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Capriles: "Para ganhar as eleições na Venezuela é preciso fazer um nocaute"

Capriles não conseguiu convencer o mundo de que Maduro chegou ao poder por fraude  - Boris Vergara/EFE
Capriles não conseguiu convencer o mundo de que Maduro chegou ao poder por fraude Imagem: Boris Vergara/EFE

Jorge Ramos

03/10/2013 00h01

A primeira coisa que notei em Enrique Capriles, o principal líder da oposição na Venezuela, é que é tão magro quanto eu e que a jaqueta que usava com as cores da bandeira ficava um pouco folgada nele.

Mas me pareceu um gesto atrevido. O ex-presidente Hugo Chávez se vestia do mesmo modo, com as cores nacionais, e Capriles não estava disposto a ceder ao caudilho morto nem a bandeira nem a herança do libertador Simón Bolívar.

Isto, entretanto, nada tem a ver com moda. A pergunta de muitos venezuelanos é se Capriles realmente tem o que é preciso para ocupar o cargo que Chávez ocupou por 14 anos e para arrebatar do atual presidente, Nicolás Maduro, o poder que roubou nas últimas eleições.

"Nós ganhamos as votações em 14 de abril", disse-me Capriles em uma recente entrevista em Miami, antes de voltar para o Estado de Miranda, onde é governador. "Foi um processo fraudado. O resultado oficial não corresponde à realidade."

Mas nem Capriles nem a oposição puderam convencer o mundo de que Maduro chegou ao poder com uma fraude maiúscula em um sistema totalmente controlado pelo chavismo. "Para ganhar as eleições na Venezuela é preciso fazer um nocaute", reconheceu. "Sempre tivemos o árbitro contra."

Muitos criticaram Capriles por não ter defendido com mais força sua aparente vitória. A deputada de oposição Maria Corina Machado foi gravada recentemente quando qualificou como um "sinal terrível" o fato de Capriles ter suspendido uma marcha de protesto três dias depois das eleições.

Mas Capriles não se arrepende da decisão. "Iam matar muita gente", disse. "Eu tinha informação de que isso ia acontecer. O governo ia gerar violência para que houvesse vários venezuelanos assassinados." Verdade ou não, a marcha não se realizou, e Maduro ficou com a presidência.

Ele é criticado por ser frágil, disse eu. Não demorou a responder: "Posso ter muitos defeitos, mas não o de ser frágil", disse. "Estou convencido de que vamos conquistar pacificamente as mudanças na Venezuela."

O dilema de Capriles é simples: ele está convencido de que ganhou. Então como tirar do poder os que lhe roubaram a eleição? Isso é o difícil.

Descarta categoricamente um golpe de Estado contra Maduro. "Não creio nas soluções militares", explicou. Mas não vai ficar de braços cruzados. "O fato de sermos pacíficos não quer dizer que sejamos covardes", disse em um discurso em Miami. Que opções lhe restam? "Uma constituinte, uma emenda à Constituição, uma anulação", disse. "Todas são opções." A longo prazo.

Capriles parece não ter pressa. E isso desespera muitos venezuelanos da oposição. Tem 41 anos e a convicção de que mais cedo ou mais tarde vai ganhar essa briga.

Capriles nasceu para ser presidente. Mas antes deve demonstrar que tem a inteligência e a força para desparafusar do poder os antigos chegados, sócios e amigos de Chávez.

Desde os 11 anos de idade, disse ele, "a política me interessava". Sacrificou tudo. Não tem mulher nem filhos. Foi eleito deputado aos 25 anos e aos 26 se transformou no venezuelano mais jovem a ser presidente da Câmara de Deputados. Passou quatro meses na prisão depois da tentativa de golpe de Estado contra Chávez em 2002, mas foi absolvido de acusações por supostamente entrar na embaixada de Cuba sem autorização - em 2006.

Perdeu a última eleição antes da morte de Chávez. E diz que Maduro a ganhou. Mas se recusa a se fazer chamar de presidente eleito. Explica: "Fui eleito pelos venezuelanos em 14 de abril e não ganhei a eleição pelo sequestro institucional que há no país".

"Não sou Andrés Manuel López Obrador", disse, referindo-se ao candidato presidencial mexicano que se autonomeou "presidente eleito" em 2006, apesar de os resultados oficiais serem contrários. López Obrador também não reconheceu a vitória do atual presidente, Enrique Peña Nieto, em 2012. Nos dois casos denunciou uma fraude. "López Obrador, longe de encontrar uma saída, entrou em uma dinâmica de anarquia. Esse não é o meu caso", disse o ex-candidato presidencial venezuelano.

Ao terminar a entrevista, Capriles me fez uma dupla previsão. "Mudar a Venezuela democraticamente e Cuba muda democraticamente." Talvez. Mas antes Capriles tem a difícil tarefa de preencher totalmente a jaqueta que usa com as cores da bandeira da Venezuela.