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Príncipe Philip vive à sombra da rainha Elizabeth 2ª

27.mai.2015 - O príncipe Philip ao lado da rainha Elizabeth 2ª - Ben Stansall/ AFP
27.mai.2015 - O príncipe Philip ao lado da rainha Elizabeth 2ª Imagem: Ben Stansall/ AFP

Em Londres

04/05/2017 08h45

O príncipe Philip de Edimburgo, conhecido por sua franqueza, foi o apoio inabalável da rainha nas últimas sete décadas. Agora, prestes a completar 96 anos, se prepara para iniciar uma nova etapa, sem compromissos públicos.

"É minha rocha. Tem sido minha força e minha âncora", declarou, em 2011, a rainha, pouco inclinada a demonstrações de afeto em público.

Naquele ano, quando completou 90 anos, o duque comentou: "É melhor desaparecer que alcançar a data da caducidade".

Philip e Elizabeth se casaram em 20 de novembro de 1947, cinco anos antes de sua mulher ser proclamada rainha. Se ela ostenta o recorde de longevidade no trono, ele é o príncipe consorte que serviu por mais tempo. Como tal, passou a vida inteira andando dois passos atrás dela.

O principal valor deste antigo oficial da Marinha Real, destinado a uma grande carreira militar até que sua mulher chegou ao trono, foi ser "o único homem do mundo a tratar a rainha como um ser humano, de igual para igual", afirmou certa vez Lorde Charteris, ex-secretário particular de Sua Majestade.

Alto, magro e empertigado, poucos usaram os ternos de Savile Row com a mesma elegância. Afastado quando o protocolo exigia, Philip assumiu seu papel secundário no reinado nos melhores e piores momentos.

Segundo admitiu, foram muitos anos tateando e aprendendo a encontrar seu lugar à sombra da rainha e no coração dos britânicos, e no fim conseguiu um alto índice de popularidade, como sua mulher.

Um tribo de Vanuatu chegou a venerá-lo como divindade ligada aos espíritos do vulcão Yasur.

 

Infância traumática?

Tataraneto da rainha Victoria, como a própria Elizabeth, e de ascendência alemã, o duque nasceu príncipe da Grécia e da Dinamarca, em 10 de junho de 1921 na ilha grega de Corfu. Foi o quinto filho de Alice de Battenberg e Andrew da Grécia, e o único filho homem.

Aos 18 meses, foi evacuado, dentro de uma caixa de laranjas, em um barco britânico com o resto de sua família quando a república helênica foi proclamada e seu tio, o rei Constantino I - avô da rainha Sofia da Espanha - teve que se exilar.

Depois de encontrar refúgio perto de Paris, seu pai começou a frequentar os cassinos de Montecarlo e a mãe, depressiva, se refugiou em um convento.

Philip tinha 10 anos. Deixado com parentes distantes, estudou em colégios na França, Alemanha e Reino Unido até ser enviado para um austero internato escocês.

Ingressou posteriormente na Marinha Real britânica e participou ativamente nos combates durante a Segunda Guerra Mundial no Oceano Índico e no Atlântico.

Era um jovem de 18 anos quando conheceu Elizabeth, antes da guerra. Lilibeth, como era chamada por sua mãe, tinha 13 anos e se apaixonou. Os dois se casaram oito anos depois, em 20 de novembro de 1947. Philip, nomeado duque de Edimburgo, teve que renunciar aos seus títulos de nobreza anteriores e a sua religião ortodoxa, convertendo-se à Igreja Anglicana.

Em fevereiro de 1952, a morte prematura de seu sogro, o rei George VI, marcou o fim de sua carreira de oficial na Marinha e deu início ao período como príncipe consorte.

Sem papas na língua

Seu temperamento foi efetivamente vulcânico, sem qualquer consideração pelo politicamente correto, apesar de ter ficado mais calmo nos últimos anos.

"Você conseguiu que não o comessem?", perguntou a um jovem britânico que viajara a Papua-Nova Guiné em 1998.

"Vocês têm mosquitos, eu tenho jornalistas", disse na Dominica em 1966 - depois compararia os profissionais da imprensa aos macacos de Gibraltar.

Na Austrália em 1960, um homem chamado Robinson o abordou e confessou: "Minha esposa, doutora em Filosofia, é muito mais importante que eu".

"Temos o mesmo problema em minha família", respondeu o duque.

Em outra oportunidade, um menino afirmou que desejava ser astronauta e Philip rebateu que ele estava muito gordo para voar.

Ao ser questionado se desejava visitar a União Soviética, respondeu: "Adoraria visitar a Rússia, mas os bastardos assassinaram metade de minha família" (em referência ao destino dos Romanov).

A um instrutor de auto-escola escocês de Oban, ele perguntou: "Como você faz para manter os nativos suficientemente longe da bebida para aprová-los no exame?".

Seu entorno o ouviu reclamar milhares de vezes de seu destino, criticar a perda de valores ou reclamar das loucuras de seus quatro filhos nos anos 1980, e até contra "os malditos cães" da rainha, sempre o agarrando pelas pernas.

"As pessoas têm a impressão de que príncipe Philip não se importa em nada com o que pensam dele, e têm razão", escreveu o ex-primeiro-ministro Tony Blair em suas memórias.