Topo

Imprensa livre é melhor arma contra 'fake news', diz diretor do BBC World Service Group

Jamie Angus na abertura do seminário "Beyond Fake News - Em busca de soluções", realizado nesta terça em São Paulo - Rodrigo Ono/BBC
Jamie Angus na abertura do seminário 'Beyond Fake News - Em busca de soluções', realizado nesta terça em São Paulo Imagem: Rodrigo Ono/BBC

12/03/2019 10h04

Na abertura de seminário que reúne acadêmicos e jornalistas em São Paulo, Jamie Angus listou estratégias do Beyond Fake News, projeto da BBC para combater notícias falsas; Brasil é o quarto país a receber a iniciativa, já implantada na Índia, no Quênia e na Nigéria.

Em discurso no seminário "Beyond Fake News - Em busca de soluções", organizado pela BBC nesta terça-feira no Centro Brasileiro Britânico, em São Paulo, o diretor do BBC World Service Group, Jamie Angus, afirmou que uma imprensa livre e vibrante é a melhor arma contra a desinformação.

"Precisamos oferecer alternativas para as fake news, para os bots, para a desinformação. Precisamos continuar a oferecer a verdade, com transparência e abertura, superando o desafio de unir e não de dividir nossa audiência", disse Angus ao listar as estratégias do "Beyond Fake News", projeto global da BBC que busca combater histórias falsas e alertar sobre seus perigos (acompanhe a transmissão do evento ao vivo).

"Precisamos reafirmar e valorizar a liberdade de imprensa - um imprensa vibrante e livre que apoia a liberdade de expressão é a mehor arma contra as fake news", afirmou.

Segundo Angus, o Serviço Mundial da BBC - que engloba a BBC News Brasil e produz conteúdos em 42 línguas - encara o combate às fake news como uma prioridade de suas operações.

'Beyond Fake News'

Angus falou na abertura do seminário, que reúne representantes da academia, das redes sociais, do Jornalismo e da Educação. O Brasil é o quarto país a sediar o "Beyond Fake News", já realizado na Índia, no Quênia e na Nigéria.

Entre as iniciativas planejadas nesta terça-feira está uma oficina sobre leitura crítica de notícias para professores (leia aqui a programação completa do evento).

Momentos antes do discurso, Angus - que visita o Brasil pela primeira vez - disse à BBC News Brasil que o país tem uma "cultura de mídia fantasticamente vibrante e madura", assim como uma "democracia bem estabelecida".

Segundo ele, a BBC busca se destacar no Brasil oferecendo contexto e análises sobre os grandes temas jornalísticos. Outro objetivo é alcançar públicos que não são contemplados pela imprensa nacional, cobrindo temas pouco abordados pelos grandes veículos.

"A imprensa brasileira pode ser um pouco autocentrada e rejeitar temas que, por exemplo, envolvam desigualdades de gênero, raça ou sexualidade", afirmou.

O que são 'fake news'

A BBC considera fake news informações falsas distribuídas intencionalmente, geralmente com fins políticos ou comerciais. "O propósito é convencer as pessoas a pensarem de uma certa maneira, a votarem de uma certa maneira, ou ganhar dinheiro de publicidade toda vez que alguém clica em um conteúdo fraudulento", disse Angus.

Ele afirmou que, no Brasil, a desinformação compartilhada nas redes pode causar mortes - assim como informações falsas sobre sequestros de crianças provocaram uma série de linchamentos na Índia e no México.

"Comunidades em favelas recebem rumores falsos sobre onde tiroteios ocorrem, vítimas são injustamente associadas à criminalidade numa tentativa de justificar essas mortes."

Ele citou reportagens da BBC News Brasil que expuseram táticas de disseminação de fake news, entre as quais a criação de perfis falsos para manipular a opinião pública nas eleições de 2010 e 2014.

Por que as pessoas divulgam 'fake news'

Angus também listou algumas conclusões de uma pesquisa encomendada pela BBC para entender por que as pessoas divulgam notícias falsas. O estudo analisou a distribuição de fake news pelo WhatsApp e pelo Facebook no Quênia, na Nigéria e na Índia.

"Nós descobrimos que o público deposita grande confiança naquela pessoa que envia a informação nas redes sociais, em vez de verificar a fonte original", afirmou.

Segundo Angus, muitas vezes usuários compartilham links sem ler seu conteúdo, atraídos por manchetes que servem como iscas e movidos mais pela emoção do que pela razão.

"Se algo parece correto, se há uma identificação com nossa identidade, com os valores de nosso grupo, nós temos uma tendência maior a acreditar no conteúdo e compartilhar do que verificar."

Ainda assim, a pesquisa revelou que as pessoas "estão conscientes de que as fakes news são potencialmente divisivas e que elas tentam não compartilhar nada que possa provocar violência ou divisão", segundo Angus.

Ele também tratou do desafio de combater as fake news no futuro, quando mais pessoas terão acesso à internet e a tecnologia permitirá criar vídeos falsos, nos quais expressões faciais, movimentos labiais e vozes serão reproduzidos com grande verossimilhança. "Será mais difícil identificar fakes."

Trajetória de Jamie Angus

Angus foi nomeado em fevereiro de 2018 diretor do BBC World Service Group - unidade que engloba o Serviço Mundial da BBC e outros braços da organização, como a BBC World News e a BBC.com

Na BBC desde 1999, ele trabalhou como editor em vários programas da organização, entre os quais Newsnight, Today Programme, World At One e The World This Weekend.

Entre 2010 e 2012, Angus coordenou o lançamento de programas televisivos do Serviço Mundial nas línguas urdu, hindi e suaíle, além do Focus on Africa, transmitido globalmente.

A BBC é a maior emissora pública do mundo. Em 2018, sua audiência em rádio, TV e plataformas digitais alcançou 376 milhões de pessoas por semana.

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!

https://www.youtube.com/watch?v=gRRQOakdTVg

https://www.youtube.com/watch?v=FC06YANQkx8

https://www.youtube.com/watch?v=1XYNl91Zh7c