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Dez erros nos debates presidenciais dos EUA

Jorge Ramos

06/08/2015 00h01

A televisão ainda destrói candidatos e elege presidentes. Os jornais dão contexto, a internet desenterra esqueletos e as redes sociais salientam as tendências dos eleitores. Mas a televisão continua dominando. Daí a obsessão e preocupação dos candidatos presidenciais dos Estados Unidos com os debates televisivos.

Nesta quinta-feira, 6 de agosto, dez dos 17 candidatos presidenciais do Partido Republicano vão se enfrentar no primeiro debate televisivo da temporada. Ficar fora do debate pode significar, para muitos candidatos, o fim de suas aspirações presidenciais. Mas os que vão participar --os dez primeiros, segundo uma média de pesquisas-- poderão obter mais doações e aguentar até as eleições primárias em Iowa, em fevereiro. A televisão faz e desfaz.

Depois de mais de três décadas trabalhando na televisão e de ter visto muitos debates, estes são para mim os dez erros mais frequentes dos candidatos e a maneira de superá-los:

1. A audiência que importa é a que o vê pela televisão, e não a que está no auditório onde se realiza o debate. Orientar-se pelos gritos, vaias, olhares e silêncios das pessoas que assistem ao debate ao vivo é uma distração. Pense nos olhos que veem o debate pela televisão. Nada mais.

2. O moderador do debate não é seu inimigo. Ele é só alguém que faz as perguntas e facilita a conversa entre os candidatos. Basta discutir com os outros candidatos. Não brigue também com o moderador.

3. Faça declarações fortes, claras e curtas, que possam se transformar no que chamamos de "momentos televisivos". Estes se tornarão virais nas redes sociais. Ninguém voltará a ver o debate completo. Mas os melhores momentos serão repetidos milhões de vezes em celulares e na internet. (Foi o que conseguiu o senador Lloyd Bentsen quando disse ao jovem Dan Quayle: "Você não é Jack Kennedy". Hoje, 27 anos depois desse debate entre candidatos à vice-presidência, as pessoas ainda se lembram dele.)

4. Nunca repita uma ofensa, acusação ou insulto contra você. Se o fizer, esse será o título no jornal.

5. Se o atacarem, responda. Não há nada pior que um candidato frágil, que se esconde. Mas responda proporcionalmente ao ataque. E depois volte a sua mensagem. Essa técnica é chamada em inglês de "block and circle" (bloqueie o ataque, dê a volta e retorne a seus temas).

6. Quem se irrita, perde. Os otimistas ganham mais eleições que os irritados. Um candidato que perde a compostura e o controle deixa de ser presidenciável muito rapidamente.

7. Nunca esqueça para que você está lá. Pense em qual é a notícia que você quer ver no dia seguinte e insista em sua mensagem. Os outros farão o mesmo. Prepare uma estratégia. Mas se, de repente, as coisas mudarem é preciso ter a flexibilidade e a clareza mental para se adaptar às circunstâncias inesperadas.

8. Cuide de sua imagem. A televisão é um meio totalmente visual. Sua mensagem tem que ser acompanhada da roupa apropriada e de uma linguagem corporal muito segura. Há debates em que é mais importante a imagem que você projeta do que o que você diz. Olhe nos olhos --quer dizer, direto na sua câmera--, relaxe a língua, descontraia o rosto, solte as mãos e fique bem ereto. Sorria somente se for natural. Não há nada pior que um sorriso falso. Não seja robótico. Os robôs não ganham eleições.

9. Pratique, pratique, pratique. É normal estar nervoso. Todos os candidatos ficam nervosos antes e durante um debate presidencial. Há muito em jogo. Memorize pelo menos cinco mensagens e cinco respostas para perguntas que muito possivelmente lhe farão. Prepare não mais de 30 segundos para cada mensagem ou cada resposta. E contra o nervosismo só a prática ajuda. Os debates são as olimpíadas da política: só ganham os melhores e os mais preparados.

10. Seja você mesmo. Isto parece óbvio, mas não é. A televisão é um meio absolutamente artificial. Tudo é artificial: os microfones, as luzes, a maquiagem, o cenário. A vida não é assim. Por isso, o mais difícil na televisão é ser natural. Além disso, a televisão aumenta os pequenos detalhes. Então, não pretenda ser ninguém mais. Não finja, e use a mesma linguagem de todos os dias. A única forma de sobreviver a um debate televisivo é ser o mais parecido consigo mesmo.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves