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Crise hídrica de SP trouxe lições e temos que aprender, diz diretor da ANA

13/12/2016 13h25

São Paulo - O diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, disse nesta terça-feira, 13, durante o evento Fóruns Estadão com o tema Sustentabilidade, que a crise hídrica da Grande São Paulo trouxe lições sobre o tema. "Não podemos perder a oportunidade de aprender com essas crises, tirar algumas conclusões importantes a respeito delas e tomar medidas necessárias para que coisas como essas não venham a acontecer novamente", afirmou.

Andreu disse que é preciso mudar o padrão de consumo de água no País. Ele lembra que São Paulo tinha 72 metros cúbicos de consumo geral para atender 20 milhões de habitantes e, na seca, chegou a 52. "A média na região metropolitana é de 320 litros por habitante por dia. É possível perseverar nesse tipo de consumo?", questionou.

Prioridades

A coordenadora da rede de águas da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, destacou que a preservação da água precisa voltar a ter prioridade e que esse bem não pode ser tratado apenas como commodity. "Perdemos a nossa memória, a relação com os rios. Falar hoje para o jovem que mora em cidade urbana que é preciso defender a gestão da água não mobiliza tanto quanto o dia em que o Whatsapp foi suspenso por uma decisão judicial, por exemplo", afirmou ela durante o debate.

Um pouco antes, o biólogo e gerente nacional de água da The Nature Conservancy Brasil (TNC-Brasil), Samuel Barreto, alertou que, atualmente, ainda se faz uma gestão "romana" dos recursos hídricos. "Exporta, transporta, usa, descarta. Até o resíduo sólido tem um modelo mais inteligente, o de reciclagem. Usamos um modelo de mais de mil anos atrás", salientou.

A coordenadora da Aliança pela Água, Marlucia Whately, disse, por sua vez, que é necessário haver um "avanço civilizatório" na gestão da água no País. "A região metropolitana de São Paulo tem um dos maiores graus de stress hídrico do planeta. A perda de água desta região daria para abastecer em torno de 6 milhões de pessoas. Isso é inadmissível", afirmou.

"Não combina com o século 21 ter esse tipo de postura", continuou na discussão dentro dos fórum Estadão com o tema sustentabilidade.

Barragens

O diretor geral do departamento nacional de obras contra as secas (DNOCS), Ângelo José de Negreiros Guerra, informou que o órgão dará continuidade à política de açudagem, existindo planos para a construção de 320 barragens na região do semi árido do Nordeste.

"Não sabemos se vamos ter recursos, mas já foram identificados (os projetos) e são necessários para o semi árido nordestino", disse Guerra, durante participação no Fóruns Estadão com o tema Sustentabilidade.

Segundo o executivo, outras iniciativas que serão implantadas pelo DNOCS ao longo dos próximos anos para auxiliar a região a lidar com as secas também incluem a construção de adutoras e a perfuração de poços. "Não temos a expertise (para a perfuração), mas caso haja alguma irregularidade na próxima quadra invernosa, essa será uma alternativa", disse. "O DNOCS se capacitará, contratando empresas privadas para atender a demanda que tivermos em poços".

Guerra ainda ressaltou que a transposição de bacias segue no radar do DNOCS, destacando que já existem estudos para a transposição do Rio Tocantins para o semi árido do Nordeste. "O DNOCS vem desenvolvendo a missão de proporcionar ao homem do campo condições de conviver com a seca. Não vamos acabar com ela, mas vamos criar condições que permitam a convivência", afirmou o executivo.

Reúso de esgoto

A diretora de mercado da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (CAGECE), Cláudia Caixeta, destacou que, dentre as alternativas estudadas pela empresa para o combate da crise hídrica no Estado, estão a construção de plantas para o tratamento e reúso do esgoto e de dessalinização de água.

Quanto ao plano para o tratamento do esgoto, a executiva destacou que o projeto já foi aprovado após reunião com o governo do Estado, em 2 de dezembro. "O CAGECE está a frente. Vamos pegar o esgoto que hoje é lançado em alto mar, tratá-lo e levá-lo para reúso no complexo industrial do Pecém", disse Cláudia.

Já em relação à estação de dessalinização, a representante do CAGECE afirmou que o projeto irá atender à região de Fortaleza, num modelo de parceria público privada (PPP). No entanto, ela ressaltou que os dois projetos são caros e, por isso, demoraram para serem levados a frente.

"A planta de tratamento de esgoto, numa capacidade de produção de 1 m³/s, vai custar cerca de R$ 500 milhões, enquanto a de dessalinização deve custar R$ 700 milhões". A executiva ainda informou que a construção da planta de tratamento e reúso de esgoto será voltada à indústria por causa de sua maior capacidade financeira para lidar com os custos.

"Quanto à dessalinização, vamos diluir (o custo) entre todos os usuários. A tarifa não vai subir tanto", disse.

Situação crítica

Cláudia Caixeta destacou que o Estado do Ceará passa pelo quinto ano consecutivo de seca, e que, atualmente, a capacidade de armazenamento das bacias está em torno de 7,55%. "É uma situação crítica", disse.

A executiva ainda afirmou que outro problema enfrentado pelo CAGECE é a baixa utilização da rede de água e esgoto. "O índice de uso da rede de água está em torno de 80,42%. As pessoas usam fontes alternativas, com muita perfuração de poços, o que também acaba gerando a contaminação salina da rede", disse.