Marine Le Pen critica formação de 'partido único' contra extrema direita, mais distante do poder na França

A França vê a tensão subir a três dias do segundo turno das eleições legislativas no país, no domingo (7), com agressões registradas em diferentes campanhas. Com as pesquisas indicando o partido de extrema direita Reunião Nacional (RN) mais distante do objetivo de chegar pela primeira vez à chefia de governo, a líder Marine Le Pen comparou a formação de uma "frente republicana" contra a sigla à criação de "um partido único" no país.

Os candidatos estão perto das últimas 24 horas de uma campanha relâmpago entre os dois turnos, realizados com um intervalo de apenas uma semana, em 501 das 577 zonas eleitorais do país. No primeiro turno, 76 deputados já foram eleitos.

Os últimos dias têm sido marcados por um aumento de confrontos verbais, mas também físicos. Na noite de quarta-feira (3), a porta-voz do governo Prisca Thevenot, candidata em Hauts-de-Seine, foi vítima de um ataque com sua equipe enquanto colava cartazes de campanha.

Na Sabóia, uma candidata do RN, Marie Dauchy, prestou queixa após ser violentamente atacada por um comerciante em um mercado. Em Isère, o ex-ministro Olivier Véran denunciou quinta-feira o ataque a um deputado local que colava cartazes para a sua campanha.

"O que aconteceu é absolutamente indescritível. A democracia não pode ser alvo de ataques e agressões", disse o primeiro-ministro, Gabriel Attal, durante uma viagem a Nevers, cidade na região central da França.

O governo antecipa a possibilidade de perturbações da ordem pública no domingo à noite: o ministro do Interior, Gérald Darmanin, anunciou que "30 mil agentes da polícia, incluindo 5 mil em Paris e nos seus subúrbios", estarão nas ruas para garantir a segurança.

Insultos xenofóbicos e racistas

Os relatos também indicam um aumento de incidentes e insultos racistas no país. Questionada sobre os diversos candidatos do RN denunciados nos últimos dias por seus comentários, particularmente xenofóbicos ou antissemitas, Marine Le Pen fez uma distinção entre "observações que são inaceitáveis ??e que, muito certamente, resultarão em sanções" e "observações que são erros" exaltados pelos "grandes inquisidores da imprensa".

Ela disse que os candidatos da sigla são "pessoas corajosas" que "concorrem porque a Assembleia Nacional deve ser à imagem da França e não à imagem da Sciences Po", defendeu, em referência à respeitada instituição de ensino superior parisiense.

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O clima tenso é alimentado pela reação à laboriosa criação de "uma frente republicana" contra o RN. Desde o resultado do primeiro turno, os partidos de esquerda e os que apoiam o presidente Emmanuel Macron buscaram combinar desistências estratégicas de candidatos nas zonas eleitorais onde seriam concorrentes, de modo a aumentar as chances de vencer os candidatos do Reunião Nacional, presentes em praticamente todas as disputas no segundo turno.

Bloco contra a extrema direita irrita RN

No total, 130 candidatos de esquerda e mais de 80 macronistas se retiraram da eleição. Marine Le Pen denunciou a criação de um "partido único" de "aqueles que querem se manter no poder", afirmando que os eleitores do RN "são tratados como párias". O presidente da sigla, Jordan Bardella - que poderia se tornar primeiro-ministro a partir de segunda-feira -, também criticou o bloco da maioria dos partidos franceses contra o Reunião Nacional.

"Assumimos as nossas responsabilidades" perante o "risco de maioria absoluta" do RN, explicou quarta-feira à noite Gabriel Attal, recusando-se a dar recomendações de voto aos eleitores.

Segundo estudo realizado pela Toluna Harris Interactive na quarta-feira, o Reunião Nacional poderá obter entre 190 e 220 cadeiras no dia 7 de julho. A Nova Frente Popular (NFP) teria entre 159 e 183, e os aliados do presidente Macron (Juntos pela República) teriam entre 110 e 135 assentos.

Nesta quinta (4), o instituto Ifop publicou outra pesquisa na qual o RN aparece com até 240 cadeiras, número mais favorável, mas ainda distante da maioria absoluta, de 289 deputados. A sondagem, encomendada pela Radio France, o jornal Le Figaro e a emissora Sud Radio, indica ainda que a Nova Frente Popular, de esquerda, obteria entre 170 e 200 assentos, o Juntos elegeria de 95 a 125 parlamentares e a direita conservadora, de 25 a 45. 

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Os resultados das últimas pesquisas têm afastado o RN da maioria absoluta da Assembleia - que abre a questão de como a base aliada poderá governar com uma "grande coligação", da qual o partido de extrema radical França Insubmissa já disse que não quer participar. Neste cenário, o Reunião Nacional e a França Insubmissa teriam, a princípio, votos suficientes para derrubar o governo com moções de censura interpostas na Assembleia.

A França "deve ser governável no domingo à noite", defendeu o secretário nacional do Partido Comunista, Fabien Roussel, dando a entender que a sua sigla poderá participar de uma coligação se corresponder "às expectativas dos franceses", em particular sobre o poder aquisitivo e revogação da reforma previdenciária.

"Não participarei de um governo que seria uma coligação heterogênea e improvisada", advertiu outra liderança da esquerda, François Ruffin.

"O que posso dizer é que pode ser bastante demorado", resumiu a ecologista Marine Tondelier, em entrevista às emissoras Europe 1 e CNews.

Com AFP

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