Trajetória de Plínio de Arruda Sampaio

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Socialista, católico e um ávido internauta, Plínio de Arruda Sampaio morreu nesta terça-feira (8) aos 83 anos, em São Paulo. Ele estava internado no Hospital Sírio Libanês, onde fazia tratamento para um câncer ósseo. Plínio acompanhou as transformações políticas do país com uma participação ativa nos últimos 60 anos. Candidato derrotado à Presidência pelo PSOL, ele foi um dos idealizadores do PT e um dos maiores defensores da reforma agrária no Brasil
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Plínio de Arruda Sampaio nasceu em 26 de julho de 1930 em São Paulo. Na adolescência, ele integrou o Movimento Juventude Estudantil Católica e, mais tarde, formou-se em Direito pela Faculdade do Largo São Francisco
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"Eu me formei em Direito e nunca mais mexi com isso. Fui promotor durante um ano, depois fui para política", afirmaria Plínio de Arruda Sampaio anos depois, quando já havia feito carreira no PT e no PSOL
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Antes de completar 30 anos, Plínio de Arruda Sampaio coordenou o grupo de planejamento responsável pela elaboração do Primeiro Plano de Ação Geral do Estado de São Paulo
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Plínio de Arruda Sampaio começou na política no extinto Partido Democrata Cristão. Eleito deputado federal em 1962, foi relator do Programa de Reforma Agrária do governo João Goulart, mas acabou cassado durante a ditadura militar e foi para o exílio
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Plínio de Arruda Sampaio só voltaria à Câmara dos Deputados em 1985, já sob a legenda do Partido dos Trabalhadores, do qual foi um dos idealizadores ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva, que veio do movimento sindicalista do ABC paulista
Adi Leite/Folhapress
Plínio de Arruda Sampaio foi o autor do estatuto do PT e ajudou a sedimentar as bases do partido primeiro em São Paulo, depois no restante do país. Em 1986, ele foi eleito deputado federal constituinte e o segundo mais votado do partido, perdendo apenas para Lula Mais
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Em 1989, Plínio de Arruda Sampaio ajudou a coordenar a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência. Sobre o antigo companheiro de partido, ele diria à coluna de Mônica Bergamo na "Folha de S. Paulo" que Lula "é uma figura admirável, sujeito malandrão, ótimo de coração", para acrescentar, em seguida: "um desastre" como presidente
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Uma das grandes causas do PT defendida por Plínio de Arruda Sampaio era a reforma agrária. Considerado pelas Nações Unidas um dos maiores especialistas no assunto, Plínio enxergou no partido a chance de implantar o projeto no campo. Falando mais tarde ao Movimento Sem-Terra (MST), ele diria: "Esta é uma luta que tem por trás um movimento social, tem povo na rua. Sempre que o povo se faz presente, a direita cede"
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Em 2002, Plínio de Arruda Sampaio seria responsável pela elaboração do capítulo da reforma agrária no programa de governo de Lula. Mais tarde, ele se diria decepcionado com a chance desperdiçada pelo então presidente de mudar o país. "?O governo FHC não fez quase nada. O governo Lula fez praticamente nada. A proposta que eu fiz tinha 1 milhão de famílias. Ele reduziu para 500 mil famílias. Ele assentou 130 mil. Eles fracassaram completamente"
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Pelo PT, Plínio de Arruda Sampaio chegaria a Brasília primeiro como suplente em 1982, ocupando o cargo mais tarde com a saída de Eduardo Suplicy, que foi disputar a Prefeitura de São Paulo (não venceu, mas seria o vereador mais votado nas eleições de 1988). Sobre Suplicy, ele chegou a dizer que era o "melhor senador em atividade, um comunista 'sui generis'"
18.set.2005 - Matuiti Mayezo/Folha Imagem
Plínio de Arruda Sampaio afirmou que sempre administrou bem a devoção ao marxismo e à Igreja Católica. "O Marx é um instrumento para analisar a realidade. Mas, quando extrapola, aí já não me interessa", afirmou à coluna de Mônica Bergamo. "Sou cristão, acredito em Deus" Mais
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Plínio de Arruda Sampaio defendia uma reforma institucional que fosse dirigida às massas. Entre suas propostas para o país estavam a educação pública e gratuita, com investimento de 10% do PIB, meta que consta agora do Plano Nacional de Educação (PNE) homologado pela presidente Dilma Rousseff
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Em 2005, Plínio de Arruda Sampaio candidatou-se à presidência do PT, juntamente com Ricardo Berzoini, Valter Pomar, Raul Pont, Maria do Rosario e Markus Sokol
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A convenção, realizada em setembro de 2005, terminou com a manutenção da corrente que há mais de dez anos comandava o partido e com denúncias feitas por Plínio de Arruda Sampaio de um suposto esquema de fraude na votação. "Vamos fazer um rebu com isso. A eleição era uma grande oportunidade de essa gente rever os métodos de avaliação. Eu esperava que a crise pelo menos fizesse cair a ficha dessa gente", diria a jornalistas no dia da eleição. Logo depois, ele deixaria o partido
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Ao sair do PT, Plínio de Arruda Sampaio ingressaria no PSOL. Em 2006, ele se lançaria candidato ao governo do Estado de São Paulo. Não foi eleito, mas contou sempre com o apoio da mulher, Marietta, por quem ele depois diria não ter vontade de ir a Brasília, para não deixá-la sozinha. O casal tem seis filhos
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À frente do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio procurou ampliar o debate político. Durante a comemoração do 1º de Maio em 2010, ele comemorou o fato de as frentes trabalhistas apresentarem três candidatos distintos à Presidência, sendo ele pelo PSOL, Ivan Pinheiro pelo PCB e Zé Maria pelo PSTU
