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Oposição italiana tenta pegar carona na vitória de Trump

09/11/2016 20h37

SÃO PAULO, 09 NOV (ANSA) - Agora símbolo máximo do discurso anti-establishment que vem ganhando espaço no mundo inteiro, o presidente eleito Donald Trump e sua vitória na disputa pela Casa Branca já começaram a ser usados pela oposição italiana para atacar o primeiro-ministro Matteo Renzi, que colocará seu futuro em jogo no referendo constitucional de 4 de dezembro.   

Perto de completar três anos no Palácio Chigi, Renzi convive com a crescente sombra de partidos que constroem seus discursos no ódio à política tradicional, principalmente o antissistema e populista Movimento 5 Estrelas (M5S). Mas não só. A legenda de extrema-direita Liga Norte, na figura de Matteo Salvini, vem conquistando espaço no eleitorado, embora já tenha participado de governos e não seja anti-establishment por excelência.   

Ambas veem no referendo do mês que vem uma chance de derrubar o primeiro-ministro e forçar a realização de novas eleições, uma perspectiva que deixa os líderes europeus de cabelo em pé, tanto que muitos já se pronunciaram a favor do "sim" à reforma constitucional de Renzi.   

Com o triunfo de Trump, tais partidos não perderam tempo para incorporar o resultado da eleição nos EUA à realidade da política italiana. "Após a vitória de Trump, é preciso olhar o que está acontecendo no mundo, ter coragem, honestidade e ideias claras", declarou Salvini, líder da Liga Norte, cuja plataforma é baseada na anti-imigração, assim como foi a campanha do magnata.   

A eleição de Trump reforçou nele a convicção de que a direita, inclusive a moderada, deve adotar uma linha dura contra a União Europeia. "O euro deve ser superado, e quanto à União Europeia, ou se mudam todos os tratados, ou o caminho é aquele da Brexit", acrescentou Salvini, que deve visitar a Rússia na semana que vem.   

O mesmo tom foi usado pelo vice-presidente do Senado Roberto Calderoli, outro expoente da Liga. "O que ocorreu no Reino Unido e agora na América demonstra que não se pode ir contra a vontade dos cidadãos, que, quando podem se exprimir, sabem muito bem o que escolher. E a mesma coisa ocorrerá aqui no dia 4 de dezembro", afirmou.   

Rival tanto de Renzi quanto da Liga, o M5S, por meio de seu fundador, o palhaço Beppe Grillo, apontou "semelhanças" entre Trump e o movimento. "Nascemos e ninguém se deu conta, porque temos um jornalismo que só entende algo quando já é tarde demais. Nos tornamos o primeiro movimento político da Itália e ninguém percebeu. Estão tomando consciência agora, mas ainda se perguntam o porquê", escreveu o humorista em seu blog.   

Hoje no comando de Roma e Turim, o M5S é a principal ameaça ao governo Renzi e aparece nas pesquisas muito próximo do centro-esquerdista Partido Democrático (PD), liderado pelo primeiro-ministro.   

"Sobre Trump, a grande imprensa dizia muitas coisas parecidas com as que falavam sobre o movimento. Diziam que éramos sexistas, homofóbicos, demagogos, populistas. Não se dão conta de que milhões de pessoas não leem mais seus jornais ou não veem televisão", disse Grillo.   

Por sua vez, Renzi tentou minimizar a relação entre algumas das principais votações deste ano. "Não acho que há elementos de ligação entre Brexit, eleição nos EUA e o referendo italiano, que é uma ocasião para escolher um sistema mais simples e que custa menos ou ficar com aquele que já fracassou com a velha guarda", afirmou o premier durante um bate-papo com internautas no Facebook.   

Em teoria, o referendo seria apenas sobre a reforma constitucional que prevê a extinção do bicameralismo paritário por meio da redução drástica dos poderes do Senado, mas o pleito acabou ganhando outro caráter muito em função da postura de Renzi.   

No início do ano, ele falou em diversas ocasiões que renunciaria ao cargo se o "não" vencesse a consulta popular, dando armas para a oposição transformá-la em um referendo sobre o próprio governo. Ou seja, se o "sim" triunfar, Renzi sairá inevitavelmente fortalecido, inclusive na Europa. Se perder, será difícil continuar no cargo. (ANSA)
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