Topo

Barack Obama, Hugo Chávez, Felipe Calderón e Luis Fortuño não cumprem promessas

Jorge Ramos

06/07/2011 00h01

O que têm em comum Barack Obama, Hugo Chávez, Felipe Calderón e Luis Fortuño, o governador de Porto Rico? Muito fácil. Os quatro fizeram promessas muito concretas para chegar ao poder e os quatro não as cumpriram.

Comecemos por Obama. Durante sua campanha presidencial em 2008, assistiu à conferência da Associação Nacional de Funcionários Latinos Eleitos e Nomeados (Naleo na sigla em inglês), que reúne todo ano os principais funcionários públicos hispânicos dos EUA, e lhes prometeu que se fosse eleito voltaria a sua reunião como presidente. Bem, já como presidente foi convidado três vezes - incluindo a recente conferência realizada em San Antonio - e nas três vezes declinou.

"É uma falta de respeito com nossa comunidade", disse-me Juan Carlos Zapata, presidente do Fundo Educacional da Naleo, em uma entrevista recente. Zapata, que afirmou que esperava que Obama cumprisse sua palavra e voltasse à conferência para animar o diálogo com líderes hispânicos, salientou que o presidente "não foi honesto" com os latinos.

A Casa Branca, através de um comunicado, disse que o presidente não pode participar de todas as conferências de que gostaria e que um só evento não define a relação de Obama com os hispânicos. Certo. Mas se Obama, enquanto buscava há anos os votos e o apoio da comunidade hispânica na conferência da Naleo, prometeu que voltaria como comandante em chefe e não o fez, como isso pode ser visto a não ser como uma promessa não cumprida?

A outra promessa que Obama não cumpriu com os eleitores hispânicos e que todos os grupos de imigrantes lhe atiram na face: "O que posso garantir é que teremos no primeiro ano uma proposta migratória que eu possa apoiar", disse-me o candidato Obama em uma entrevista em 28 de maio de 2008 em Denver, Colorado. Anos depois, para justificar que ainda não vimos uma verdadeira reforma migratória nos EUA, o presidente diz que não pode conseguir que um Congresso politicamente dividido apoie uma iniciativa de lei ampla dessa natureza. Isso é verdade, particularmente agora que a Câmara de Deputados está controlada pelos republicanos. No entanto, ele prometeu ter pronta uma proposta migratória no primeiro ano de seu governo. Agora, no terceiro, ainda não o fez. Se esta promessa tão clara e pública não foi cumprida, como Obama vai recuperar a confiança dos eleitores hispânicos para que votem nele em 2012?

Agora vamos falar de Hugo Chávez. Em 5 de dezembro de 1998, um dia antes das eleições presidenciais na Venezuela, Chávez me prometeu três coisas em uma entrevista.

Uma: se fosse eleito, entregaria o poder depois de um período de cinco anos. "Claro que estou disposto a entregá-lo", disse.

Duas: não haveria nacionalização de nenhuma empresa privada na Venezuela. "Não, absolutamente nada", respondeu.

Três: Chávez prometeu não assumir o controle de nenhum meio de comunicação privado, nem fechá-lo. "Basta com o veículo do Estado."

Já rompeu as três promessas. Chávez mentiu para ganhar - embora, se tivesse dito o que realmente planejava para a Venezuela sem dúvida teria perdido.

(Ironicamente, nessa mesma entrevista Chávez chamou de "ditador" o ex-líder cubano Fidel Castro, o mesmo "ditador" com o qual foi fotografado em Havana depois que Chávez foi operado por médicos cubanos para remover um tumor.)

Outro que prometeu e também não cumpriu é o atual governador de Porto Rico, Luis Fortuño. Em um anúncio pela televisão durante sua campanha em 2008, disse: "Faço o compromisso com vocês de reduzir o tamanho do governo sem demitir ninguém". Mas depois demitiu mais de 16 mil funcionários públicos.

Quando o confrontei em uma entrevista, Fortuño me disse que o governo anterior lhe havia dado números equivocados e que não teve outro remédio senão demitir trabalhadores. No entanto, sua promessa foi muito clara: "não demitir ninguém". Não cumpriu a promessa.

Fortuño está buscando a reeleição em 2012 e os eleitores terão uma segunda oportunidade para ver se acreditam nele ou não. Mas desconfio que entre seus possíveis eleitores não estarão os milhares de funcionários que demitiu.

Felipe Calderón, presidente do México, também descumpriu suas promessas de campanha. Em uma entrevista em 2006, antes das eleições, Calderón me disse que faria um "governo de coalizão" e criaria mais de um milhão de empregos por ano. "Serei o presidente do emprego", me afirmou.

Quatro anos depois, está claro que Calderón rompeu suas promessas eleitorais. E não somente isso. Não será lembrado como o "presidente do emprego", mas como o presidente dos 50 mil ou talvez 60 mil mortos. Se Calderón tivesse dito que sua prioridade seria enfrentar o narcotráfico e que o custo seriam milhares de mortos, certamente teria perdido o voto de muitos mexicanos e talvez até a presidência.

Ninguém se surpreende de que esses quatro políticos de ideologias, países e partidos tão diferentes caiam no grupo dos que prometem e não cumprem. Os quatro deram muitas desculpas de por que não puderam cumprir. Mas se não tinham certeza de que poderiam cumpri-las, porque fizeram essas promessas? Para ganhar a eleição, obviamente.

Obama, Chávez, Fortuño e Calderón esqueceram a lição chave que ensinamos às crianças e que mantém a credibilidade.