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Marcelo Odebrecht organizou jantar a pedido de Lula

Em Curitiba e São Paulo

18/07/2015 08h55

Relatório de análise de mídia elaborado pela Polícia Federal revela os bastidores de um jantar em São Paulo, na residência do empresário Marcelo Odebrecht, presidente da maior empreiteira do País, em 28 de maio de 2012, do qual participou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Também foram convidados o ex-ministro Antonio Palocci, empresários, banqueiros, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, e dois sindicalistas mencionados na Operação Lava Jato.

"Através da leitura das mensagens acerca deste evento foi possível inferir, grosso modo, que: a) O jantar foi realizado a pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva", aponta o relatório da PF. "d) Foram enviadas mensagens individuais para cada um dos convidados por I.B.G."

A relação entre Lula e a construtora Odebrecht é alvo de um procedimento investigatório criminal (PIC) aberto pela Procuradoria da República no Distrito Federal. A suspeita é de que a empreiteira teria obtido vantagens com agentes públicos de outros países por meio de suposto tráfico de influência do petista, que deixou o Planalto no fim de 2010. A Odebrecht nega ter sido favorecida. Lula não é investigado na Lava Jato.

Nas buscas que realizou na casa do empreiteiro, na manhã de 19 de junho, durante a 14.ª etapa da Lava Jato, a PF apreendeu documentos, correspondências e mídias. Um HD que estava em um cofre no quarto de Marcelo Odebrecht armazenava troca de mensagens sobre o jantar.

"Emílio e Marcelo Odebrecht têm o prazer de convidá-la para um jantar com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no qual será discutida a situação da economia brasileira face a conjuntura internacional", diz o e-mail enviado pela presidência da Odebrecht para Juvandia Moreira Leite, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, em 17 de maio de 2012. "Confirmo a minha presença no jantar com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Saudações sindicais", respondeu Leite.

Ontem, o relatório de análise de mídia foi anexado aos autos da Lava Jato. No documento, a PF aponta para a presença de Juvandia Leite e Sergio Aparecido Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

"Os dois sindicalistas convidados para o evento são também sócios da Editora Gráfica Atitude, empresa apontada pelo empresário Augusto Ribeiro de Mendonça Neto como intermediária de pagamentos de propina destinados ao Partido dos Trabalhadores", registra a PF.

Juvandia Leite e Sergio Nobre são administradores da Editora Gráfica Atitude. Segundo denúncia do Ministério Público Federal, uma parte da propina paga para o ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque na Diretoria de Serviços foi direcionada por empresas do grupo Setal Óleo e Gás, controlado por Augusto Mendonça - delator da Lava Jato - para a Editora Gráfica Atitude Ltda.

O pagamento teria sido feito a pedido do então tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Os procuradores da força-tarefa sustentam que existem, ainda, "vários indicativos de ligação da Gráfica Atitude com o PT".

O Instituto Lula afirmou, por meio de nota, que "é de conhecimento público que o ex-presidente tem por hábito reunir pessoas de diversos segmentos para debater a conjuntura nacional". A Odebrecht informou que repudia "o vazamento seletivo e malicioso de informações que buscam cobrir de suspeitas até mesmo um evento absolutamente comum no meio empresarial e político".

A defesa de Lula entrou ontem com uma reclamação disciplinar no Conselho Nacional do Ministério Público para requerer apuração da conduta do procurador Valtan Timbó Mendes Furtado - autor do pedido de Procedimento de Investigação Criminal (PIC) contra Lula por suposto tráfico de influência em favor da empreiteira Odebrecht no exterior. O Instituto Lula pediu "nulidade de inquérito".