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Durante a campanha à presidência pelo PSOL, ele faria críticas a antigos colegas de partido e amigos. "Lula é um continuador do neoliberalismo e, com isso, frustrou um monte de esperança", disse em entrevista à "Folha". "O [candidato do PSDB, José] Serra é a direita truculenta e o Lula é a 'direita malandra', que sabe esconder a maneira como explora o povo." Os tucanos Serra e Fernando Henrique Cardoso são amigos de longa data de Plínio, mas ele se sentiu traído quando FHC não lançou uma sublegenda dentro do MDB, mesmo tendo recebido 1,2 milhão de votos Mais
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Durante a campanha presidencial, Plínio de Arruda Sampaio atraiu a atenção dos eleitores mais jovens, conectados nas mídias sociais e na internet. Ávido usuário do Twitter, ele usou a rede para difundir sua plataforma política e também para criticar os outros presidenciáveis: Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV)
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As tiradas de Plínio de Arruda Sampaio nos debates e depois nas redes sociais o transformaram na "estrela" dos debates, mesmo sem chances de eleição. "Nossa candidatura será a mosca na sopa da burguesia", afirmou Mais
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Durante um encontro com empresários e empreendedores no Memorial da América Latina, em São Paulo, de quem afirmou não esperar qualquer ajuda na eleição, Plínio de Arruda Sampaio justificou sua presença da seguinte maneira. "A moçada do Twitter pressionou de tal maneira que me puseram lá", disse
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Para o debate entre candidatos à Presidência nas eleições de 2010, promovido pela "Folha" e pelo UOL, o candidato Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) não foi convidado. Ele usou a internet para responder às perguntas dos eleitores e ganhou milhares de seguidores no Twitter
Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Os seguidores de Plínio de Arruda Sampaio no Twitter durante a campanha também incluíam apoiadores da candidatura de Dilma Rousseff (PT). "A turma da Dilma está me seguindo", afirmou. "Como ninguém dá pontapé em cachorro morto, devo estar incomodando"
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Um dos momentos mais polêmicos da campanha aconteceu durante o debate entre presidenciáveis na Band. Ao se referir à candidata Marina Silva, do PV, ele usou a expressão "ecocapitalista" Mais
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Algumas vezes, Plínio de Arruda Sampaio parecia incomodar com mais do que palavras, como no debate entre candidatos à Presidência promovido pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil na Universidade Católica de Brasília, em Taguatinga (DF) Mais
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Em um dos debates entre presidenciáveis, o clima esquentou entre Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) e José Serra (PMDB), que era seu amigo de longa data. "Eu fui da direita para a esquerda. Eu que contribui para você, menino da UNE, virar um menino da esquerda coerente. Mas você virou isso aí, da direita. Não ensinei direito", disse. Plínio deu abrigo em sua casa a Serra, no tempo em que morou nos Estados Unidos, durante a ditadura
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Em debate realizado na TV Globo em 30 de setembro de 2010, o candidato do PSOL criticou o PT de Dilma Rousseff. Segundo ele, o partido usou dinheiro público para manter uma "bolsa banqueiro", por meio do pa­­gamento de juros, em vez de destinar mais dinheiro para a área social Mais
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Nas eleições de 2010, Plínio de Arruda Sampaio recebeu 886 mil votos, o equivalente a 0,87% do total. Dilma Rousseff, do PT, foi eleita com mais de 55 milhões de votos, 56,05% dos votos válidos na eleição
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A derrota na disputa à Presidência não tirou o ânimo de Plínio de Arruda Sampaio, que emprestou seu prestígio a outros candidatos do PSOL, como Hamilton Assis, que se lançou à Prefeitura de Salvador em chapa com a enfermeira Nize Santos (PSTU) Mais
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Em dezembro de 2012, a Câmara dos Deputados realizou uma solenidade em que "devolveu" simbolicamente o mandato de deputados cassados no período da ditadura militar (1964-1985). Plínio Soares de Arruda Sampaio exibiu seu diploma, após a cerimônia
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Quando as manifestações ganharam corpo em junho de 2013, o ex-deputado estadual e ex-candidato à presidência defendeu quem saía às ruas para pedir a redução das tarifas de transporte coletivo em São Paulo. Só não gostou dos atos de vandalismo em alguns protestos. "É importante que os manifestantes se isolem e se distinguam deste grupelho [de vândalos] que prejudicam demais o movimento", afirmou Mais
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Plínio de Arruda Sampaio compareceu a um dos protestos no centro da capital paulista. Ele se disse contra a violência policial aos manifestantes. "Disseram que havia perigo de enfrentamento. Se houver, vou interferir. Não vou deixar machucar criança", afirmou ao jornal "Valor"
Eduardo Knapp/Folhapress
O interesse de Plínio de Arruda Sampaio pelas mídias sociais e pela internet estava na sua capacidade de difundir novas ideias e ideais. "Sou fã do [Julian] Assange e defensor total dele", diria em entrevista ao site "Virgula", em 2011. "É certíssimo o que ele está fazendo. E vai mudar muito a política, pois vai obrigar os governos a serem transparentes. Não vai mais haver segredos de Estado"
Eduardo Knapp/Folhapress
De seu escritório na residência no Alto de Pinheiros, Plínio de Arruda Sampaio costumava usar o Twitter para responder perguntas de internautas."Faço um trabalho de formação política e de apostolado", definiu ao jornal "Folha de S. Paulo", em março de 2014. Sobre a possibilidade de disputar mais eleições, foi direto, como sempre. "Eu cumpri tudo o que tinha que cumprir" Mais