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A campanha presidencial francesa e o FMI

Colunista do UOL Notícias

13/05/2011 15h30

Quem segue a vida política francesa sabe os resultados constantes das sondagens: Dominique Strauss-Kahn é o candidato com mais chances de se tornar o presidente da França nas eleições de 2012.

Membro histórico do Partido Socialista, Strauss-Kahn, ou DSK, como é chamado pela imprensa francesa, é um destacado economista, ex-professor do reputado Institut d’Etudes Politiques (Science Po) de Paris, ex-deputado e ex-ministro das Finanças da França no governo socialista de Lionel Jospin. Todo o debate sobre o programa econômico da esquerda francesa gira em torno das idéias de DSK. Poliglota, DSK é também um excelente debatedor.

Segundo os comentaristas franceses foi, justamente, por temer o papel de DSK na liderança da oposição socialista que o presidente Nicolas Sarkozy apoiou sua indicação para a chefia do FMI (Fundo Monetário Internacional), em novembro de 2007. Durante algum tempo, pareceu que o presidente Sarkozy tinha feito um cálculo acertado.

Mergulhado nas suas novas funções em Washington, DSK ainda se enrolou em explicações sobre suas relações com uma funcionária do FMI. Pouco a pouco seu nome foi saindo do debate político na França. Contudo, o desencadeamento da Grande Recessão, como costuma ser chamada – para se diferenciar da Grande Depressão (1929-1933) - a crise mundial que começou em dezembro de 2007 nos Estados Unidos, trouxe para o primeiro plano o FMI e DSK. Ao lado de seu compatriota Olivier Blanchard, feito economista chefe do FMI em 2008, DSK afirma-se como um dos principais economistas da corrente neo-keynesiana que prega a regulação moderada da economia pelo Estado, a redistribuição das riquezas nacionais e a redução das desigualdades sociais.

Michel Rocard, ex-primeiro ministro da França e figura histórica do Partido Socialista francês, numa entrevista recente ao jornal "Libération", manifestou seu apoio entusiasmado a DSK. Ex-rival de Strauss-Kahn nas lutas de tendências dentro do Partido Socialista, Rocard considera agora -- uma sorte extraordinária -- dispor de DSK como candidato dos socialistas à presidência da França. Para ele, DSK é o candidato social-democrata ideal para dirigir uma economia de mercado mundializada como a da França nos dias de hoje. O apoio de Rocard é importante e certamente levará DSK a manifestar suas pretensões presidenciais na França.

No entanto, surge outro problema, levantado pelo semanário parisiense, "Le Nouvel Observateur". Próxima da esquerda francesa, a revista observa que a saída quase certa de DSK da direção do FMI causa inquietações entre os ministros das Finanças dos países da zona euro. Segundo o semanário, o FMI, que emprestou, e vai continuar emprestando, bastante dinheiro à Grécia, à Irlanda e a Portugal, tornou-se praticamente o co-piloto da política économica européia. Teme-se agora que a entrada de um diretor do FMI cujas orientações sejam mais ortodoxas do que as de DSK, resulte em imposições drásticas aos três países citados e a toda zona euro.

Na realidade, a informação do "Nouvel Observateur" tem outros prolongamentos. Como se sabe, em virtude de uma acordo tácito feito entre os Estados e a Europa no final da Segunda Guerra, os europeus ficam com a direção do FMI, enquanto os americanos dirigem o Banco Mundial. Nos últimos tempos, tanto a América Latina, como a África e a Ásia tem contestado este acordo.

Por causa disso, a notícia da revista se conclui numa frase que põe a nu os interesses europeus: "muitos gostariam de evitar a chegada (na direção do FMI) de um não-europeu ortodoxo, que impusesse ao Velho Continente as receitas (econômicas) brutais impostas no passado à Ásia ou à América Latina".

Como se vê, o argumento é frágil e só serve para defender, sob a capa do combate à ortodoxia econômica, a manutenção do controle europeu sobre a direção do FMI.