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'Copa das manifestações' deixa legado misto para Brasil

30/06/2013 23h32

Desacreditada até poucas semanas atrás, a seleção brasileira bateu a campeã mundial Espanha por 3 a 0 na final da Copa das Confederações, disputada na noite deste domingo no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, para ganhar pela quarta vez o torneio - a teceira seguida.

O "renascimento" da seleção brasileira, que terminou com uma invencibilidade de 19 meses da Espanha, é uma das marcas deixadas pela competição, que serve como um teste da preparação do Brasil para sediar a Copa do Mundo do ano que vem.

Do lado de fora dos estádios, o que marcou o torneio foram as manifestações populares que vêm tomando as ruas do país há mais de duas semanas. A competição chegou a ser apelidada por alguns comentaristas de "Copa das manifestações".

Neste domingo, duas manifestações nas proximidades do estádio reuniram entre 4 mil e 5 mil pessoas cada uma para protestar contra os gastos públicos para a construção dos estádios e contra as remoções de moradores afetados pelas obras para a Copa do Mundo e da Olimpíada de 2016, que acontecerá no Rio de Janeiro.

Apesar das expectativas, os dois protestos reuniram menos pessoas do que a manifestação do dia 20 de junho, quando cerca de 300 mil manifestantes marcharam pelas ruas do centro da cidade após a partida entre Espanha e Taiti no Maracanã.

Pouco antes do início do jogo deste domingo, integrantes de um grupo que participava da segunda marcha atiraram objetos na direção dos policiais que bloqueavam o acesso ao entorno do Maracanã.

A polícia respondeu com bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo, balas de borracha e gás de pimenta. Cenas de corre-corre e tensão tomaram o entorno do Maracanã, e os manifestantes foram obrigados a se dispersar enquanto a polícia avançava.

Gás no estádio

O gás lacrimogêneo disparado pela polícia para conter o pequeno grupo de manifestantes que tentava se aproximar do estádio pôde ser sentido dentro do Maracanã em pelo menos duas ocasiões.

Pouco antes do início da partida, quando era executado o hino do Brasil, alguns torcedores sentados nas fileiras de cima do anel superior do estádio tiveram que colocar suas camisetas sobre as bocas e os narizes para evitar o efeito do gás. Funcionários e voluntários retiravam as pessoas do corredor de circulação atrás das cadeiras, área mais afetada.

Meia hora depois, o gás voltou a ser sentido no mesmo local, desta vez com menos intensidade. Funcionários das portarias do estádio próximas à área afetada relataram ter sentido os efeitos do gás com grande intensidade. Uma assensorista do elevador localizado na lateral do Maracanã disse ter sido forçada a deixar seu posto após a cabine se encher de fumaça.

Taiguara Souza, membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB do Rio de Janeiro, afirmou que um grupo de três advogados e outras pessoas foram atingidas por gás lacrimogêneo e spray de pimenta enquanto negociavam com a polícia a saída de um grupo de 150 manifestantes que estavam "encurralados" em uma pequena via próximo ao Colégio Militar, que fica perto do Maracanã.

"Parece que a intenção era reprimir e não dispersar", disse o advogado. A Comissão de direitos humanos da OAB, assim como membros do Ministério Público e da Defensoria Pública, acompanharam a passeata para tentar coibir eventuais abusos.

De acordo com a Polícia Militar, no entanto, um representante do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria Pública afirmou que o confronto começou quando manifestantes atiraram "jogaram bombas de gás e pedras contra os policiais".

A maior parte dos manifestantes acabou se dispersando pela região e diversos bloqueios da polícia foram formados em avenidas nas proximidades do estádio. Perto da Praça Varnhagen, torcedores que assistiam à partida em um bar chegaram a ser chamados de "alienados" por um grupo manifestantes.

Pouco depois do início do segundo tempo, um grupo menor de manifestantes voltou a se concentrar no cruzamento da avenida Maracanã com a avenida São Francisco Xavier, mas não houve grandes confrontos, apenas conflitos isolados.

Ao final do jogo, torcedores que saíam do estádio se deparavam com a forte presença policial e ruas com pedras e cápsulas dos armamentos não letais utilizados nos confrontos. Mesmo assim, a saída da maior parte foi tranquila.

'O campeão voltou'

Dentro do campo, onde Neymar, Fred, Júlio César e companhia conseguiram reverter o favoritismo espanhol e garantir o título ao Brasil.

A torcida, que mais uma vez cantou o hino brasileiro até o final, mesmo após o término do trecho executado pelo sistema de som do estádio, apoiou a equipe do início ao fim, gritando "O campeão voltou".

O Brasil começou o torneio na 22ª posição no ranking da Fifa, sua pior posição da história, e vinha desacreditado com uma série de maus resultados em amistosos. Até uma semana antes do torneio, o Brasil havia feito seis amistosos no ano, com uma derrota, quatro empates e apenas uma vitória.

A vitória de 3 a 0 sobre a França num amistoso em Porto Alegre, seis dias antes do início da Copa das Confederações, marcou o início da virada. Foi a primeira vitória do Brasil sobre uma seleção campeã do mundo desde dezembro de 2009.

Na Copa das Confederações, foram cinco vitórias em cinco jogos, sendo três sobre campeões mundiais ─ Itália, Uruguai e Espanha. A seleção marcou 14 gols no torneio e sofreu apenas 3. Para completar, o atacante Neymar foi eleito o melhor jogador da competição.

A Espanha, líder do ranking da Fifa desde outubro de 2011, havia vencido quase todos os torneios que disputou desde 2008. O único grande torneio que falta ao país é justamente a Copa das Confederações.

A vitória do Brasil neste domingo aumentou o retrospecto positivo da seleção brasileira sobre a Espanha. Com a final da Copa das Confederações, são nove partidas, com cinco vitórias brasileiras, duas espanholas e dois empates.

Esta foi a segunda vez que as duas equipes se enfrentaram no estádio do Maracanã. Na primeira Copa do Mundo disputada no Brasil, em 1950, a partida terminou 6 a 1 para o Brasil.

O fim da Copa das Confederações, no entanto, também deixa no ar diversas questões para os líderes políticos brasileiros, um dos principais alvos dos protestos populares contra os gastos públicos da Copa, ao lado da Fifa.

O torneio começou em Brasília com uma vaia da plateia presente no estádio Mané Garrincha contra a presidente Dilma Rousseff. Neste domingo, ela preferiu se ausentar, apesar da expectativa dos dirigentes da Fifa sobre sua presença.