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TSE intima outros delatores e amplia foco na Odebrecht

Ricardo Galhardo, Rafael Moraes Moura e Beatriz Bulla

Brasília

09/03/2017 07h22

O ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Herman Benjamin intimou o ex-funcionário da Odebrecht José de Carvalho Filho, a ex-secretária Maria Lúcia Tavares e o ex-executivo Fernando Miggliaccio a prestarem depoimento nesta sexta-feira, 10, na ação que pede a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer por abuso do poder econômico e político.

Além disso, o ministro, que é relator da ação, decidiu incluir o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Júnior, o BJ, em acareação que será realizada também nesta quinta.

Carvalho foi citado no depoimento do ex-diretor de Relações Institucionais da empreiteira Cláudio Melo Filho como o responsável por viabilizar o repasse de R$ 4 milhões ao ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. A remessa teria sido acertada durante jantar no Palácio do Jaburu, em 2014, do qual também participou o então vice-presidente Michel Temer.

Citado 34 vezes na delação de Melo Filho à Lava Jato, Carvalho também seria o responsável pelo envio de valores ao ex-assessor da Presidência José

Segundo pessoas que tiveram acesso ao depoimento de Melo Filho ao TSE, o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht disse que Carvalho recebeu um telefonema em tom ríspido do então presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) - atualmente preso na Lava Jato -, cobrando R$ 1 milhão dos R$ 4 milhões destinados a Padilha.

Melo Filho afirmou ainda, no depoimento ao TSE, ter avisado Padilha sobre o telefonema e, segundo o ex-diretor da empreiteira, o ministro disse que resolveria a questão pessoalmente com Cunha.

Procurado pela reportagem, Padilha não se manifestou.

Delatora

Maria Lúcia atuou no Setor de Operações Estruturadas, o chamado "departamento de propina" da Odebrecht, onde foi responsável pelos pagamentos e pela contabilidade.

Alvo da Operação Acarajé, 23.ª fase da Lava Jato, em fevereiro de 2016, Maria Lúcia fez acordo com o Ministério Público Federal. Em troca da liberdade e de um possível perdão judicial, relatou aos investigadores como funcionava o "departamento de propina". Ela é considerada a testemunha-chave que levou o alto escalão da Odebrecht a buscar delação.

Miggliaccio é considerado um dos responsáveis pelo "departamento da propina" da empreiteira baiana. Era ele que administrava a conta no exterior por meio da qual eram feitos pagamentos de propina.

Também na sexta o TSE fará uma acareação entre três delatores: Melo Filho, o ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht e Hilberto Mascarenhas, ex-funcionário da Odebrecht e ligado ao "departamento de propina".

Um dos objetivos é esclarecer versões conflitantes sobre o jantar no Jaburu. Marcelo Odebrecht disse ao TSE que Temer deixou o jantar antes que fosse acertado o repasse de R$ 10 milhões ao PMDB, por meio de Padilha. Já Melo Filho reafirmou à Justiça Eleitoral o teor de sua delação, na qual afirmou que Temer "solicitou direta e pessoalmente" a Marcelo Odebrecht apoio financeiro às campanhas do PMDB.

Mascarenhas e Benedicto Júnior devem esclarecer outro ponto do depoimento de Marcelo Odebrecht. O ex-presidente da empreiteira disse ter reservado R$ 150 milhões para o PT em 2014, dos quais 4/5 foram repassados via caixa 2.

Já os outros dois depoentes relataram ter participado de reunião com o herdeiro do grupo em março de 2014 na qual o então presidente da empreiteira teria dito que o valor global das doações naquele ano seria de R$ 200 milhões, a todos os partidos - R$ 120 milhões seriam doados oficialmente, R$ 40 milhões por meio da cervejaria Itaipava e outros R$ 40 milhões via caixa 2. As informações são do jornal