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Museu do 11 de Setembro é inaugurado em NY em meio a polêmica

15/05/2014 12h25

Cercado de polêmica desde sua concepção, o Museu Nacional do 11 de Setembro será inaugurado nesta quinta-feira em Nova York, em uma cerimônia com a presença do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e de autoridades atuais e da época dos atentados que mataram quase 3 mil pessoas em 2001.

A inauguração oficial ao público será somente no dia 21 de maio. Até lá o museu estará aberto, 24 horas por dia, apenas para sobreviventes, familiares das vítimas, integrantes das equipes de resgate e moradores da região no sul de Manhattan.

Construído no local onde ficava o subsolo das Torres Gêmeas do World Trade Center, o museu reconta a história dos ataques por meio de exposições multimídia, depoimentos e mais de 10 mil artefatos, desde objetos pessoais de vítimas - encontrados no local ou doados por familiares - até equipamentos usados no resgate e parte das estruturas de metal dos prédios, ainda visíveis.

Na descida até o subterrâneo onde estão esses objetos, sete andares abaixo do solo, está uma escada usada por centenas de sobreviventes para escapar durante os atentados.

Segundo seus idealizadores, o museu tem o compromisso de "honrar os heróis, lembrar as vítimas e preservar a história dos ataques de 11 de setembro, seus precursores e suas consequências, para as gerações futuras".

O presidente da fundação responsável pelo museu, Joseph Daniels, diz que com a abertura ao público, "milhões de pessoas poderão entender melhor as experiências, atos de coragem e perdas terríveis que vimos em 11 de setembro e depois".

São duas exposições principais: "In Memoriam", que presta homenagem às 2.983 vítimas dos ataques de 2001 e de 1993, e uma exibição histórica, dividida em três partes, que relembra minuto a minuto os acontecimentos de 11 de setembro de 2001, o que levou aos ataques e o que ocorreu depois.

"Estamos orgulhosos por este museu cumprir sua obrigação de contar a história do que aconteceu e 11 de setembro, analisar o contexto histórico que levou aos ataques e registrar o que ocorreu em seguida, incluindo a extraordinária resposta de equipes de resgate, nova-iorquinos, americanos e a comunidade mundial", diz a diretora do museu, Alice Greenwald.

Muçulmanos

Antes mesmo da inauguração, porém, parte dessa exposição já vem provocando controvérsia.

No mês passado, a comunidade muçulmana reagiu com fúria a um vídeo que integra a exposição e foi exibido antes da abertura do museu a um grupo de religiosos.

Com menos de sete minutos, o documentário A Ascensão da Al-Qaeda, narrado pelo jornalista Brian Williams, âncora da NBC News, busca explicar o contexto no qual os ataques foram planejados.

Em determinado momento, afirma que os terroristas eram "islamitas que viam sua missão como uma jihad".

Essa definição foi considerada ofensiva aos muçulmanos.

"Visitantes que não entendem a diferença entre Al-Qaeda e muçulmanos poderão sair com uma visão preconceituosa do Islã, levando a um antagonismo e até mesmo confrontos com fiéis muçulmanos próximos ao local", disse o xeque Mostafa Elazabawy, imã da mesquita Masjid Manhattan, em carta ao diretor do museu.

O museu se recusou a mudar a terminologia. Segundo Daniels, desde o início houve o cuidado de ser objetivo, fiel aos fatos e de não "manchar uma religião inteira quando fala sobre um grupo terrorista".

Restos mortais

Na semana passada, outra polêmica foi protagonizada por algumas famílias das vítimas, que reagiram com indignação quando foram avisadas, com poucos dias de antecedência, de que os restos mortais não identificados seriam transferidos do laboratório onde se encontravam para o museu - em um local ao qual o público geral não terá acesso.

Das 2.753 vítimas dos ataques de 2001 ao World Trade Center, 1.115 não foram identificadas. De acordo com os legistas, 37% dos quase 22 mil restos mortais encontrados no local continuam sem identificação.

A equipe de legistas continuará a trabalhar na identificação após a transferência para o museu, realizada no último sábado, sob protesto de algumas famílias.

Além de reclamar do fato de não terem sido consultados, os familiares dizem temer o risco de inundação no subsolo onde ficarão os restos mortais, a poucos metros de distância do rio Hudson, e afirmam considerar inapropriado colocá-los em um museu.

O preço do ingresso, de US$ 24 (cerca de R$ 53), também provocou reações negativas quando foi anunciado, no início do ano.

O valor é similar ao cobrado por outros museus na cidade e, segundo os administradores, servirá para pagar os custos de operação. Os familiares não precisarão pagar pela entrada.

Mesmo assim, o anúncio foi criticado e, na época, até o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, entrou na discussão, reclamando do governo federal por não ajudar a custear a operação do museu, o que teria contribuído para o alto preço do ingresso.

Reflexão

O museu está localizado no mesmo complexo onde já funciona desde 2011 o Memorial, composto de duas piscinas que marcam a localização das torres e onde estão inscritos os nomes das vítimas.

A construção de ambos custou US$ 700 milhões (cerca de R$ 1,5 bilhão).

O pavilhão de entrada do museu foi projetado pelo escritório de arquitetura norueguês Snøhetta, e a parte interior pelo escritório Davis Brody Bond, de Nova York.

"O Museu Nacional do 11 de Setembro está aqui para que o mundo venha refletir sobre um dos principais momentos da História", diz Daniels.

Segundo a diretora, desde o início o projeto foi baseado na ideia de que "um encontro emocionalmente seguro com uma história difícil, pelas lentes da memória, pode inspirar e mudar a maneira como as pessoas veem o mundo e a possibilidade de suas próprias vidas".