanto, não há nenhuma evidência científica da relação entre os dois, mas os especialistas estão alarmados com o número de casos suspeitos desta malformação congênita, prejudicial para o desenvolvimento intelectual.

Eles chegam a quase 3.900 no Brasil, contra 1.248 em novembro passado, e apenas 147 em relação ao ano de 2014.

O vírus ataca a Colômbia, com 13.500 pessoas afetadas (e uma centena de casos de microcefalia), El Salvador (5.561 doentes) e Honduras (608). Algumas dezenas de casos são relatados em outros países.

Os cientistas também estão investigando uma possível ligação entre o zika e síndrome de Guillain-Barré, que causa paralisia que pode ser irreversível.

- Viagens desaconselhadas -A preocupação chegou aos Estados Unidos, que recomendam que as mulheres grávidas evitem viajar para 14 países da América Latina e do Caribe.

Em Paris, Emilie Goldman escolheu, por prudência, cancelar sua viagem à Bahia. Seu primeiro filho deve nascer em abril.

"Na França não se falava sobre isso", conta a mulher de 33 anos. "Mas comecei a falar com algumas pessoas, alguns médicos, para saber as repercussões e me dei conta que, para uma semana de férias, não valeria a pena correr tantos riscos".

O governo colombiano procura tranquilizar a população: "a relação entre a microcefalia, Guillain-Barré e o zika vírus ainda é apenas uma suspeita, e não uma certeza, ainda não há estudos aprofundados sobre o assunto", explicou o vice-ministro da Saúde, Fernando Ruiz.

Mas o país prevê mais de 600.000 casos do vírus para 2016.