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Cúpula do G8 enfrenta impasse sobre condução da crise na Líbia e Síria

Colunista do UOL Notícias

28/05/2011 07h00

Como toda reunião internacional importante, a cúpula do G8 que se reuniu nesta semana na elegante estação balneária de Deauville, na região da Normandia, na França, teve três etapas distintas.

A primeira se refere ao que foi dito e sugerido antes mesmo da reunião começar. Assim, as capitais europeias seguiram com atenção as declarações do presidente Obama durante sua visita à Irlanda e à Inglaterra no começo da semana.

Na Irlanda, Obama agiu de maneira afetiva, lembrando seus ancestrais maternos originários deste país e os outros 40 milhões de americanos que também descendem de irlandeses.

Em Londres, o tom foi mais político. No seu discurso em Westminster Hall, diante dos membros do Parlamento e da elite política britânica, o presidente americano celebrou a “relação especial” entre os Estados Unidos e o Reino Unido. Seu discurso centrou-se no elogio das virtudes políticas anglo-americanas que “formaram” o mundo democrático. A reafirmação da aliança anglo-americana é vista com certo ressentimento em Berlim, em Paris e, mais frequentemente, na União Europeia, sobre a qual Obama nada disse na sua passagem em Londres.

Obviamente, Obama também levou em conta o fato de que David Cameron fica no governo até 2015, e será um interlocutor frequente nos próximos anos, enquanto Nicolas Sarkozy está arriscado a não ser reeleito em maio de 2012 e Angela Merkel dirige um governo de futuro incerto.

A segunda etapa da cúpula diz respeito aos assuntos que não foram registrados no comunicado final do G8, mas foram discutidos pelos diplomatas e dirigentes dos oito países. Malgrado a advertência severa lançada a Gaddafi, nada se escreveu sobre a criação de uma zona de exclusão aérea (“no fly zone”) sobre a Líbia, nem se tomou nenhuma medida concreta contra o ditador da Síria, que continua reprimindo as manifestações populares.

Segundo os especialistas, a Rússia, oposta ao endurecimento das ações militares contra Gaddafi e aliada do regime do president Assad na Síria, bloqueou as ações mais duras do G8 contra os dois ditadores.

No que concerne a crise do Oriente Médio, o comunicado final da cúpula de Deauville evitou a referência às fronteiras de 1967 como linha de separação entre Israel e um futuro Estado palestino. Como se sabe, o recente discurso de Obama, tomando a linha de demarcação de 1967 como base para as negociações entre Israel e os palestinos, irritou profondamente o governo israelense. Próximo das reivindicações israelenses, o governo do Canadá travou a menção às fronteiras de 1967 no comunicado final do G8.

Enfim, aparecem os elementos concretos do comunicado final. O principal deles é o apoio ao movimento de democratização no mundo árabe e o anúncio de uma ajuda multilateral de US$ 20 bilhões para consolidar a transição democrática na Tunísia e no Egito.

No total, o balanço da cúpula parece limitado e pairam dúvidas sobre o futuro do G8. Segundo o jornal “Le Monde”, o presidente Obama, que hesitou a comparecer na reunião de Deauville, não confirmou a realização da próxima cúpula, que deverá ser organizada em 2012 pelos Estados Unidos.