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EUA esperam visita do papa com menos católicos e paróquias mais latinas

Cristina García Casado

Em Washington

17/09/2015 14h52

Os Estados Unidos que o papa Francisco visitará semana que vem é um país com menos católicos do que viu seu antecessor, Bento 16, em 2008, e agora tem paróquias mais latinas do que tinha em 1965 quando esteve Paulo 6º, o primeiro pontífice a viajar para o território norte-americano.

Desde a visita de Paulo 6º, 70% do crescimento da população católica nos Estados Unidos se deveu à imigração hispânica, uma comunidade formada por mais de 20 nacionalidades que transformou o modelo paroquial.

Para os católicos que chegaram da Europa no século 19 e na primeira metade do século 20, a paróquia era um importante centro de identidade nacional. Assim, em um raio de dois quilômetros era possível ver uma igreja italiana, uma irlandesa, uma alemã e uma polonesa.

"Esse modelo de paróquia nacional foi superado com o grande e acelerado crescimento da comunidade hispânica católica. Chegou um momento em que essas primeiras paróquias de mexicanos e porto-riquenhos enchiam muito rápido", explicou à Agência Efe Mar Muñoz, diretora-executiva do Departamento de Diversidade Cultural da Conferência de Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB).

O peso e a diversidade nacional da imigração católica hispânica impulsionaram a paróquia multicultural, mas apesar do empurrão da imigração latina, o número de católicos nos Estados Unidos diminuiu nos últimos anos, de 23,9% da população em 2007 para 20,8% em 2014, segundo os últimos dados do Pew Center.

"O desafio são os jovens. A Igreja Católica tem que aprender a falar com as próximas gerações. Há muito pouca atenção aos hispânicos nascidos aqui, que são 60%", analisou Mar.

No ano passado, o país tinha 76,7 milhões de católicos, sendo 29,7 milhões latinos, segundo estima a USCCB. Além disso, 45% dos americanos dizem ter algum tipo de ligação com o catolicismo, entre eles os que se definem como "católicos não praticantes" (9%), normalmente por terem sido educados em família católica, e os ex-católicos (9%).

"O país superou barreiras. Houve uma época em que existia um receio social dos católicos, principalmente na hora de dar poder. Chegou, inclusive, a ser proibido que ocupassem cargos públicos, porque se pensava que a lealdade estava com Roma e não com o país, argumentos infundados usados apenas para discriminar", comentou Mar.

"Ficou certo receio na cultura. John Kennedy, por exemplo, o único presidente católico dos Estados Unidos, teve que prometer que suas convicções religiosas não pesariam sobre suas decisões políticas. Restam resquícios disso", acrescentou a representante da USCCB.

A queda no número de católicos nos últimos anos inscreve-se no dos cristãos como conjunto, que passou de 78,4% para 70,6% entre 2007 e 2014, segundo o Pew Center. O fato mais relevante nesta tendência é que a maioria religiosa protestante de longa história nos Estados Unidos deixou de ser, ao passar de 51,3% para 46,5% nesse período de sete anos.

Os únicos grupos que crescem hoje em dia nos Estados Unidos são o dos "não filiados" a nenhuma religião, que aumentou de 16,1% em 2007 para 22,8% no ano passado; e o dos "não cristãos", que passou de 4,7% para 5,9%, no mesmo período.

Agora, a Igreja Católica nos Estados Unidos confia que a visita do carismático papa Francisco, o primeiro pontífice latino-americano, sirva para avivar o entusiasmo dos católicos e lhes convença de que este é seu tempo.