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Alemão mantém Museu das Grandes Guerras no ES avaliado em R$ 1,8 milhão

Ana Ikeda

Do UOL, em São Paulo

27/07/2014 06h00

É no centro da região serrana do Espírito Santo, em Afonso Cláudio (a 136 km de Vitória), que estão cerca de 3.000 objetos que fizeram parte das Grandes Guerras Mundiais. A coleção foi reunida durante 50 anos pelo alemão Rolf Hoffman, 61, que montou com ela um museu na área rural da cidade, avaliado em R$ 1,8 milhão.

Entre os itens exibidos no museu em cenários que recriam situações da guerra estão uniformes, armamento, fardas, quepes, munições, jornais, revistas, selos. Há ainda dezenas de documentários e centenas de fotos de época, além de várias réplicas.

25.jul.2014 - No Museu das Grandes Guerras Mundiais, na cidade de Afonso Claudio (ES), os cenários recriam situações dos campos de batalha. Entre os itens exibidos estão uniformes, armamento, fardas, quepes, munições, jornais, revistas, selos - Divulgação/Secretaria de Turismo de Afonso Claudio - Divulgação/Secretaria de Turismo de Afonso Claudio
Trincheira da Primeira Guerra Mundial é recriada em cenário com objetos da época
Imagem: Divulgação/Secretaria de Turismo de Afonso Claudio

A paixão de Hoffman pelas guerras vem da família militarista alemã. Ele diz que o tataravô lutou contra o Exército de Napoleão Bonaparte (1803 -1815). O bisavô na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871). O avô lutou na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), e o pai, na Segunda Guerra (1939-1945). Assim, muitos objetos foram herdados da família, enquanto o restante foi fruto de doações ou comprado ao longo de cinco décadas.

O Museu das Grandes Guerras, no entanto, não nasceu na cidade com pomeranos de pouco mais de 32 mil habitantes.

Décadas antes de trazer a coleção de objetos para o Brasil, Hoffman tentou exibi-la em um galpão na sua antiga casa, na Alemanha. Mas não conseguiu atrair a atenção de visitantes. Mudou-se para a Áustria, montou novamente o museu, então com êxito. Até em 2003, quando fez uma viagem de férias ao Brasil.

A coleção –e Hoffman– foi parar em Afonso Cláudio porque o alemão apaixonou-se, e não foi pelo país tropical. Nas férias aqui, ele conheceu a brasileira Dalva Kempin, 45. Depois de dois anos morando com ela na Áustria, Hoffman teve a ideia de se mudar para a cidade natal da mulher.

Dalva lembra que não foi fácil transportar para cá a enorme coleção (em número, tamanho e peso) das Grandes Guerras. Além da burocracia alfandegária, ela diz que parte das 7 toneladas em itens acabaram furtados.

“O Rolf trouxe tudo em um contêiner, que ficou parado no porto de Sepetiba [em Itaguaí-RJ]. Foi aberto, desovado, roubado. As melhores peças como medalhas, quepes, uniformes sumiram”, diz a mulher do colecionador. 

Museu à venda

Atualmente, ela ajuda Hoffman a administrar o museu, que recebe uma média de 150 visitantes ao mês, o grande volume de visitas é de grupos escolares da região. Eles cobram R$ 9 pelo ingresso.

25.jul.2014 - No Museu das Grandes Guerras Mundiais, na cidade de Afonso Claudio (ES), os cenários recriam situações dos campos de batalha. Entre os itens exibidos estão uniformes, armamento, fardas, quepes, munições, jornais, revistas, selos - Divulgação/Secretaria de Turismo de Afonso Claudio - Divulgação/Secretaria de Turismo de Afonso Claudio
Boneco com o uniforme usado pela legião imperial germânica na guerra Franco-Prussiana
Imagem: Divulgação/Secretaria de Turismo de Afonso Claudio

“A gente vive disso. Mas o Rolf anda muito desanimado e quer vender o museu para quem tenha condições de cuidar das peças. Elas precisam de tratamento, aqui não tem climatização, por exemplo”, lamenta Dalva.

Um corretor de imóveis avaliou toda a propriedade, com o museu incluso, em R$ 1,8 milhão. Apesar de estar um ano à venda, ainda não apareceram interessados. Enquanto isso, o alemão passa os dias restaurando objetos do acervo e fazendo esculturas que vende como souvenir a turistas.

“Sempre que fala nisso, ele fica muito triste. Prefere vender a ver as coisas deteriorarem. Ele é filho único, não tem mais ninguém na família para cuidar do museu.” 

O museu fica em Três Pontões, zona rural de Afonso Cláudio, e abre aos sábados e domingos das 9h às 17h. Durante a semana, é necessário agendar a visita.