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Os Gupta, a família de multimilionários indianos que manda na África do Sul

As coisas podem se compliar para o presidente sul-africano Jacob Zuma - Siphiwe Sibeko/AFP
As coisas podem se compliar para o presidente sul-africano Jacob Zuma Imagem: Siphiwe Sibeko/AFP

Marcel Gascón

Em Johanesburgo

26/03/2016 10h01

Nenhum sobrenome ressoa tanto nos últimos dias na África do Sul como o dos Gupta, os multimilionários indianos amigos do presidente Jacob Zuma que fazem negócios com todos os setores da administração pública, recebem tratamento de chefes de Estado e se permitem inclusive oferecer postos de ministro.

Após anos de silêncio protetor, os testemunhos incriminadores sobre a relação de Zuma com os Gupta começam a fluir em cascata dentro do próprio partido governante, o CNA (Congresso Nacional Africano).

"Membros da família Gupta me ofereceram o cargo de ministro das Finanças", admitiu recentemente o vice-ministro de Finanças, Mcebisi Jonas, que teria substituído no posto seu então chefe, o ministro Nhlanhla Nene, destituído por opor-se ao projeto de energia nuclear do presidente.

Dias antes desta confissão, o jornal "Sunday Times" tinha informado com todo tipo de detalhes a oferta ministerial dos Gupta, que foi feita na presença do filho de Zuma, Duduzane, sócio dos três irmãos indianos em várias empresas.

Segundo o "Sunday Times", se Jonas aceitasse ser ministro, devia aprovar a construção de novos reatores nucleares e demitir quatro altos cargos da Tesouraria que se opuseram a um plano nuclear que, em sua opinião, deixaria a África do Sul às portas da falência.

Os Gupta --que operam na África do Sul uma mina de urânio que poderia abastecer o projeto nuclear de Zuma-- negaram estas informações, mas o coro de acusações não deixou de crescer nas últimas semanas.

A deputada do CNA, Vytjie Mentor, denunciou que os Gupta lhe ofereceram o Ministério de Empresas Públicas em sua mansão de Saxonworld (Johanesburgo), onde também se encontrava Zuma --apelidado por alguns como "Zupta"-- quando aconteceu a reunião.

A condição neste caso era que cancelasse o voo da SAA (South African Airways) à Índia para repassar essa rota à empresa de aviação dos Gupta.

Além disso, Zola Tsotsi, ex-chefe da companhia elétrica nacional Eskom, assegurou recentemente que os Gupta lhe telefonaram dois meses depois de sua nomeação para dizer-lhe que se considerasse despedido por não "seguir o jogo".

"Fui forçado a renunciar pouco tempo depois", acrescentou.

Uma empresa adquirida agora pelos Gupta fornecerá o carvão para uma das centrais elétricas da Eskom, que, segundo veículos de comunicação locais, realizou várias manobras duvidosas para dar o contrato aos irmãos indianos, que também têm nacionalidade sul-africana.

A prova mais gráfica da influência de Ajay, Atul e Rajesh Gupta data de abril de 2013, quando um voo charter fretado pela família para trazer convidados ao casamento de um sobrinho aterrissou na base militar de Waterkloof (Pretória), de uso exclusivo para líderes estrangeiros.

Após desembarcar, os passageiros percorreram por terra os 160 km que separam o aeroporto de Sun City, a "Las Vegas sul-africana", onde o casamento foi realizado.

Fizeram isso com escolta policial, em um comboio de 13 automóveis anunciado por sirenes azuis que abria passagem a toda velocidade pela estrada entre o resto do tráfego.

O presidente Zuma se esquivou então do escândalo alegando não ter ideia do ocorrido, pelo qual responderam vários funcionários de baixa categoria.

Agora as coisas não serão tão fáceis para Zuma, uma vez que as vozes críticas soam cada vez com mais força dentro do partido e, com elas, os apelos ao CNA para que lhe retire o apoio e ponha fim a um mandato marcado pela corrupção e a estagnação econômica, e que poderia custar caro para legenda nas eleições presidenciais de 2019.