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Alemanha relembra Holocausto no dia da libertação de Auschwitz

27/01/2012 16h39

Testemunha da evacução do Gueto de Varsóvia, de onde os judeus foram levados para campos de concentração, em 1942, Marcel Reich-Ranicki lembrou perante o Parlamento alemão as atrocidades cometidas pelos nazistas.

Desde 1996, o 27 de janeiro foi estabelecido na Alemanha como dia em memória das vítimas do nazismo. Foi este o dia em que o campo de concentração de Auschwitz foi libertado pelas tropas soviéticas, em 1945.

Com voz trêmula e visivelmente debilitado fisicamente, o crítico literário Marcel Reich-Ranicki, de 91 anos, fez nesta sexta-feira (27) um discurso perante o Parlamento alemão, em memória das vítimas do Holocausto. Reich-Ranicki enfatizou que seu depoimento é baseado em testemunhos diretos e não em sua condição de historiador e descreveu suas amargas lembranças da deportação do Gueto de Varsóvia.

Como tradutor de alemão no que se chamava de "Conselho dos Judeus" dentro do Gueto, Reich-Ranicki lembrou ter protocolado sentenças de morte, que haviam sido determinadas pela SS para os judeus de Varsóvia. Ele lembrou detalhadamente o início da deportação dos judeus.

Apenas uma meta: a morte dos judeus

O Gueto de Varsóvia começou a ser evacuado no dia 22 de julho de 1942 e seus moradores foram enviados a campos de concentração, sobretudo a Treblinka. "O que era chamado de 'realocamento' dos judeus foi simplesmente a expulsão de Varsóvia, visando apenas uma meta e com um só objetivo: a morte", lembra Reich-Ranicki.

Do Gueto de Varsóvia foram levados pelo menos 500 mil judeus, apenas alguns milhares sobreviveram. Durante a Segunda Guerra Mundial, aproximadamente seis milhões de judeus foram assassinados pelo regime nazista. Criado em uma família de origens alemã e polonesa, Reich-Ranicki é uma das últimas testemunhas vivas do Gueto de Varsóvia. Seu irmão e seus pais foram mortos pelos nazistas.

Preocupação com antissemitismo latente

Durante a cerimônia em lembrança às vítimas do nazismo, o presidente do Parlamento alemão, Norbert Lammert, conclamou a população alemã, diante da recente série de assassinatos cometidos por neonazistas no país, a se opor, com coragem, a qualquer tipo de extremismo de direita ou antissemitismo.

Lammert elogiou o comportamento daqueles que "dão exemplo de coragem" no país e se empenham contra o extremismo. "Trata-se daquelas pessoas que vão às ruas quando os extremistas de direita resolvem marchar pelas cidades, deixando claro: 'não tolaramos suas difamações nem seu ódio'", completou Lammert.

O presidente do Bundestag mencionou com preocupação um relatório do Bundestag (câmera baixa do Parlamento alemão), apresentado no início desta semana, segundo o qual aproximadamente 20% da população alemã apresenta um "antissemitismo latente". Uma percentagem "muito alta para Alemanha", salientou Lammert. A premiê Angela Merkel também participou da cerimônia no Parlamento.

O presidente do Conselho dos Judeus na Alemanha, Dieter Graumann, elogiou as cerimônias em memória das vítimas do nazismo como "exemplares". Segundo ele, tais rituais de lembrança são um sinal importante e bem visto fora da Alemanha, sobretudo em Israel. Segundo ele, é importante saber "quais lições devem ser aprendidas" da história.